terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

AO MEU MESTRE, COM CARINHO*

Ygor da Silva Coelho

A imagem pode conter: céu, casa e ar livre

Trinta e sete anos de trabalho na Embrapa e chegava a semana da minha aposentadoria. Quem ocuparia a sala privilegiada, com vista para o verde gramado, onde trabalhei os últimos anos? Eu não sabia, mas silenciosamente, como acho que deve ser, contratei um profissional, pintei a sala no branco neve original, arrumei a fechadura, busquei novas cadeiras, coloquei as chaves num chaveiro adequado e entreguei ao SRH.

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Aprendi com o saudoso Chefe Archimar Bittencourt Baleeiro a zelar pela instituição, antes ainda de ser Embrapa. Chamava-se Instituto de Pesquisas Agropecuárias do Leste (IPEAL). Anualmente, ele obtinha recursos para a manutenção do prédio sede, da biblioteca, laboratórios, hospedaria, residências internas, açude, cercas… Se víamos uma movimentação extra, maior do que a de costume, prevíamos que se fazia um refinamento na faxina da instituição para receber alguma visita importante: um embaixador, grupo de reitores, comitiva da FAO/ONU ou autoridades de países vizinhos. A instituição era um brinco e estes exemplos nos ficam. Por isto, enquanto estive na Embrapa, não podia ver um copo plástico, um papel, um maço de cigarro jogado numa das vias internas da empresa. Agachava-me e apanhava. Durante um tempo, fui Chefe-adjunto e os meus subordinados me alertavam:
- Você é Chefe, não cate lixo no chão! Mas eu fazia que não ouvia.
Por conta do exemplo de Archimar Baleeiro foi que deixei a minha sala nova em folha. E antes de girar a fechadura pela última vez, ajoelhei, fiz orações e agradeci! Uma vida profissional inteira entre as paredes da Embrapa.

A imagem pode conter: planta, árvore, ar livre e natureza

Ontem visitei a minha outra instituição, esta em Salvador. Também devo-lhe tanto, querida Universidade Federal da Bahia! Mas o que se passa? Se a minha geração teve Archimar B. Baleeiro na Embrapa como exemplo, as sucessivas gerações da UFBA tiveram Edgar Santos, Miguel Calmon, Lafayette Pondé, Roberto Santos, Heonir Rocha, José Rogério Vargens, Germano Tabacoff… Tanta gente ilustre! Orgulho para a Bahia.

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Mas, será meu Deus, as lições dos Mestres, Magníficos Reitores, não chegaram às gerações atuais? A visita que fiz à UFBA me deixou preocupado. 

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Sim, faltam verbas, mas é tão alto o custo de recolher o lixo, os restos de impressoras, replantar uma árvore, controlar formigas, retirar a lenha e tronco de uma mangueira morta? 

A imagem pode conter: planta, ar livre e natureza

Para mim, aluno desta mesma gloriosa UFBA, nos anos 60/70, teria sido desestimulante me deparar a cada dia, antes da aula, com o cenário que ontem vi. Felizmente, no passado, não era assim! A minha Escola de Agronomia da UFBA era linda!

A imagem pode conter: sapatos e ar livre

É possível que a UFBA caminhe bem nos seus propósitos acadêmicos. Mas quem passa ao largo, como passei, não tem boa impressão.

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Trago em mim a grata lembrança de uma outra condição da UFBA! Outros tempos! Espero que voltem! A UFBA tem muitas tradições...
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(*) Texto dedicado ao Mestre Eng°Agr°Archimar Bittencourt Baleeiro.

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