- Europa não é passeio para crianças.
Cocei a cabeça e pensei imediatamente nas minhas duas filhas. Ele insistiu, mesmo sem ter conhecimento de causa.
- Isso é chatice para criança. Não convém levar mesmo. Elas vão ficar cansadas e nada curtirão.
Azia. Nem antiácido resolveria. A sombra fria do argumento vazio é luz calorosa na mente de quem o recebe. Fez-se a luz. Se tem algo me deixa taciturno é uma colocação mal colocada. Parece que o indivíduo não sustenta a tese pouco ensaiada e se perde no redemoinho da sua própria retórica. Divagador.
Respondi-lhe.
Disse-lhe que toda criança, em qualquer lugar que seja, merece aprender a apreciar o que encanta. E isso não necessariamente nos limites da Europa. Pode-se convidar os pequenos a apreciarem o belo em qualquer lugar - uma obra de arte inspirada e inspiradora; um por do sol magistral; a orquestra afinada das águas do mar sob a batuta da força viva do luar. Defendi a ideia de que a percepção daquilo que é belo não se amolda unicamente àquilo que não se faz singelo. O simples também provoca êxtase e admiração. Uma chuva no telhado. O cheiro de um prato. Uma palavra carinhosa de mãe ou pai. A chave para o encanto é a atenta e inteira observação. Importante mesmo é que a formação do ser humano contemple as belezas da existência e provoque em si uma efetiva reflexão.
- Falou muito, mas não esclareceu nada. O que tem Europa com isso?
A azia voltou a atacar. Levei a mão ao bolso procurando uma goma de mascar. Nada. Precisava melhorar meu raciocínio para não ser julgado como um mascate de premissas obtusas. Mas para mim, tudo era por demais óbvio. A Europa tem a beleza e a simplicidade, a arte e o requinte, o novo e o velho, a História e tantas histórias. Lembrei do quanto minhas filhas ficaram maravilhadas com um mundo tão novo e diferente. No Louvre, minha pequena de nove anos era um conjunto de questionamentos típicos de tenra e curiosa idade. Nas Galeries Lafayette, dezesseis suspiros de encantos - um para cada ano de minha filha mais velha. No Jardin des Tuileries, brincadeira de simplesmente nada brincar, esparramadas pelo gramado de tanto verde esperança - verde-vida com ainda tantos sonhos para desfrutar. Na Notre Dame, o respeitoso e solene ato de somente admirar.
Se as meninas foram a Paris, Paris veio até elas para, definitivamente, ficar. A Europa é uma grande universidade que comporta matrículas de grandes e pequenos. Refina os gostos estéticos e aprimora a sensibilidade.
Pode o tal tagarela do começo do texto insistir em questionar. Mas isso, amigo, não tem jeito. Europa é sim para criança. E não há mesmo como negar.
Cocei a cabeça e pensei imediatamente nas minhas duas filhas. Ele insistiu, mesmo sem ter conhecimento de causa.
- Isso é chatice para criança. Não convém levar mesmo. Elas vão ficar cansadas e nada curtirão.
Azia. Nem antiácido resolveria. A sombra fria do argumento vazio é luz calorosa na mente de quem o recebe. Fez-se a luz. Se tem algo me deixa taciturno é uma colocação mal colocada. Parece que o indivíduo não sustenta a tese pouco ensaiada e se perde no redemoinho da sua própria retórica. Divagador.
Respondi-lhe.
Disse-lhe que toda criança, em qualquer lugar que seja, merece aprender a apreciar o que encanta. E isso não necessariamente nos limites da Europa. Pode-se convidar os pequenos a apreciarem o belo em qualquer lugar - uma obra de arte inspirada e inspiradora; um por do sol magistral; a orquestra afinada das águas do mar sob a batuta da força viva do luar. Defendi a ideia de que a percepção daquilo que é belo não se amolda unicamente àquilo que não se faz singelo. O simples também provoca êxtase e admiração. Uma chuva no telhado. O cheiro de um prato. Uma palavra carinhosa de mãe ou pai. A chave para o encanto é a atenta e inteira observação. Importante mesmo é que a formação do ser humano contemple as belezas da existência e provoque em si uma efetiva reflexão.
- Falou muito, mas não esclareceu nada. O que tem Europa com isso?
A azia voltou a atacar. Levei a mão ao bolso procurando uma goma de mascar. Nada. Precisava melhorar meu raciocínio para não ser julgado como um mascate de premissas obtusas. Mas para mim, tudo era por demais óbvio. A Europa tem a beleza e a simplicidade, a arte e o requinte, o novo e o velho, a História e tantas histórias. Lembrei do quanto minhas filhas ficaram maravilhadas com um mundo tão novo e diferente. No Louvre, minha pequena de nove anos era um conjunto de questionamentos típicos de tenra e curiosa idade. Nas Galeries Lafayette, dezesseis suspiros de encantos - um para cada ano de minha filha mais velha. No Jardin des Tuileries, brincadeira de simplesmente nada brincar, esparramadas pelo gramado de tanto verde esperança - verde-vida com ainda tantos sonhos para desfrutar. Na Notre Dame, o respeitoso e solene ato de somente admirar.
Se as meninas foram a Paris, Paris veio até elas para, definitivamente, ficar. A Europa é uma grande universidade que comporta matrículas de grandes e pequenos. Refina os gostos estéticos e aprimora a sensibilidade.
Pode o tal tagarela do começo do texto insistir em questionar. Mas isso, amigo, não tem jeito. Europa é sim para criança. E não há mesmo como negar.
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