Ainda hoje, quem me vê passar, me conheça ou não, pensa: “Lá vai o gringo”. Fazer o quê? Mudar minha silhueta, a cor de minha pele, a forma de andar, o sotaque franco-luso-baiano? Não vai dar nunca. Mesmo a caminho de meio século de coqueiros, abarás e andanças desde o Alto de Coutos até São Cristóvão, passando pelo Horto Florestal quando ainda tinha árvores e a Ilha de Maré. Se, nos primeiros tempos, procurava a companhia de meus conterrâneos na Aliança Francesa, aos poucos fui tecendo minha rede social entre os Pedro, Gel, Álvaro, Maria-Helena, Uelinton, Kate e outros Humberto.
Fui amigo de Ildásio Tavares e de Yumara Rodrigues. Apareceu a margarida. Carybé e Mãe Stella de Oxóssi honraram minha casa. Me lembro dos princípios da companhia Frutos Tropicais, pré-história do Balé Folclórico da Bahia. Em Conde, o Renato Ferraz, então diretor do MAM, me ofereceu jiboia frita. Organizei a última exposição de Hansen-Bahia sem vender a mínima gravura. Fui vergonhosamente roubado pelo cunhado de um governador e depois ministro íntegro, grande amigo da Olívia Soares.
Aprendi a gostar de licor de jenipapo e fui cliente do Diolino das batidas no Rio Vermelho. Me acostumei ao mormaço de fevereiro, aos dilúvios de abril, às noites frescas de agosto. Fui até a Chapada Diamantina antes da primeira pousada. Até hoje me empolgo com o desfile do Dois de Julho, quando o Caboclo e a Cabocla, empenados, passam debaixo de minha sacada. Fiquei vaidosíssimo quando, ao receber minha primeira crônica, em 1992, o chefe de redação da Gazeta Mercantil duvidou da autoria e acabou afirmando “Você escreve português melhor que meus jornalistas”, mas, curiosamente, fico quase decepcionado quando, vez ou outra, meu amigo Waldemar Silvestre me escreve: “Hoje não tem nada a corrigir” ao texto que acabei de lhe mandar antes de publicado n´A Tarde.
Gosto de viajar. De volta às minhas origens ou descobrindo outras terras, outras culturas. Mas passadas quatro ou cinco semanas, sinto comichões na poltrona, no banco de jardim e no colchão. Já está na hora de voltar para casa. E minha casa, minhas rotinas, minhas referências começam e terminam na Rua Direita de Santo Antônio.
Assim que quando ouço na televisão que o presidente de todos os brasileiros ousa desprezar os nordestinos, minha tensão sobe perigosamente, fico uma fera e lamento que ele não tenha explodido na operação Beco sem saída. Para me acalmar, nada como assistir ao maravilhoso, emocionante documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”. Quando termina, me sinto irmão, unha e carne com este povo batalhador, alegre e sonhador. Deixo a sala de cabeça erguida e me sinto, definitivamente, totalmente paraíba.
Incluindo 10 suítes, conheça por dentro o belo jato privado de luxo da Emirates
A Emirates informa hoje, 28 de outubro, que apresentará seu jato particular de luxo em um grande evento de aviação na próxima semana.
A aeronave Airbus A319 da Emirates Executive estará em exibição em 1º de novembro na Abu Dhabi Air Expo 2022, para visitantes que desejam vislumbrar o mundo espetacular dos voos privados de luxo na Emirates.
O serviço Emirates Executive foi lançado em 2013, com interiores luxuosos completos, incluindo uma versão ainda maior das suntuosas suítes privativas da companhia aérea e uma generosa área de lounge multifuncional a bordo, permitindo uma viagem de viagem versátil o suficiente para proporcionar experiências sob medida para clientes particulares, famílias e grandes grupos. Os clientes podem personalizar sua experiência e adequar a jornada às suas preferências específicas.
A configuração da aeronave foi projetada com alto nível de conforto, podendo transportar até 19 passageiros, enquanto a versão comercial do A319 leva até 156 passageiros.
Juntamente com uma espaçosa área de estar e jantar, as dez suítes privativas oferecem aos viajantes amplo espaço pessoal e privacidade para relaxar e descontrair com assentos totalmente reclináveis, iluminação ambiente, frigobar e tela de 32 polegadas em cada suíte.
