E DA POSTERGAÇÃO
O último capítulo da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) é reprise de prática comum no Brasil.
Avesso ao ponto final, o país procrastina respostas e providências. Deixa para depois o que precisa ser feito agora. A nação paga alto custo pela inércia e postergação. A RFFSA serve de exemplo. Extinta em 2007, continua viva até hoje.
Milhares de locomotivas e vagões se encontram abandonados em pátios de estações de trens sem perspectiva de aproveitamento. Muitos viraram ou estão em via de virar sucata. Nem o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), herdeiro do acervo, tem condição de dar informações seguras sobre o patrimônio - o número de peças e o respectivo estado de conservação.
Só com a conclusão do inventário será possível jogar luz sobre a realidade. É aí que reside o xis da questão. Anualmente adia-se o prazo de finalização. Em 2007, criou-se a Inventariança da Extinta RFFSA, vinculada ao Ministério dos Transportes, para assumir a tarefa. O órgão - com sede no Rio de Janeiro e representação em 13 unidades da Federação - até agora abocanhou dos cofres públicos o montante de R$ 150 milhões, média de quase R$ 17 milhões por mês.
O custo, porém, não se traduz em eficácia. Ano após ano, o setor pede extensão de prazo. Em 2016 não foi diferente. A Portaria 19, de 14 de janeiro, fixou a data de 31 de dezembro para entregar o documento. Para evitar nova frustração, um grupo de trabalho tem até o fim de março para definir o cronograma e adotar medidas para conclusão do inventário. Especialistas duvidam do êxito da iniciativa.
Além de o Brasil ter desistido de investir em ferrovias, o mais preocupante é o desperdício de patrimônio e conhecimento. Tudo o que foi adquirido em 50 anos de existência oficial da RFFSA, de 1957 a 2007, foi deixado de lado. Até para empresas de reciclagem é complicado reaproveitar o material abandonado por pátios e trilhos, já que a retirada necessita de corte, transporte e equipamentos especiais.
É importante que se apurem responsabilidades e se dê destinação ao entulho. O momento é especialmente grave. Com a crise econômica, quando faltam recursos para despesas essenciais, não se pode prolongar indefinidamente o enterro de cadáver de tão alto custo para o erário. Não só. O maior vilão da saúde pública brasileira se chama Aedes aegypti. A sucata acumulada é local ideal de reprodução para esse vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya.
Créditos: "Diário de Pernambuco"
Nenhum comentário:
Postar um comentário