Digitei “Turismo Bahia fotos” no computador. Contei 115 fotos de praias, 40 do centro histórico, 17 do Elevador Lacerda e 8 do Farol da Barra. Igrejas? 3 ou 4. Nenhum museu. Se você passear no metrô de Londres, Nova-Iorque ou Paris, duvido muito que encontre algum cartaz sobre o rico patrimônio dos museus baianos ou dos muitos tesouros do Recôncavo.
Desde que
aqui cheguei em 1975, só me lembro de ter visto um cartaz de museu. Acho que
era do Costa Pinto. Até quando vamos nos contentar em só focalizar as praias e
o carnaval absurdamente mercantilizado de Salvador? As outras festas populares
pela Bahia afora não contam? O Balé Folclórico da Bahia e a programação do TCA
não interessam aos turistas?
Os
sucessivos secretários estaduais de turismo ainda não entenderam que praias tem
milhões à volta do planeta tão e até mais belas que as nossas e que o
patrimônio cultural e humano é sem dúvida nosso bem maior.
No princípio
dos anos 90, o governo ACM confiou à Conder – em vez do Ipac, primeiro erro – a
restauração do Pelourinho. Deu no que deu, mas pelo menos parte do centro
histórico foi salva.
E depois do
ACM, qual foi o empenho dos Paulo, Cesar, Jaques e Rui em dinamizar o centro
histórico de Salvador e a recuperação do Recôncavo? Nenhum. Zero. A não ser
modestas e medíocres obras pontuais, como a desastrosa “requalificação” da Rua
Direita de Santo Antônio, até hoje inacabada.
Em números,
sempre inchados que nem linguiça, pouco mais de um milhão de visitantes de
julho 2021 a julho de 2022. É piada? E vamos parar de culpar a pandemia,
taokei? Cachoeira em ruína. Santo Amaro, favelado. Monoculturas do bambu e do
famigerado eucalipto “deserto verde”. Mais deserto verde na Chapada Diamantina.
Maragogipe entregue a bandidagem, Porto Seguro colonizado pelos farofeiros
mineiros e dominado pela poluição sonora. Boipeba – minha paixão – ameaçado por
um aeroporto e um absurdo projeto imobiliário na Ponta dos Castelhanos, apesar
de ser APA.
Enquanto
isso, igrejas, conventos e patrimônio imobiliário totalmente abandonados. É
assim que vocês, senhores governantes, pensam seduzir o turismo internacional?
No sábado 13
de fevereiro de 2021, o governo Rui Costa encerrava 160 anos de história da
ferrovia na Bahia. Das consequências sociais para a faixa mais miserável do
subúrbio já se falou, sem que até hoje fosse encontrada qualquer solução. Além
das mazelas sociais, foi ignorada a tendência mundial de reabilitação das
linhas ferroviárias. Imagine o leitor os muitos benefícios da recuperação do
itinerário Salvador -São Felix. Estaria solucionado em boa parte o
desenvolvimento do turismo no Recôncavo.
Mas os
governantes se contentam em soltar foguetes para meia dúzia de navios de
cruzeiro. Por favor...
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 3 de dezembro 2022
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