Os clientes também podem rejuvenescer em um dos maiores spas de chuveiro no ar, ou lavabo separado, todos com acabamento em nogueira e mármore clássicos e totalmente equipados com lençóis finos e uma variedade de produtos de banho e spa de luxo selecionados.
As experiências gastronômicas são totalmente selecionadas e personalizadas, e os clientes podem escolher entre jantares privados íntimos sob demanda ou buffets em estilo banquete, todos complementados com uma lista especial de vinhos e bebidas. As refeições gourmet são preparadas com os melhores e mais frescos ingredientes de origem local e servidas por uma equipe dedicada de tripulação de bordo altamente treinada e experiente.
A ampla área de lounge da aeronave também pode ser adaptada às preferências do cliente, como um escritório pessoal para conferências e reuniões ou simplesmente para relaxar. Os assentos da sala também se convertem em camas de tamanho normal.
A aeronave Emirates Executive pode voar por até oito horas e meia sem escalas para locais dentro e fora da malha aérea da companhia aérea. Desde que foi lançada em 2013, a aeronave voou para 131 aeroportos em todo o mundo.
A Emirates Executive também fez parceria com operadoras de turismo de férias de luxo, para estadias criadas para explorar o melhor das maravilhas naturais e da vida selvagem em diferentes regiões.
A tripulação de cabine executiva da Emirates também usa uniformes exclusivos, para combinar com a distinção do serviço do jato particular.
Filho dos imigrantes espanhóis Ramón Artacho e Dolores Jurado, João começou a trabalhar na década de 1930 e sua produção se aprofundou nas décadas de 40 e 50. Apesar de não ser arquiteto,
Artacho Jurado idealizava os prédios e pedia para algum arquiteto assinar as plantas. Artacho não frequentou escolas pois seu pai, que era anarquista, se recusava a deixar seu filho jurar a bandeira, cerimônia obrigatória nas escolas da época.
Projetava suas obras ao som de ópera. Sua arquitetura reflete os sonhos hollywoodianos do pós-guerra em uma mistura de estilos e linguagens: o moderno, o nouveau, o déco e o clássico. Visando a classe média-alta e alta, seus edifícios eram projetados com uma série de serviços e opções de lazer: piscina, terraço com bar na cobertura, onde eram promovidas as festas de inauguração.
Edifício Viadutos
Iniciou sua carreira entre a publicidade - projetando placas e letreiros em neon - e as feiras, desenhando estandes inspirados no art-déco, de 1930 a 1944, ano em que se tornou construtor. Fundou, junto do irmão Aurélio Artacho Jurado, a construtora Anhanguera - construindo casas e pequenos edifícios - , que depois se tornou Construtora e Imobiliária Monções, em 1946, iniciando suas grandes obras.
Constantemente fiscalizado pelo CREA, nas placas de suas obras seu nome não podia figurar em tamanho maior do que o nome do engenheiro responsável. No entanto, Artacho Jurado dificilmente obedecia à imposição, aumentando a ira de alguns arquitetos, que consideravam ultrajante sua atuação profissional, visto que ele não era arquiteto formado.
O reconhecimento de suas obras foi tardio, uma vez que nunca lhe foi permitido assiná-las. Inicialmente refutado, como kitsch, a partir da década de 1990, já após sua morte, recuperou o prestígio.
Primeiro
ato. Tudo limpo, banal. Não tem primavera nem céu azul. Não tem sedução. Durante
décadas você ia lá, vapt e vupt, para comprar pão que de francês nada nunca
teve e aquele que dizem integral. Mas, se os sonhos eram um sonho, atrás da
caixa, a senhora de preto vestida recebia o dinheiro e dava o troco sem que ninguém
jamais tenha ouvido o som de sua voz. Certa vez perguntei se, para obter um bom
dia, teria que pagar uma taxa. A galega só conversava com os conterrâneos. Quem
atendia no balcão, talvez por osmose, tão pouco se comunicava com a freguesia.
Não havia fila para ser atendido. Maior cara de pau passava primeiro.
Fim do
primeiro e longo ato. Décadas. Baixou a cortina cor de tédio. Outra, fartamente colorida, se levanta agora
sobre uma nova gerência. O elenco inteiro mudou. Sorrisos, boas-vindas e papos
amigos varreram o astral depré da antiga administração. De repente, a padaria
virou o epicentro, o umbigo, o coração da Rua Direita de Santo Antônio.
