Nossa teocracia miliciana: quem é o aiatolá? Bolsonaro ou Edir?
"Os evangélicos fundamentalistas neo pentecostais, antigamente chamados de “crentes”, já mandam mais no governo e no país do que os militares, de quem o presidente vem se afastando e vice-versa", pontua Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia
Teocracia (do grego Teo: Deus + cracia: poder) é o sistema de governo em que as ações políticas, jurídicas e policiais são submetidas às normas de algumas religiões. O poder teocrático pode ser exercido direta ou indiretamente pelos clérigos de uma religião (Wikipédia).
Edir Macedo e sua turma tinham um projeto de poder e chegaram lá com Bolsonaro, antes do que eles poderiam imaginar.
Está tudo no livro do jornalista Gilberto Nascimento: “O reino: a história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal” (Companhia das Letras), que acaba de ser lançado.
Os evangélicos fundamentalistas neo pentecostais, antigamente chamados de “crentes”, já mandam mais no governo e no país do que os militares, de quem o presidente vem se afastando e vice-versa.
São os exércitos dessas igrejas que estão recolhendo assinaturas para o novo partido do capitão-presidente, a Aliança pelo Brasil.
No fim de semana, no Rio, centenas de ônibus vindos de todas as cidades fluminenses congestionaram o transito perto dos templos onde eram recolhidas assinaturas.
Resta saber quem é o verdadeiro aiatolá e quem é o laranja nessa teocracia miliciana instalada no Brasil.
Com o Congresso e o Executivo dominados, resta agora apenas conquistar o STF, para onde Bolsonaro já ameaçou mandar um “ministro terrivelmente evangélico”.
Para virar um aiatolá completo, só falta o capitão deixar crescer a barba. Edir já fez isso.
O culpado, claro, é o PT, que obrigou os eleitores a votar em Bolsonaro e alimentou o ódio silencioso dos “isentões”.
Elegeram um presidente ligado às milícias cariocas e a variadas igrejas, que quer transformar o Brasil num grande Irã, sob a inspiração do bispo Edir e da plêiade de templos que não param de brotar por todos os cantos do país.
Duas cartas de leitores publicadas hoje na Folha, sob o título Lobby de igrejas, chamam a atenção para o fenômeno teocrático-miliciano.
“Interessante a posição das igrejas tentando eliminar a possibilidade de pagar impostos (“Igrejas fazem lobby com Bolsonaro para evitar taxas e desafiam plano de Gudes”, Mercado, 11/1). Vemos igrejas semeando templos luxuosos por todo o Brasil, sem que contribuam para o equilíbrio fiscal (…)” – Antonio Dilson Pereira (Curitiba, PR).
“Igrejas, templos, etc., sob o ponto de vista do Estado laico, são negócios e organizações como quaisquer outros. Tem que pagar conta de luz e imposto (…)” – Antonio de Oliveira (Vila Velha, ES).
Em apenas um ano de governo Bolsonaro, na prática, o Brasil deixou de ser um Estado laico, sem que tenha sido mudada a Constituição.
Impossível viajar para qualquer biboca desse país sem encontrar templos suntuosos ou mini-igrejas nas garagens dos pastores, muito mais do que botecos e farmácias.
Deve mesmo ser um bom negócio. Com as mais diferentes denominações, novas igrejas são abertas todos os dias e o país já nem sabe mais quantos pastores e bispos recebem dízimos do gado de fiéis bolsonaristas.
Essa contabilidade é secreta porque eles já estão isentos de pagar impostos e taxas como os simples mortais, e agora querem que o governo pague também suas contas de luz.
Juntando-se essas milícias clericais, às digitais e àquelas armadas até os dentes com licença para matar, chegamos cada vez mais perto do Irã e mais longe da civilização.
Acho que a maioria das pessoas ainda não se deu conta do perigo que estamos correndo nas mãos dessa gente ignara e belicosa, sem noção e sem limites, que está nos levando para o buraco.
Se, em algum momento, eles não forem barrados em sua ofensiva contra a democracia, nunca mais teremos eleições livres no Brasil pois a luta é muito desigual.
Basta dar uma navegada pelas redes sociais. Todos os dias recebo no Facebook pedidos para participar de “grupos sugeridos”, todos eles de bolsonaristas e moristas, em campanha permanente.
Veio convite até da “doutora Damares” e do Álvaro Dias. Seus seguidores são milhares, milhões, e se multiplicam como coelhos soltos no mato.
Os parâmetros legais do Estado de Direito estão indo para o espaço e todo mundo finge que tudo continua normal.
Leiam o livro do Gilberto Nascimento para ver como o “reino” se formou e aonde quer chegar.
Se alguém ainda tiver alguma dúvida, pode assistir também ao documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, que mostra o golpe de 2016 por dentro.
A boa notícia é que hoje o filme da Petra foi indicado para o Oscar, o que já colocou o gado das milícias em polvorosa.
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