quinta-feira, 17 de março de 2022

LEMBRANDO ARY DO CAVACO

 

Minha campanha pela leitura “Pegue um livro / Deixe um livro” acaba de festejar seu segundo aniversário. Cada manhã coloco livros e revistas na grade de uma janela do térreo e de noitinha guardo o que sobrou. Após ter sacrificado parte de minha biblioteca para tanto, amigos e desconhecidos foram fartamente contribuindo. Claro que tenho que fazer um mínimo de seleção, pois de tudo um pouco recebo. De pornografia a panfletos evangélicos, passando por revistas de decoração dos anos 60, catálogos de impressora e dicionários incompletos. Mas os bons livros e os bons autores são a maioria. Não é raro eu mesmo levar um título interessante, devolvendo-o após leitura.

Princípio de março, foram deixados vários folhetos informativos sobre as riquezas do patrimônio cultural da Bahia. Notável, a qualidade da impressão, das fotografias e dos textos. A maioria datada de 2010 e 2013.

O total desconhecimento destas publicações me levou a formular uma pergunta: Onde foram divulgados estes folhetos, logicamente destinados aos turistas? Tendo duas suítes na minha casa que costumo alugar pelo AirBnB, vou com frequência aos balcões do Estado e da prefeitura destinados a atender os visitantes para abastecer a mesa de cabeceira de meus hóspedes. A indigência em matéria de informação impressa costuma ser deprimente. Raramente se consegue um mapa e nunca se sabe os horários exatos dos museus. Então, para que servem estes misteriosos folhetos? Como qualquer leitor, chegarei à conclusão que o intuito não era contribuir para o turismo, mas de ajudar um programador visual, um fotógrafo, uma gráfica ou simplesmente alguém meter uma comissãozinha no bolso, que a vida é dura para todos e esta grana é pública, portanto, de ninguém.


Na época do Escritório de Referência, de triste memória, cuja maior contribuição foi a invenção do termo “Centro Antigo”, sabe-se que foram editadas duas luxuosas publicações. Uma pesquisa sobre o centro histórico de Salvador, cujos exemplares devem estar a mofar em algum almoxarifado. Obsoleta em poucos meses, não serviu para nada. E um guia bilíngue da capital –português e espanhol – destinado aos estudantes andaluzes que deveriam vir moram numa ruína da Rua do Tesouro. Você teve oportunidade de ver o guia? E o imóvel entre as ruas da Ajuda e Rui Barbosa, alguém já se hospedou nele? 

Mas a responsável foi pelo menos duas vezes a Sevilha, comeu churros e tapas com nosso tutu e tudo ficou por isso mesmo.

O grande, o imenso problema de nossa sociedade é o dinheiro público ser jogado na sarjeta ou usado para comprar whisky, picanha e camarões. Alguns reclamam durante uns dias e não se fala mais no assunto. O Ary do Cavaco até criou um hino para esta gente: Se gritar pega ladrão...

 

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