Manifestantes detidos em Moscou são obrigados a escolher entre ir para a guerra ou dez anos de prisão
Por Redação O Sul
Horas depois do presidente da Rússia, Vladimir Putin anunciar a mobilização de 300 mil homens e mulheres, o músico russo Mikhail Suetin, de 29 anos, foi protestar na avenida Arbat. E, assim como outras 1.300 pessoas em todo o país, foi detido. O que ele não previu é que, na prisão, receberia uma ordem de mobilização para enviá-lo à linha de frente.
“Eu esperava os procedimentos habituais: a prisão, a delegacia de polícia, o tribunal”, relata o jovem. “Mas me disseram: ‘Amanhã você irá para a guerra’. Isso sim foi uma surpresa”, acrescentou.
Segundo a ONG OVD-Info, Suetin não é o único manifestante que recebeu ordem de mobilização na delegacia de polícia, após ter sido detido. Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos repórteres que não havia nada de “ilegal” nisso.
Suetin conta que, após sua prisão, os policiais o conduziram a uma sala onde queriam que ele assinasse uma intimação para ir a um centro de mobilização do Exército. “Ou assina isso ou passa dez anos na prisão”, detalhou o músico.
Na véspera do anúncio de Putin sobre a mobilização, o parlamento havia votado um projeto de lei ampliando as penas de prisão para os desertores e para quem violar o serviço militar – mas o texto ainda não entrou em vigor.
Suetin se recusou a assinar a convocação por conselho de seu advogado e foi liberado. Entretanto, os policiais avisaram que o poderoso Comitê de Investigação da Rússia, encarregado das investigações criminais mais importantes, seria informado sobre a rejeição, o que lhe traria “grandes problemas”.
Ameaças
O estudante Andrei, que completou 19 anos na semana passada, também foi para as manifestações em Moscou. Ele foi preso e recebeu a mesma intimação para mobilização. Ao contrário de Suetin, o adolescente assinou sob “ameaça” o documento.
“Claramente eu não poderia escapar. Olhei ao redor, e decidi que não poderia resistir”, ele disse por telefone. “Infelizmente, assinei”, acrescentou.
Andrei acaba de iniciar seu estudos na Universidade. Apesar de Kremlin e o ministro da Defesa, Serguei Shoigou, assegurarem que nenhum estudante seria convocado e que as forças russas privilegiariam reservistas com habilidades específicas ou experiência militar, o jovem foi intimado.
“Mas como se diz aqui, a Rússia é um país onde a expansão do possível é infinita”, ele constata com amargura.
Andrei, que ainda busca um advogado, acabou decidindo não ir ao centro de mobilização no horário previsto, apesar de não saber quais serão as consequências. “Não disse nada aos meus pais, porque eles vão se preocupar”, explica. “Vou contar quando tiver uma ideia mais evidente do que vai acontecer comigo”, acrescenta o rapaz.
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