Quando Miguel Ângelo, Houdon ou Machado de Castro concebiam uma
escultura, o pedestal era parte essencial desta. Só depois de realizado, o
artista dava a obra por terminada. No fim do século XIX, com a chegada do Realismo,
muitos escultores abandonaram o pedestal para aproximar sua obra do homem
comum. De Rodin e Brecheret a Brancusi e Moore, a base foi ficando quase
sempre, senão dispensável, pelo menos reduzida a um simples cubo. Assim mesmo, o
pedestal continua sendo considerado importante por muitos artistas para complementar
a leitura de certas peças.
Em Salvador, quando da inauguração do shopping Iguatemi, um
belíssimo bronze de Carybé foi colocado na entrada principal do edifício.
Representava uma mulher com criança pousada na anca, uma enorme pedra
arredondada servindo de base. Conforme Solange, filha do artista, me contou
anos depois, o pai tivera muito trabalho para escolher a pedra e ainda mais
para trazê-la até o local, não restando a menor dúvida sobre a importância que
esta peça representava para Carybé. A esfera simbolizando, sem dúvida, a
universalidade da Maternidade. Com que direito a administração do centro
comercial se permitiu, quando reformou a fachada do imóvel, retirar a imponente
bola de pedra, rebaixando a escultura ao nível do minúsculo gramado, asfixiada
no intenso movimento do trânsito? Em outra sociedade, os herdeiros teriam processado
a empresa.
Agora mesmo surge um novo exemplo de atentado a uma obra de
arte. E não por uma empresa qualquer, mas pela atual administração municipal
que demonstra, mais uma vez, pouca afinidade com a cultura e a memória.
Em 1920, o escultor italiano Pascoale de Chirico inaugurou na
Barra uma obra celebrando Jesus O Salvador. A imagem assentava-se sobre “uma formação de
cristais de rocha” talvez lembrando o Monte das Oliveiras. A cuidadosa
colocação das pedras passava a ideia de um monólito irregular.
Anos mais tarde
esta base foi substituída por pesado bloco de concreto revestido de mármore
preto. O que já era uma aberração. Mas a prefeitura ACM Neto conseguiu inovar
na contramão da estética e do bom senso, na ânsia de transformar a primeira
capital do Brasil em vilarejo da Flórida, já que é impensável algum edil ousar
tão absurda iniciativa no centro da próspera Miami.
Quem assinou tamanha aberração? Pode lembrar, conforme a
imaginação de cada um, uma seringa, um elevador panorâmico de shopping ou uma
porta torniquete de banco. Pelo que dizem as más línguas das redes sociais, um
dos vidros já estaria quebrado. Seu Prefeito! Não tem ninguém lá dentro que
tenha um mínimo de desconfiômetro? E sua equipe vai continuar massacrando a
cidade sob pretexto de modernização?
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