Messi ou Mbappé. Não interessa. O campeão será um garoto-propaganda do Catar. O país islâmico é o vencedor da Copa de 2022
Com investimento de R$ 1,6 trilhão, a família real apresentou o mundo ao Catar. E o Catar ao mundo. A mudança nos costumes no país islâmico será lenta, mais irreversível. O lucro do país vai muito além do futebol
Messi e Mbappé. Tanto faz quem vai erguer a taça. Dois jogadores a serviço do Catar
REPRODUÇÃO/TWITTERDoha, Catar
Em dezembro de 2010, uma notícia chocou o mundo.
O Catar venceu os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Austrália.
E iria sediar a Copa de 2022.
Uma investigação profunda do FBI chegou à conclusão de que houve corrupção na escolha do país-sede. E altos dirigentes da Fifa e de Confederações, como a Conmebol e a CBF, acabaram atrás das grades, presos por negociatas, em 2015.
As denúncias começaram em 2010 mesmo, mas o governo do Catar, além de negar, pôs em prática um plano ambicioso, inteligente e bilionário.
A família real catariana, que domina politicamente o país como monarquia constitucional. Desde 1825, a família al-Thani ganhou esse poder da Inglaterra, que tomou o território dos otomanos. O Catar virou um protetorado britânico, quase uma colônia. Só em 1971, depois de muitos movimentos revoltosos, houve a independência.
Como o país asiático conseguiu destronar os favoritos Estados Unidos e Austrália?
Mas os al-Thani continuaram no poder. Seguindo o regime de muitas restrições políticas e sociais. O islamismo não abria concessões e passou a se chocar com a liberdade do Ocidente.
A influência norte-americana com filmes que mostravam costumes mais liberais, como mulheres trabalhando, se vestindo com calças e vestidos, já começou a influenciar a geração dos anos 2000.
A chegada da internet foi a base no Oriente do mundo pelo clamor de liberdade. Em 2010 houve a marcante Primavera Árabe, com a queda do ditador Zine El Abidini Ben Ali, na Tunísia. O povo exigia mais liberdade, menos opressão na vida social.
Tunísia, Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria, Jordânia e Omã fizeram suas revoluções de costume, que mal foram acompanhadas pelo mundo ocidental.
A onda de liberdade também chegou no Catar. O país era fechado para o mundo. Com sua legislação extremamente restrita. Costumes do passado ainda imperavam.
Para travar na raiz movimentos libertários que poderiam sair do controle, o que fez a família real catariana? Decidiu usar o futebol para se encaixar no mundo moderno. Ainda com o domínio da população, dos costumes, trazer o mundo com a Copa.
Jamais um Mundial de Futebol teve um objetivo tão importante na vida de um país. Em 1938, firmou o fascismo na Itália. Em 1978, consolidou a ditadura na Argentina. Mas foram movimentos que morreram.
No Catar, o país mais rico do mundo, por conta de suas reservas de petróleo e gás, a intenção foi mesmo começar a sair da obscuridade e se adaptar ao século 21 com o controle do governo. Não em revoluções radicais. Promover sua própria, e ainda fraca, Primavera Árabe.
Para isso, investiu 220 bilhões de dólares, cerca de R$ 1,6 trilhão. Mais do que construir oito estádios, transformou a capital, Doha, em um canteiro de obras desde que a Copa foi confirmada aqui. Os prédios, viadutos, ruas, praças, faculdades, tudo é novo.
O objetivo, além de evitar uma revolução social, sempre foi também comercial. Não ficar nada a dever a Dubai. E Doha se tornou belíssima.
Sim, é artificial, já que tudo foi construído em cima das areias do deserto. Mas a população foi beneficiada. Com uma rede de metrô moderníssima, que rasga a capital. Assim como prédios em áreas mais populosas. Os sistemas de água, esgoto e eletricidade foram remodelados.
A área urbanizada de Doha cresceu cerca de 25%. O que é algo espantoso.
A imprensa inglesa informa que milhares de operários, principalmente indianos, teriam morrido na construção dos estádios. Não ficou provado.
Há limitações sociais ainda. As mudanças dos costumes são lentos, mas irreversíveis.
