domingo, 11 de agosto de 2019

O MENINO FELIZ

Adotado por pais homossexuais, menino escreve redação sobre ser ‘a criança mais feliz do mundo’

Em entrevista ao G1, casal diz que pretende adotar mais três crianças. João afirma que 'ama muito sua nova família'.


Fernando e Marcelo adotaram João no ano passado — Foto: Arquivo pessoal

A professora de uma escola pública em Ferraz de Vasconcelos (SP) pediu que os alunos fizessem uma redação sobre como seria a vida do menino mais feliz do mundo. Poderia ser uma criança que soubesse voar, que tivesse superpoderes ou qualquer fantasia. João Vitor, de 11 anos, escreveu sobre ele mesmo.
Ele foi adotado por um casal homossexual, depois de viver em um orfanato por um ano e meio. “Nós brincamos, nos divertimos, sentimos dor e choramos juntos. Nós três somos felizes e amamos uns aos outros”, diz o texto de João.
Fernando Luiz, um dos pais da criança, compartilhou a redação no Facebook e recebeu mais de 37 mil curtidas e 10 mil compartilhamentos. Ele conta que soube do texto junto com o companheiro, Marcelo Pereira, após João perguntar “se a lição tinha ficado boa”. “Caímos no choro, desabamos quando João leu em voz alta”, diz.
Leia a redação de João:
“Uma vez eu morava só com meu pai, e um dia ele morreu e ninguém me quis, daí eu fui morar num orfanato. Passou muito tempo eu conheci dois pais homem que gostaram de mim eles me adotaram e partir desse dia eu me fiquei muito feliz. Eu amo muito esse dia esse dia nesse dia que conheci eles estou vivendo muito bem, muito feliz com eles, eles me amam e eu amo eles.
Nós brincamos nos divertimos, sentimos dor e choramos juntos, e nós três somos felizes e amamos uns aos outros. Eu ser adotado eu não tenho vergonha e amo muito eles e minha outra família que eu tinha não me amava e eu era triste, mas essa família eu sinto que me ama e eu vou dar muito valor a ela, porque eu amo muito ela.
O menino mais feliz do mundo chama João sou eu.
De João para meus dois pais homem que eu amo muito."

Abandono

O casal conheceu João no dia 9 de fevereiro de 2016, quando o garoto tinha 10 anos – a habilitação para que a adoção fosse liberada havia acabado de sair, após um ano de espera. Fernando e Marcelo buscavam crianças de até 8 anos. “Ele não se encaixava no perfil que tínhamos traçado. Mas conversamos com a assistente social e topamos conhecê-lo no orfanato”, relembra. “Ele era triste, calado, não mostrava expressão. Mas nos emocionamos com a história dele e percebemos que ele queria carinho”, afirma Marcelo.
João estava no orfanato por ter sofrido rejeição da família biológica. “Ele é órfão de pai. A mãe é viva, mas é usuária de drogas. Nenhum dos sete irmãos adultos que ele tem quis assumi-lo. Ele chegou a dormir na rua, até que uma vizinha chamou o conselho tutelar”, conta Marcelo.

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