Oposição assiste atônita ao derretimento de Jair Bolsonaro
Rapidez da crise pegou o campo ainda desunido após racha eleitoral e incapaz de evitar solução Mourão ou parlamentarista
PCdoB, PDT, PSB, PSOL e PT não enxergam sindicatos, estudantes e movimentos sociais em geral capazes de impedir, neste momento, que um pós-Bolsonaro seja desenhado apenas em Brasília. Em outras palavras, chance zero de nova eleição. Nem mesmo os protestos estudantis de 30 de maio e a greve geral planejada para 14 de junho mudariam isso, em caso de sucesso.
Dirigentes petistas discutiram a crise na terça-feira 21 e apostam que o desfecho mais provável para a enrascada de Bolsonaro é à la Jânio Quadros. Para quem um dia pensou em explodir bombas por aumento salarial, renunciar não parece uma opção. O ex-capitão teria de ser forçado a sair, crê o PT, e para isso seria usado o caso Fabricio Queiroz-Flavio Bolsonaro, uma ameaça ao clã presidencial.
A oposição sente-se impotente para liderar as ruas, e com isso influenciar Brasília, devido ao fato de Bolsonaro perder força política rápido demais, sem ter havido tempo de os progressistas superarem as sequelas do racha eleitoral. “O governo desmorona não por ação nossa. O Bolsonaro se tornou disfuncional para a direita, para os bancos, para os militares”, diz um petista graúdo.
O ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT, bate sem parar em Lula. Se bem que a visita do chefe pedetista, Carlos Lupi, ao prisioneiro na quinta-feira 23 fosse um gesto a desautorizar as bordoadas.
O PCdoB, que preferia ter apoiado Ciro, não o petista Fernando Haddad, faz jogo duro com o PT. E até topa se aproximar de setores direitistas, vide a boa relação de sua bancada de deputados com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O PSB deu apoio envergonhado a Haddad, preferia ter lançado a candidatura de Joaquim Barbosa e agora volta a namorar o ex-juiz do Supremo Tribunal Federal (STF). Convenceu-o a participar de debates internos.
O racha e as diferenças não impedem, contudo, esforços por entendimento. Na quarta-feira 22, os presidentes de PDT (Lupi), PSB (Carlos Siqueira), PSOL (Juliano Medeiros), PT (Gleisi Hoffmann) e o vice do PCdoB (Walter Sorrentino), reuniram-se em Brasília, no PSB, a fim de achar interesses comuns, como a resistência à agenda impopular e ultraliberal do governo.
Decidiu-se tentar montar uma espécie de frente com CNBB (igreja), OAB (advogados), SBPC (cientistas), Andifes (reitores), centrais sindicais, UNE, MST e MTST. Resolveu-se ainda pedir uma audiência ao presidente do STF, Dias Toffoli, para falar da crise.
A libertação de Lula é vista no PT, com certa concordância dos outros partidos, como capaz de organizar a oposição. Mas Toffoli não quer pôr em votação já a ação contra prisões em segunda instância. Daí que Lula livre, só em setembro, quando o petista fará jus ao regime semiaberto no caso do triplex. A menos que até lá seja sentenciado de novo, agora pelo sítio de Atibaia.
Em conversas reservadas com empresários e militares, o ministro José Múcio Monteiro, do Tribunal de Contas da União (TCU), tem dito que a salvação do Brasil está em Curitiba e chama-se Lula. Para ele, a notícia política mais importante do ano foi a do namoro do ex-presidente. Mostra que o petista está vivo e ativo, com sangue nas veias.
Após a publicação desta reportagem, a assessoria de imprensa do TCU disse em nota que Múcio “não participou de conversas com militares ou empresários para tratar de solução política para o Brasil.
O Exército é responsável por Lula acuar o STF e impedir a soltura de Lula no ano passado. Uma quase confissão feita em novembro de 2018, na Folha, pelo então chefe do Exército, general Eduardo Villas Boas, hoje assessor especial no GSI, órgão de inteligência do governo.
O PT escalou o senador pela Bahia Jaques Wagner para sondar oficiais das Forças Armadas. Wagner foi ministro da Defesa em 2015, início do natimorto segundo mandato de Dilma Rousseff.
Recentemente, o ministério da Defesa propôs a assessores técnicos do PT no Senado uma reunião sobre reforma da Previdência. Queria entender as críticas à reforma da Previdência proposta por Bolsonaro. Um gesto visto como uma abertura, ainda que seja mínima, para algum tipo de diálogo.
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