sábado, 30 de novembro de 2019

PARIS SEM GASTRONOMIA EXISTE?

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Gastar ou não gastar com restaurantes quando você viaja, eis la question. “Segredos de Paris”, a página no Facebook do Tom Pavesi, guia brasileiro morando em Paris há vinte anos, de repente pegou fogo com a polêmica.
Alguns consideram que gastar em boas refeições é dinheiro jeté na sarjeta. Outros esbanjam notas fiscais de famosos endereços onde farofeiro jamais entrará.
Gente! Nem huit nem oitenta, a não ser, claro que você se hospede no Plaza-Athénée onde as farras do Sergio Cabral ainda ecoam pelos corredores do cinq étoiles. Mas de lá a pretender que, como o tutu mineiro de sua tia é bem superior, prefere entrar de passo firme nos McDo de la vie, a distância é estratosférica.

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Vamos dissecar com délicatesse o assunto? Très simples. Suponhamos: Você vai a Belém, reduto da cultura dos únicos donos deste Brasil em chamas. Irá visitar quinze igrejas e vinte museus. Passeará por oito parques e ao longo dos cais sem esquecer o suntuoso mercado de Ver-o-Peso. Mas, por espírito de economia, deixará o Pará sem mergulhar por inteiro numa panela de pato no tucupi? Não repugnará em engolir um hambúrguer com french fries em vez de se deliciar com uma bela fatia de filhote? Então melhor ficar em casa, porque terá perdido grande parte de sua viagem.
Viajar não é só percorrer milhas de Renoir e Monet, descer do Sacré-Coeur para subir na Tour Eiffel ou lamber as vitrines da Avenue Montaigne onde Chanel, Armani e Dior aguardam os dólares dos nouveaux-riches árabes, russos e chineses.

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Pelo amor de Baco! Comer é o pecado mais capital da vida! Abrir um cardápio onde os pratos se oferecem como poesia, levar a seus lábios uma taça de vinho cor de rubi e, antes de pegar no garfo, contemplar o arranjo elaborado pelo chefe... Um conselho: não abuse do Opium para não brigar com os cheiros de votre assiette.
Já entendi... Esta viagem foi o sonho de sua vida, muito ralou e economizou para chegar até aqui e não pode se dar ao luxo de um Lasserre ou Grand Véfour. Mas isso não é  motivo para se precipitar no primeiro fast-food que encontrar. Adentre esta boulangerie-pâtisserie. Hesitará prazerosamente entre chaussons e feuilletés, baba-au-rhum e éclair au chocolate. Além de mais saboroso, sairá mais em conta e sua saúde agradecerá.  E que tal experimentar os tesouros de qualquer feira ou mercado?

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Considero-me, pardonnez mon arrogance, um turista profissional. De Amsterdam a Addis-Abeba, de Lima a Marrakesh, sempre procurei conhecer a culinária local. É só fechar os olhos e já estou me encantando com a lembrança do acará de Cotonu, o tamal de Bogotá ou os mezze de Alepo.

Não tenha dúvida: um gigot d´agneau aux haricots com um bom Bordeaux tinto vale tanto quanto três horas de Louvre.

Um comentário:

  1. Penso que a gastronomia em geral depende como você bem disse, da cultura e a história de cada nação.

    A ARTE da gastronomia de todas partes do mundo pode estar relacionada a uma tradição familiar, a uma religião, ao seu meio social e cultural. Ou seja, uma discussão sem fim, onde sempre haverá polêmicas e poucas soluções. Abraços Dimitri! ��

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