A qualquer
hora do dia, você terá certeza de encontrar um vizinho amigo sentado numa mesa.
Aqui fiz meu quartel geral. Aqui marco encontro com Will, o arquiteto. Que o
Álvaro, Luan e Lara vêm sentar comigo após o torneio de xadrez para crianças na
Fundação Alexei Belov. Que bela iniciativa! Lara ganhou um segundo lugar. Com
seus cinco aninhos venceu outra menina, muito mais velha: oito anos! Lá também
ouço a Fernanda confessar que, cansada de tantos anos de trabalho, quer vender
a Pousada do Boqueirão, a joia do centro histórico. Chega o Alberto, arquiteto
cubano que está restaurando com maestria um magnífico casarão do outro lado da
rua. Eis um bom nome para chefiar o IPHAN. Só que os “cargos de confiança” são
sempre para os apadrinhados, quaisquer sejam suas competências. Ou
incompetências.
O
responsável por este novo capítulo da história de meu bairro – como sou
bairrista! – é o Márcio, físico e vozeirão de barítono, professor de
universidade, memória de elefante. Sabe o nome de todos os fregueses. Todos!
Distribui os bons dias e abraços com a mesma generosidade que dá de comer aos
pedintes.
E não só:
aos domingos de manhã, organiza encontros sobre temas importantes: racismo,
gordofobia etc. Pretende também oferecer as paredes para exposição dos artistas
do bairro.
Mas é de pão
que padaria sobrevive. De pão e de outros produtos. Entre várias ofertas, recomendo
os deliciosos “sequilhos de neve” da Valdelice e, quando a Sueli se digna de
desaparecer nos bastidores, os inigualáveis “pasteis de Santo Antônio” com
recheio de goiabada, minha perdição. Já falei que, quando for à Europa, levarei
caixas e mais caixas destes pequenos pecados. Estou convencido de que Paris se
renderá humildemente às guloseimas da minha padaria.
Os segredos revelados pelas ilhas de lixo formadas nos oceanos
Hope Ngo
BBC Future
Reach Penaflor tem uma missão.
Desde 2009, ele trabalha em conjunto com o grupo River Warriors ("Guerreiros do Rio", em tradução livre), que se dedica a limpar os estuários que deságuam no rio Pasig, que atravessa a maior área urbana das Filipinas - a região metropolitana da capital do país, Manila, conhecida pelos seus odores nocivos. Os cientistas afirmam que o Pasig é o rio que mais contribui para a poluição do ambiente marinho.
Quando a limpeza começou, havia tanto lixo sólido na água que ele precisou ser removido manualmente. Mulheres voluntárias percorriam as águas poluídas, quase sem roupas de proteção, antes que pudesse começar a dragagem.
"Elas precisavam cavar fundo para retirar as coisas, usando apenas luvas para sua proteção", relembra Penaflor. "Eu decidi ir trabalhar com elas e só consegui por meio dia. Não parava de me coçar e não conseguia me livrar daquele mau cheiro."
Penaflor e seus colegas conhecem a reputação duvidosa do rio Pasig e a tarefa hercúlea de tentar mudar essa situação. As Filipinas são um dos maiores geradores de poluição marinha da Ásia - e, de forma talvez surpreendente, a maior parte desse lixo acaba perto do litoral.
Britta Denise Hardesty, principal cientista de pesquisa dos oceanos e da atmosfera da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Comunidade Britânica (CSIRO, na sigla em inglês - o organismo nacional de pesquisa da Austrália), afirma que existem muitos conceitos errôneos envolvendo o lixo que vemos no oceano.
Existem lugares onde podemos ver o lixo flutuando na nossa linha de visão, mas, em outros, as correntes oceânicas podem carregar o material para o mar e fazer com que ele se acumule em sopas de plástico em locais distantes, como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, entre o Havaí e a costa oeste dos Estados Unidos.
Muito já se falou sobre a Mancha do Pacífico, mas ela é apenas um dos giros - correntes oceânicas em circulação - que se movem ao longo dos oceanos do planeta em um círculo sem fim.
Os giros são parte de uma "esteira transportadora oceânica" dirigida pelas correntes que se movem ao longo da superfície dos oceanos, fluindo no sentido horário, no norte, e anti-horário, no sul. E, como as correntes também se comportam como imensas banheiras de hidromassagem, elas acabam empurrando fragmentos para mais perto do centro, onde podem acumular-se em concentrações mais altas, devido à redução da ação dos ventos e das ondas.