A Qatar Airways é do governo do Catar. Messi, Neymar e Mbappé foram as apostas na final da Copa
REPRODUÇÃO/PSGA Copa trouxe situações que só eram vistas em filmes em Doha. Mulheres de short, barriga de fora, fumando, cantando no meio das torcidas, principalmente argentinas, francesas e tunisianas. Ou até mesmo jornalistas inglesas, mexicanas, norte-americanas. Há um mês, quando o Mundial começou, eram apontadas nas ruas, filmadas. Hoje não provocam tanto espanto.
Do lado esportivo, a vitória foi foi Catar, mesmo com a lastimável campanha do time, eliminado na fase de grupos da Copa.
As pessoas se esquecem de que Messi e Mbappé, as estrelas que decidirão o Mundial no domingo, pela Argentina e França, foram escolhidos, depois de muita análise e euros, pelo PSG.
O plano foi perfeito. Cinco meses após o Catar ter sido divulgado como a sede da Copa de 2022, a família real confirmou a compra do PSG, um clube tradicional francês, mas endividado, que havia virado coadjuvante na Europa. Gastou cerca de 100 milhões de euros, aproximadamente R$ 530 milhões.
E desde então optou por contratar os jogadores mais importantes que pudesse. Para a mídia, o grande objetivo era a busca obsessiva pela Champions League. Mas, na verdade, o plano era outro.
Fazer do clube o cartão de visitas do Catar, de Doha.
Por isso investiu em três jogadores que tinham todas as possibilidades de chamar a atenção do mundo para a primeira Copa na Ásia.
Mas Mbappé, Neymar e Messi estariam aqui. Representariam a França, o Brasil e a Argentina. Aposta tripla de que pelo menos um deles estaria na final da Copa.
É preciso explicar que o país árabe criou a "Autoridade de Investimento do Catar", um grupo governamental que faz investimentos no mundo. E foi a sua subsidiária QSI que comprou 100% das ações do PSG.
A família real poderia ter também outra estrela nesta Copa: Cristiano Ronaldo foi oferecido ao clube. Mas, apesar de ser o país mais rico do mundo, há uma análise esportiva séria nas contratações. E o português de 37 anos já demonstrava a decadência física que se evidenciou na Copa.
Mulheres indo de hijab para um jogo da Copa. Cultura milenar se choca com a modernidade
REÇRODUÇÃO/TWITTERSe Neymar voltou para casa ainda nas quartas, Messi e Mbappé estão na final. E também em inúmeras propagandas em toda Doha. E nos veículos de comunicação.
O mundo também é obrigado a citar os dois, que representam Argentina e França, mas seus direitos esportivos têm dono, o Catar.
Para premiar ainda mais o país, o Marrocos fez uma campanha fabulosa. Vai decidir o terceiro lugar. Foi a primeira equipe africana a conseguir esse feito. E o Marrocos é um país islâmico e é considerado, apesar de estar situado na África, pertencente ao 'mundo árabe'.
Voltando à economia, o governo catariano aproveitou os prédios, a modernização, para fazer negócios. Multinacionais importantes estão abrindo sede no país, incentivadas pela baixa cobrança de impostos. Incentivos fiscais que não são encontrados na Europa ou Estados Unidos.
A Copa está servido como propaganda do país. Têm acontecido reuniões, simpósios com altos executivos do planeta com representantes da família real.
A Alemanha protestou contra a falta de direitos humanos no Catar. Foi eliminada na primeira fase
REPRODUÇÃO/TWITTERSeja qual for a campeã do mundo, Argentina ou França, a capa dos portais do mundo todo, dos jornais, revistas.
As tevês do planeta mostrarão Messi ou Mbappé com a taça.
A transmissão deverá chegar a mais de 1 bilhão de pessoas. De acordo com a Fifa, se somarão a outros 4 bilhões que acompanharam pelo menos algum jogo do Mundial.
Algumas seleções que protestaram contra a falta de direitos humanos, como a Alemanha e a Dinamarca, acabaram eliminadas na fase de grupos.
Por trás de Messi e Mbappé, na decisão, haverá uma fortíssima propaganda subliminar.
Em que clube o campeão da Copa de 2022 joga?
No PSG.
De quem é o PSG?
Do Catar.
Que país é esse?
Onde fica?
Essa propaganda no mundo todo vale mais mais do que o R$ 1,6 trilhão investido pela família real catariana.
Nunca a Copa serviu tão bem a um país...
Sete pontos em que a seleção do 7 a 1 foi superior a de 2022
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