quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

ANO NOVO NA PRAIA

 


Sou de uma época em que passávamos o Ano Novo na praia com amigos e familiares em completa paz. As pessoas levavam violões, flautas e tambores. Formavam seus grupos para cantar e rir até o dia raiar. Havia o pessoal de Iemanjá com seus barcos. Nenhuma violência. As crianças adoravam passar uma noite na praia.
Éramos muita gente, todos os anos, mas permanecíamos pessoas, cada um com seu jeito.
Mas, como podem tantos consumidores serem deixados em paz se há tanta coisa para vender? Grandes empresas e Prefeitura inventaram então que precisavam controlar a festa, mercantilizá-la e adensá-la. Gente é business.
O que era a celebração de cada um tornou-se mais um evento de propaganda e marketing, feito para exercitar o controle sobre multidões sem rosto.
A festa das pessoas tornou-se mais um evento mercantil para consumidores padronizados, excitados e idiotizados.
Vieram os shows. Os cachês. Os patrocínios. A mercantilização dos espaços. Os cordões de isolamento. A ânsia de ter cada vez mais gente apinhada. As galeras. A música da hora. Vieram junto a tensão, a violência e a sujeira.
Saíram a individualidade, o prazer, a paz, a intimidade, a música de cada um.
Os espetáculos dos fogos tornaram-se desproporcionais. Tudo se tornou desproporcional a qualquer medida humana.
Neste ano foram três milhões? Pois no próximo serão quatro! Sucesso se mede assim. Quem garante é a grande máquina de formação e controle de multidões a serviço das mercadorias.
Leio que neste ano o acesso à praia terá detectores de metais. Sorria, você está sendo filmado!
Tchau, pessoal, a gente não se encontra lá!

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