quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

CONCERTO NA MARÉ

Concerto internacional reúne jovens músicos da Maré e franceses em encontro inédito por streaming



Não é só na Copa do Mundo que talentos brasileiros dividem o mesmo espaço com estrangeiros. Em um encontro inédito no próximo sábado, jovens músicos da Camerata Uerê, projeto do Complexo da Maré, tocam com personalidades da música erudita francesa, como o flautista Jean Ferandis e violoncelista Dominique de Williencourt. No Brasil, os músicos se apresentam no Palácio Itamaraty, no centro do Rio e, na França, no Palácio de Versalhes. O encontro acontece de forma virtual, com telões nos dois locais que irão transmitir a sinfonia em tempo real por meio de uma plataforma de streaming.

O evento é uma celebração dos 25 anos do projeto Música no Museu, que promove apresentações gratuitas de música erudita no Brasil. No Rio, 42 locais — museus, centros culturais, palácios, bibliotecas e igrejas — fazem parte da programação mensal. No Palácio Itamaraty, o projeto vai comemorar também a recém conquista do título de Patrimônio Cultural Imaterial do Rio.

— Estamos comemorando nossa história de 25 anos com um evento internacional de forma completamente diferente do convencional. Primeiro por mostrar dois locais maravilhosos e históricos: o Palácio Itamaraty e o Palácio de Versalhes. Segundo por exaltar e levar para outros cantos do mundo a expressão musical dessas crianças e jovens que vêm da comunidade. É um intercâmbio cultural muito expressivo e inédito para o projeto — disse Sérgio da Costa e Silva, presidente do Música no Museu.

Luis Felipe Andrade, de 20 anos, começou a tocar violino aos 11. Foi seu primeiro instrumento, sem contar com as brincadeiras com flauta. Alguns anos depois, aprendeu também a tocar violão. Tudo através do Projeto Uerê, do qual faz parte a Camerata. Às vésperas de tocar com músicos renomados da França e para um público internacional em formato inédito, ele relata expectativa.

— É inovador. Eu não lembro de ter visto isso alguma vez. Eu acredito que o Uerê está fazendo história com o Música no Museu. Foi fundamental o apoio da Constance (violinista francesa e uma das fundadoras da Camerata Uerê), para gente alcançar esse patamar — relata.

O flautista e maestro Jean Ferrandis se apresenta com frequência na Europa, Ásia e América do Norte, em salas de concerto de prestígio, como Théâtre des Champs Elysées, em Paris, e Alice Tully Hall em Nova York, só para citar algumas. Também com apresentações mundo afora, Dominique De Villiecourt é compositor e violoncelista consagrado e já ganhou o grande prêmio da Academy of Records.

Juntos e simultaneamente com os músicos da Maré, apresentarão obras seminais de Bach, Guerra-Peixe, Mahler, Villa-Lobos, Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Quem quiser assistir, pode acompanhar o canal do Youtube do projeto Música no Museu. A maestra Waleska Araújo, que rege a Camerata Uerê, aposta que a apresentação será uma vivência musical nova tanto para a plateia quanto para os músicos.

— O público pode esperar um concerto inovador em vários aspectos, com um repertório erudito europeu e brasileiro, que vai de J. S. Bach e H. Villa-Lobos, finalizando com música popular brasileira executada simultaneamente na França e no Brasil — disse Waleska.

A Camerata Uerê nasceu em 2015 com a violinista francesa Constance Despretz, que teve a iniciativa de musicalizar crianças através da prática do violino no Projeto Uerê, situado no complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. A marca registrada do projeto é o repertório brasileiro, que abrange desde o erudito até o popular, sob a orientação da professora e violinista Fabiana Valente e a regência da maestrina Waleska Araújo. Para Luis Felipe, que mora na Maré, o Uerê traz novas perspectivas de vida.

— A gente consegue ver como a arte e a música abrem portas para quem é da comunidade. Vi muitas vidas sendo salvas ao longo desses anos. Eu mesmo tive oportunidade de conhecer muitos lugares através da música. As crianças têm orientação, acesso a formações diversas, afeta diretamente nosso futuro e as chances de sucesso profissional em qualquer área — conta Luis Felipe.

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