... DA FESTA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA
São interessantes os relatos da festa da Conceição do lado de fora do templo, Mas, há uma coisa que não se enquadra nesses relatos saudosistas dos historiadores e cronistas. O entorno da Igreja da Conceição, pelos relatos dos viajantes e as fotos de final do século XIX, era uma imundície só, por isso amamos aquelas fotos clássicas de dezenas de saveiros com as velas entrecruzadas porque disfarçam a sujeira e, como foto ainda não cheira, tanto melhor. Imagino a trabalheira da Intendência, naqueles idos, para tornar as imediações da igreja, transitáveis para o tradicional 8 de dezembro.
Era uma festa e tanto de comida, bebida, divertimentos e devoção. E de baianos metidos a besta e essa a parte que eu mais gosto, por que não ser refinado? Ricos, remediados e pobres sabiam fazer. Durante a procissão, contam os cronistas mais antigos, na subida das estreitas ladeiras, se fazia uma pausa para degustar um bom vinho do Porto e renovar energias para continuar.
E as irmandades caprichavam nos fartos banquetes de véspera, nas serenatas com cantores de modinha e nos saraus de piano que invadiam a meia-noite da data de Nossa Senhora. Na rua, o povo se virava em barracas simples, mas nem tanto, adornadas com folhas de palmeiras, cortinas de linho e alvíssimas toalhas de mesa e, no cardápio, as melhores pingas do Recôncavo e os mais requintados pratos da culinária baiana.
Não se comia pastel, cachorro-quente, churrasquinhos imundos e acarajés recozidos no azeite de ontem, naquele tempo. As barracas ofereciam xinxim de galinha, moqueca de arraia, bobó de camarão e efó, enquanto a capoeira corria solta e o samba de roda se multiplicava a cada esquina, e a garotada e os marmanjos divertiam-se nas corridas de saco e no pau de sebo.
A disputa era para saber qual a barraca mais limpa e de melhor comida. E quem servia vestia os melhores torsos, finíssimo pano da costa e enfeites dourados e prateados nos braços e nas sacadas das residências exibiam-se belas mantas e as tradicionais lanternas coloridas confeccionadas artesanalmente. O espírito da festa era cair de porre, mesmo, mas com elegância, orgulho das raízes e educação.
Foto de Voltaire Fraga.
Vendedor de frutas na Festa da Conceição.
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