2020 Estados Unidos
Um objeto está sendo vendido num leilão de arte. Muitos são
os interessados.
Não se trata de um quadro do Van Gogh ou Rubens, mas de
um jarro de cerâmica. A peça, executada no século XIX por
David Drake, um escravo com apelido de “O Poteiro”, é
grande, bela e de alto nível técnico.
Drake trabalhava suas peças à mão, passando depois um
verniz para dar brilho. Como em certas cerâmicas
tradicionais
do Japão, não hesita em deixar irregularidades.
Na Carolina do Sul, sua virtuosidade é famosa. Muitos vêm
admirar seu “toque mágico”.
Naquela época muitos escravos trabalhavam nas fábricas de
produção de cerâmica.
Mas se o Dave fascina os museus é porque ele é o único a
assinar suas peças. E mais: ele chega a escrever poemas
com muito espírito na borda dos potes. Ato muito arriscado,
já que os escravos são proibidos de ler ou escrever.
Poderiam pensar em revolta. Portanto, para o artista, assinar
e escrever poesias é um ato de resistência.
Por meias-palavras, David Drake evoca o sofrimento de sua
condição. “Me pergunto, onde desapareceram todos meus
amigos”. Ele conclui, porém, “Amizade para todos e para
todas as nações”.
O artista teve razão em não desesperar. Chega a abolição da
escravatura e termina sua vida liberado de suas correntes.
Deixou uma vasta obra com poemas que testemunham de
sua coragem. Hoje, objeto de desejo dos museus.
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