Britta Baechler, gerente sênior de pesquisas sobre plásticos nos oceanos da organização ambiental Ocean Conservancy, afirma que "ao todo, existem cinco grandes giros oceânicos".
"Todos os cinco giros são grandes sistemas de correntes oceânicas circulares que acumulam objetos flutuantes, incluindo plásticos", explica ela, mas "o Giro do Pacífico norte é o giro oceânico mais pesquisado e sabemos menos sobre os outros quatro". Os outros giros ficam no Pacífico Sul, no Atlântico Norte e Sul e no Oceano Índico, além de diversos outros giros menores.
"O que é importante saber ou observar é que a maior parte do plástico ou do lixo perdido no meio ambiente não vai para esses bolsões", afirma Hardesty. "Ele não vai para o meio do oceano. A maioria dos nossos fragmentos, na verdade, fica presa na vegetação litorânea em terra."
De fato, a maior parte dos fragmentos que podem ser encontrados no oceano já está por lá. Pelo menos a metade vem de navios pesqueiros que entram e saem de águas internacionais e inclui redes e equipamento de pesca perdido ou abandonado. Em seguida, vem o material que era transportado pelo oceano e acabou sendo perdido no mar.
O Conselho Mundial de Transporte Marítimo estima que, em média, 1.382 contêineres sejam perdidos todos os anos, devido a fortes ventos e marés altas. Mas esse número pode ser muito maior, pois as perdas de contêineres varridos dos navios somente são relatadas quando se sabe que eles estão transportando materiais perigosos.
Uma das perdas de contêineres mais conhecidas do século 20 envolveu mais de 29 mil brinquedos de banho, incluindo patos, tartarugas, sapos e castores de brinquedo, embarcados da China para os Estados Unidos em 1992. Esses patos depois chegaram ao noticiário, quando começaram a aparecer em praias nos Estados Unidos - e continuaram a ser encontrados por mais de duas décadas depois do incidente.
Pode parecer que se trata de uma boa notícia, mas nem tudo é positivo.
Hardesty explica que, se existirem centenas de toneladas de lixo caminhando pelo oceano, outros produtos flutuantes podem ainda chegar à zona do litoral, que se estende até cerca de 8 km da costa. E, dali, uma combinação de ventos, correntes e ondas pode destruir o lixo e levar os fragmentos até milhares de quilômetros de distância do seu ponto de origem.
"Sabemos [por exemplo] que existem objetos que viajaram do Japão até a costa oeste dos Estados Unidos em menos de um ano depois que o tsunami [de 2011] carregou objetos grandes, como motocicletas e atracadouros flutuantes através do Oceano Pacífico em um ou dois anos", relembra ela.
São principalmente os objetos flutuantes levados pelas correntes oceânicas que podem acabar fazendo parte da Grande Mancha de Lixo do Pacífico, que foi apresentada pela primeira vez pelo oceanógrafo americano Curtis Ebbesmeyer, em 1997. Ele passou décadas estudando e rastreando fragmentos no oceano, até descrever a mancha como um dos "pontos geológicos mais importantes" do planeta.
Por que o plástico?
A poluição dos oceanos fez com que os giros se tornassem massas flutuantes em forma de sopa de microplásticos, resultantes da decomposição física que começa assim que o plástico escapa para o mar.
Materiais orgânicos mais pesados, como madeira e metais, podem degradar-se ou afundar até o fundo do mar. Mas o plástico se decompõe perto da superfície, como reação física à abrasão, exposição prolongada aos raios ultravioleta e degradação pelo contato prolongado com a água.
A decomposição dos pedaços de plástico maiores em fragmentos ou pedaços menores, devido à sua exposição às forças físicas, como o vento ou as ondas, cria os microplásticos que infestam nossos oceanos hoje em dia.
Estudos demonstraram que esses pedaços podem medir menos de um terço de milímetro e compõem até 60% dos fragmentos plásticos flutuantes no Giro do Pacífico Norte. Mas não se sabe exatamente quanto plástico acaba se acumulando no centro dos giros.
Entre 2016 e 2017, a Fundação de Pesquisas Marinhas Algalita, com sede nos Estados Unidos, explorou o Pacífico Sul. Ela recolheu amostras do Giro Subtropical do Pacífico Sul e encontrou o que eles acreditavam serem altas concentrações de fragmentos plásticos, mas suas quantidades não foram reveladas.
