quarta-feira, 30 de março de 2022

UM ESCRAVO TALENTOSO

 2020 Estados Unidos

Um objeto está sendo vendido num leilão de arte. Muitos são

 os interessados.


Não se trata de um quadro do Van Gogh ou Rubens, mas de

 um jarro de cerâmica. A peça, executada no século XIX por

 David Drake, um escravo com apelido de “O Poteiro”, é

 grande, bela e de alto nível técnico.


Drake trabalhava suas peças à mão, passando depois um


 verniz para dar brilho. Como em certas cerâmicas


 tradicionais


 do Japão, não hesita em deixar irregularidades.


Na Carolina do Sul, sua virtuosidade é famosa. Muitos vêm


 admirar seu “toque mágico”.



Naquela época muitos escravos trabalhavam nas fábricas de


 produção de cerâmica. 



Mas se o Dave fascina os museus é porque ele é o único a


 assinar suas peças. E mais: ele chega a escrever poemas


 com muito espírito na borda dos potes. Ato muito arriscado,


 já que os escravos são proibidos de ler ou escrever.


Estudantes negros proibidos de entrar na escola


 Poderiam pensar em revolta. Portanto, para o artista, assinar


 e escrever poesias é um ato de resistência.


Por meias-palavras, David Drake evoca o sofrimento de sua


 condição. “Me pergunto, onde desapareceram todos meus


 amigos”. Ele conclui, porém, “Amizade para todos e para


 todas as nações”.




O artista teve razão em não desesperar. Chega a abolição da


 escravatura e termina sua vida liberado de suas correntes.


 Deixou uma vasta obra com poemas que testemunham de


 sua coragem. Hoje, objeto de desejo dos museus.

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