Tarudante
dorme. Saí do riad um pouco antes das cinco para pegar o ônibus, no terminal
fora das muralhas, que me levará a Agadir. No ombro, a bolsa de viagem não pesa
muito. Uma calça, duas camisas, um par de sandálias, escova de dentes, dois livros,
o caderno de viagem. A lua cheia recorta com minúcia cirúrgica as sombras das
casas e das palmeiras na calçada e ofusca o brilho das estrelas.
Leveza do
ar. O calor do fim de noite me agasalha como se carinho maternal fosse. Três
gatos dormem na entrada do Mercado. Mais tarde, haverá restos de peixe ou de
carneiro. O silêncio só é quebrado pelos meus passos.
Estranha sensação
de segurança absoluta nesta cidade que tão pouco conheço. Mas aos vinte e poucos
anos, quem tem medo de uma cidade que ainda não acordou?
De repente,
a voz do muezzin quebra o feitiço. Chama os crentes a reza. É um apelo
modulado, longo, insistente. Se ópera fosse, barítono seria. Leva-me de volta á minha infância, quase
uteral.
Parei.
Mergulho fundo nesta voz milenar, a mesma que dominou Granada e Córdoba. Que ecoa
no Cairo e Damasco.
O silêncio,
de novo. Recomecei a andar.
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