Conforme se aprofunda a investigação sobre o caso do “Aerococa”, novas informações são reveladas. Depois de levantarmos a suspeita do uso do tráfico para financiamento da extrema-direita espanhola, dessa vez o Voz Operaria constatou que durante a viagem do avião da comitiva presidencial, o radar com a tecnologia ADS-B estava desligado. Segundo a Lei de Acesso à Informação, aviões oficiais devem divulgar sua rota de voo [ocultando apenas seu ponto de partida e chegada], porém o governo vem descumprindo a lei.
Em outubro, enviamos requerimento à Deputada Gleisi Hoffmann do PT contestando o GSI sobre a rota de voo do “aerococa” e as relações do governo com o Vox [Partido de extrema-direita espanhol]. Agora também queremos saber porque o radar estava desligado, qual foi a rota [com o ponto de partida] e se o avião fez manutenção recente na Base Aérea do Galeão.
Entenda o caso
No aeroporto de Sevilha, sul da Espanha foi apreendido no dia 26 de junho, o sargento da aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues transportando 39 kg de cocaína no avião da comitiva presidencial, o modelo Embraer E-190 Lineage (FAB 2591).
Em comunicado oficial, a Guarda Civil da Espanha responsável pela fiscalização em aeroportos confirmou que o militar, cuja prisão é mantida preventivamente e o processo está sob sigilo pelo Ministério da Defesa e Força Aérea Brasileira afirma que os 39 quilos da droga estava divididos em 37 pacotes individuais em bagagem de mão. Diz o porta-voz da polícia espanhola: “Em sua mala, havia apenas drogas”. A perícia revelou que a cocaína tinha 80% de pureza e estava avaliada em 5 milhões de dólares.
As aeronaves da comitiva presidencial
O Brasil possui 4 aviões a serviço da presidência da república. Um Airbus A319 ACJ (Airbus Corporate Jet) e 3 Embraer E-190 Lineage. O Airbus é o “FAB 01”, é ele que tem a missão de levar o presidente e sua comitiva para deslocamentos mais longos. Já os modelos Embraer são utilizados para voos dentro do país ou países da América do Sul. O Airbus tem a matrícula FAB 2101 e os Embraer FAB 2590, FAB 2591 e FAB 2592. Um dos Lineage serve ao vice-presidente.
Em deslocamentos muito longos um dos modelos Embraer serve de “backup” para o Airbus e/ou podem levar outros membros da comitiva: ministros, assessores, convidados e até a imprensa. Ambos aviões tem autonomias semelhantes, com ligeira vantagem para o Airbus.
A tecnologia ADS-B complementa o sistema de vigilância por radares e aperfeiçoa o controle do tráfego aéreo
Por serem aviões modernos, tanto o Airbus quanto os modelos Embraer possuem um sistema chamado ADS-B, sigla em inglês para Automatic dependent surveillance-broadcast (sistema de vigilância dependente automática por radiodifusão).
Segundo o departamento de controle do espaço aéreo – DECEA, o ADS-B viabiliza às aeronaves a transmissão de informações como posição, altitude, velocidade, identificação, radial, destino, origem, razão de subida ou descida, dentre outros, através do VHF data link. Esses dados são difundidos automaticamente, até duas vezes por segundo, para os centros de controle. O sistema permite um maior número de amostras e mais parâmetros sobre as aeronaves do que era convencionalmente possível com o radar secundário. A ferramenta também é menos custosa e é especialmente eficaz em áreas ou terrenos montanhosos onde a cobertura do radar é limitada ou inexistente. Assim, ela amplia as coberturas para níveis mais baixos de voo, onde, anteriormente, o radar não alcançava.
Por serem aviões militares e de autoridades, geralmente não mostram o destino final por questões de segurança. É possível acompanhá-los pelo “Flight Radar24”, um aplicativo que mostra em tempo real onde estão os voos de companhias aéreas onde quer que estejam 24 horas por dia.
Porém, os militares retiraram o Airbus presidencial e dois dos Embraer sequer aparecem na busca pelo Flight Radar24. Apenas o FAB 2592 aparece na busca mas não é possível acompanha-lo. O transponder de cada avião tem a função principal de identificar o mesmo para o controle de tráfego aéreo, como também para outras aeronaves que voam próximas.
Entretanto, numa pesquisa pelo mesmo Flight Radar24, outros aviões da FAB podem ser encontrados. Como, por exemplo, aviões executivos que servem os presidentes do STF, da Câmara e do Senado, como na imagem abaixo:
Esses aviões também serviram o atual presidente na época da campanha eleitoral, após o controverso episódio da facada. É possível também achar outros aviões militares da FAB:
Na foto acima é possível acompanhar o voo desse Bandeirante da FAB. Por motivos de segurança, e também por ser um avião militar, o ponto de partida e o de chegada é omitido.
Os ADS-B dos aviões presidenciais estão desligados ou simplesmente foram retirados, evitando dessa maneira que pessoas utilizem o aplicativo do Flight Radar24 e possam minimamente acompanhar os voos presidenciais.
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