Athos Bulcão é homenageado em segundo volume do projeto Mestres cobogós
Projeto Mestres Cobogós lança segundo volume da coleção, que aborda o artista que construiu uma obra indivisível da cidade
O vento sopra por entre os prédios, corre livre pelos pilotis e encontra, nas frestas dos cobogós, uma entrada para arejar a vida na capital. O pequeno tijolo vazado achou, aqui, espaço na arquitetura e no imaginário dos moradores. Não à toa, Ana Maria Lopes e Marcia Zarur, do coletivo Maria Cobogó, que carrega a peça no nome, lançam nesta quinta-feira (29/9), o segundo volume do projeto Mestres cobogós, em homenagem a grandes artistas que vivem nos detalhes da cidade. Desta vez, o protagonista do livro infantojuvenil é Athos Bulcão. O lançamento ocorre na Fundação Athos Bulcão, na 510 Sul, a partir das 18h.
Assim como o cobogó, Brasília é recheada de minúcias que podem passar despercebidas ao olhar desatento. Tendo isso em vista, o coletivo de escritoras Maria Cobogó decidiu produzir material que fizesse justiça aos artistas que, como figuradas vigas de concreto exposto, ajudam a sustentar a história da jovem capital. O projeto Mestres cobogós apresenta, em livro, a trajetória destas personalidades. O coletivo mira no público infantojuvenil para colher futuros adultos munidos de educação artística sobre a cidade em que moram. O primeiro volume apresentou o artista visual Glênio Bianchetti. Agora, Athos Bulcão ocupa o primeiro plano.
"O projeto visa dar visibilidade às figuras que fizeram Brasília mais bonita do que já é", conta Ana Maria Lopes, coautora do livro e uma das cinco escritoras do coletivo Maria Cobogó. A jornalista nasceu no Rio de Janeiro, mas se considera a mais brasiliense das cariocas. Como ela, Athos Bulcão também nasceu na Cidade Maravilhosa, mas escolheu Brasília quando ainda era apenas uma ideia na cabeça de Lúcio, Oscar e Juscelino. Por aqui, viveu de 1958 a 2008, quando morreu em decorrência das complicações do Parkinson. Nesse meio século, tratou de espalhar pela cidade a arte que produzia. Hoje, é impossível desvencilhar os dois. Do aeroporto à Universidade de Brasília, passando pela Igrejinha da 308 Sul, é possível criar um roteiro que surfa pelos coloridos azulejos do artista enquanto cruza a cidade em sua totalidade.
Em um mergulho no universo de Athos, Ana Maria e Marcia se municiaram de entrevistas, reportagens e conversas com amigos para remontar, mais do que o artista, o homem que foi Bulcão. Valéria Cabral, na condição de representante da Fundação Athos Bulcão, foi de imensa ajuda, segundo Ana Maria. As camadas da figura mítica rapidamente foram descascadas em um senhor que tomava chá, pontualmente, sempre às 17h, e adorava sorvete de creme. Além dos pormenores cotidianos, há a camada poética, como a emoção que Athos teve ao presenciar o céu de Brasília pela primeira vez porque o lembrava do céu que avistava, quando criança, do hospital onde a mãe morreu. "Nós vimos como era a sensibilidade do artista", conta.
Ambos os volumes da coleção contam com um encarte pedagógico escrito pela psicopedagoga Solange Cianni. O suplemento gera interatividade e reafirma o desejo da dupla de imprimir um viés educativo nos livros. Ana Maria acredita que a educação cultural nas escolas brasileiras ainda é precária, mas vê com otimismo o impacto do livro nesse aspecto: "Tudo que houver a mais em nome da cultura é lucro. Para ajudar o crescimento da formação de leitores, de novos artistas, de outros olhares. E ensinar a olhar é muito importante".
Para assegurar que o livro chegue à mão das crianças, 500 exemplares serão disponibilizados nas bibliotecas das escolas e doados aos estudantes do CEF 1 no Cruzeiro, CEF 15 no Gama, Centro de Ensino Médio Júlia Kubitschek na Candangolândia, CEL no Lago Sul e CEDLAN no Lago Norte. A distribuição conta com parceria do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. Para os adultos que mantêm a curiosidade, Ana Maria garante que o livro é válido para todas as idades e abre as portas do Athos Bulcão para que a arte brasiliense se faça vista.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
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