A fundação não tinha certeza se aquelas concentrações estavam acima dos níveis normais. Por isso, eles procuraram obter mais dados para estudar o que poderia ser um grande erro de estimativa da quantidade de plástico encontrada atualmente nos oceanos do planeta.
Antes daquele estudo, em 2014, acreditava-se que os giros tivessem apenas 200 a 600 g de resíduos plásticos por quilômetro quadrado. Mas, atualmente, Baechler afirma que "as pesquisas existentes indicam que outros giros podem acumular muito menos resíduos plásticos em comparação com o Giro do Pacífico Norte".
Amostragens concluíram, por exemplo, que a quantidade média de plástico no Giro do Pacífico Sul é de 26.898 partículas por quilômetro quadrado. E, em média, existem 20.328 itens por quilômetro quadrado no giro subtropical do Atlântico Norte, em comparação com mais de 700 mil partículas por quilômetro quadrado encontradas no Pacífico Norte.
Enquanto o Programa Ambiental das Nações Unidas estima que existem hoje de 75 a 199 milhões de toneladas de plástico nos oceanos, não há como ter certeza de quanto desse plástico está chegando aos giros, já que um grande percentual fica preso perto do litoral.
Hardesty afirma que a quantidade de plástico encontrada nos oceanos vem acompanhando a produção mundial de plástico e aumenta em 1,5 a 2% todos os anos.
"Estamos encontrando cada vez mais plástico nos oceanos", afirma ela. "E, como esses giros ou áreas de acúmulo estão onde os agregados de plástico estão se reunindo, é bem razoável observar, pensar e esperar que, sim, estamos vendo um aumento do plástico também nessas áreas de acúmulo, os principais giros."
A superfície desses giros de lixo pode ser uma visão desagradável, mas o que mais preocupa os pesquisadores é o que acontece embaixo.
"Um estudo coletou amostras da superfície do Giro do Pacífico Norte ao longo de um período de 22 anos (1986-2008) e concluiu que, apesar do aumento contínuo da produção e do descarte mundial de plástico, a concentração de fragmentos de plástico naquela região não havia aumentado", afirma Baechler.
"Isso pode ocorrer porque o plástico flutuante não fica na superfície para sempre. Descobriu-se que os fragmentos de plástico flutuantes que se reúnem no giro também afundam pela coluna de água, até o fundo do mar", explica ela.
À medida que isso acontece, diversos estudos agora demonstram que esses plásticos estão entrando no ecossistema marinho, onde não só são ingeridos, mas também inalados pelos animais, incluindo aves marinhas, peixes e tartarugas.
'Impactos imensos'
Plásticos vagueando pelos oceanos que não se decompõem também têm a capacidade de viajar pelo mundo como os patos de brinquedo. E também permitem que micróbios e outros organismos marinhos movam-se de uma região para outra, inadvertidamente transportando espécies para regiões onde podem tornar-se invasoras.
Existem também as ameaças representadas pelas redes de pesca perdidas, que podem capturar a vida marinha.
"Diversos objetos causam danos enormes à vida selvagem", afirma Hardesty. "Plásticos moles são facilmente ingeridos pelos animais e têm imenso impacto negativo sobre os mamíferos marinhos, aves marítimas e tartarugas."
"Mas as redes de pesca perdidas ou abandonadas são realmente problemáticas, porque elas capturam a vida selvagem e continuam pescando indiscriminadamente. Os animais nadam para essas redes perdidas, ficam presos e morrem", acrescenta ela. E, como os fragmentos agora estão muito interligados à vida marinha, é difícil removê-los dos giros.
"Limpar o lixo plástico diretamente do Giro do Pacífico Norte é uma tarefa muito difícil", segundo Baechler. "O mais rápido e econômico é reduzir ou remover o fluxo de lixo [na fonte, em terra] bem antes que ele atinja o oceano e entre nos giros."
Isso aumenta a importância do trabalho de Reach Penaflor e seus Guerreiros do Rio, além da organização Ocean Conservancy, de Baechler.
"Embora seja difícil medir diretamente o impacto dos nossos esforços em terra sobre a quantidade de plástico em alto mar e, mais especificamente, nos giros, o que sabemos é que a redução da poluição plástica no litoral e em terra significa que menos poluição está atingindo nossos cursos d'água e, por fim, entrando no oceano", conclui Baechler.