sexta-feira, 18 de março de 2022

SOBRE O PODER NA BAHIA

Por JUCA FERREIRA

João Leão é filiado a um dos partidos que disputam a hegemonia da direita nacionalmente e que querem substituir o bolsonarismo inorgânico por uma direita que conhece os padrões institucionais sem os arroubos da necropolitica explícita do presidente e seus fiéis.
Ele está vendo uma crise política acontecer e pressentindo a possibilidade do fim da hegemonia do PT no Estado e a ascensão do grupo articulado por ACM Neto. Não tem porque continuar preso a um compromisso passageiro e deixar de pegar uma carona no bonde de Neto. Seus interesses vão em outras direções e ideologicamente o movimento faz sentido e tem coerência.
Para ele a hora é essa…
Se tivessem atendido suas pretensões de virar governador, seria outra conversa..
Continuo sentindo que estamos vivendo o fim de um ciclo político que foi montado em cima de um conceito frágil, circunstancial. Tático, que responde ao imediato sem apontar para mudanças de médio e longo prazo, desses que precisam, para ter continuidade, que o vento continue soprando à favor e de muito marketing.
Lula, como principal eleitor da Bahia, ainda pode fazer um milagre, mas, mesmo com uma vitória eleitoral induzida pela força de Lula, não nega que o esquema político está trincando e se exaurindo.
Se Wagner fosse o candidato ao governo e tivesse energia e vontade para mudar os rumos do PT na Bahia, teríamos chances de viver em seu novo possível governo um ponto de mutação sem trauma, uma retomada e renascimento de um projeto democrático de centro-esquerda no Estado, sem um interregno de uma crise política e uma alternância no governo com os adversários.
Base social existe, em Salvador e em todo o Estado, fiel e que ainda espera uma vitória nas próximas eleições em outubro.
Na Bahia as pessoas aprontam e depois dizem que é tudo combinado com Lula …
Já corre o rumor em Salvador que a defecção de Leão foi combinada com o ex-presidente.
O projeto de poder que veio ganhando as quatro últimas eleições no Estado é desconectado de um projeto político para a melhoria da qualidade de vida dos baianos e baianas, da qualificação das relações sociais e de um política econômica para a Bahia coerente com um programa de centro esquerda e com o que o PT e a esquerda que vem dando sustentação aos governos de Wagner e Rui significam.
A maneira e a natureza do fazer político na Bahia é uma herança do Senador que mandou na Bahia por décadas e deixou uma cultura política para quem quisesse. E parece que todos queriam e querem e não conseguem visualizar outra maneira de se comportar e se mover politicamente..
Esse carlismo difuso é menos atrabiliário e autoritário do que o original, mas no modelo e modo de fazer política os governistas são mais carlistas do que petistas. A cultura e a cartilha a que recorrem não tem origem no ideário da esquerda.
É incoerente que um governo liderado pelo PT tenha a educação, a cultura, o meio-ambiente e a segurança pública sofríveis como são as nossas na Bahia. E não é por acaso, é da natureza mesma do projeto, de como ele se estrutura, suas prioridades etc... Como se o projeto tivesse uma escoliose que tivesse deixado a espinha dorsal inclinada para a direita.
Acho que o ciclo está se extinguindo por exaustão, teimosia e um inercial forte. Não conseguem se relacionar com as críticas, mesmo as que procuram abrir novos caminhos e evitar o abismo.
A não ser que algo novo e inusitado aconteça e a ficha caia para nossos dirigentes, ficaremos a depender da força de Lula e do marketing da campanha.

COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO.

Conheço o Juca desde os tempos de vereador. Cheguei a trabalhar com ele no projeto da
Associação Antipoluição de Salvador quando era o dinâmico secretário municipal de Meio Ambiente. Depois, nos bastidores do Gilberto Gil e durante mais quatro anos, foi um excelente Ministro da Cultura. Um dos muito erros do Rui Costa é de não ter aproveitado a oportunidade de termos um secretário estadual de Cultura digno da Bahia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário