PAULO FIGUEIREDO
Meu amigo franco-baiano, o François, voltou a Salvador depois de 15 anos para matar as saudades. Alugou um pequeno AP na Marques de Caravellas para ficar "perto de tudo" e em especial da praia do Porto da Barra, onde passou momentos inesquecíveis quando por aqui morou. Chegou no sábado à noite, se instalou no apartamento, recuperou as forças com uma boa noite de sono e lá pelo meio da manhã de domingo foi andando para o desejado encontro com a saudosa praia do Porto.
Já na praça do Tamarindeiro começou o não reconhecimento do lugar. Seguiu pela Miguel Burnier e logo viu uma multidão no passeio, o obrigando a atravessar a rua. O que parecia ser uma tulmutuada compra de ingressos para o BAVI ou um protesto para retirar presos da cadeia, instalada ali ,em plena rua, revelou ser apenas pessoas desesperadas com o calor comprando cerveja "a granel" por entre as grades de um ponto comercial. O passeio público virou área de atendimento de depósito de bebidas e quem quiser que exploda. Os presos, ou melhor, os vendedores que por trás das grades entregavam cerveja e recebiam dinheiro vivo, trabalhavam incessantemente. Nem sinal de recibo, nota fiscal, ou qualquer coisa tributável. Negócio da China. Aliás, tinham olhinhos puxados por lá.
Depois de vencer esse e outros tumultos ao longo da curta caminhada, consegue François chegar à balaustrada da primeira escada da Praia do Porto. Não via areia, frescobol portanto, nem pensar. Não via asfalto, tomado por vendedores ambulantes e isopores de todas as cores e tamanhos, só um mar longinquo para acesso aos bons de nado.
Com o "calor da porra" que estava fazendo e atordoado por visões apocalípticas, o meu amigo François desce para areia em um empurra empurra danado para abrir espaço onde depusesse seus poucos objetos e finalmente se refrescasse nas águas daquele "porto" tão habitado. Pediu com seu sotaque a um casal , também espremido, se podiam dar uma "olhadinha" nos seus pertences, ao que responderam com um duplo sinal de dedões para o alto.
Se joga o francês na água meio oleosa entre gente comendo e bebendo cerveja até se afastar o suficiente para dar seu providencial e refrescante mergulho. Um pouco distante da orla e fora da multidão de banhistas, olha François para o formigueiro devorando sua paisagem de sonho, ao som de ruídos ainda não reconhecíveis, mas que incomodavam os ouvidos.
aporrinhado volta o meu amigo nadando e pedindo "pardon" à multidão das águas rasas para chegar até o local onde tinha deixado suas coisinhas : um par de sandálias, uma camiseta, um Rayban meio arranhado e as chaves do AP. Já não sabia onde procurar e nem sinal do casal dos dedões levantados.
Depois de algum "prá lá e prá cá" desistiu, e sem as chaves de casa, voltou descalço no chão quente e com os olhos azuis apertados do ataque solar. Já no prédio, conseguiu ajuda do porteiro que pediu um chaveiro para adentrar no AP. Puto, com os pés queimados e a alma partida, meu amigo François não esperou nem esfriar, resolveu sair de Salvador com a estadia já paga e "se picar" para Morro de São Paulo, outro paraíso desenhado carinhosamente na sua memória de franco-baiano. Tomara que dê tudo certo por lá!
(Ficção baseada em fatos reais)
O HORROR ALÉM DE HORIZONTE.
REPAREM NO MONSTRENGO ULTRAPASSANDO AS TORRES DA IGREJA DE SANTO ANTÔNIO DA BARRA.
TRATA-SE DO EDIFÍCIO MANSÃO WLDBERGER.,
AUTORIZADO PELO IPHAN E PELA PREFEITURA