quinta-feira, 21 de novembro de 2019

UM FILME PARA NÃO PERDER

Parasita: o filme coreano que é sucesso de crítica e público




    Declarado por críticos como melhor filme do ano, longa trata da desigualdade de classe entre duas famílias com humor e suspense a um só tempo
    A família Kim em cena de Parasita
    Não é pouco o “hype” em torno de “Parasita”, filme do sul-coreano Bong Joon-ho que estreou no Brasil em 7 de novembro. Ele vem sendo amplamente citado na imprensa especializada como um dos melhores filmes do ano e, além disso, tem feito números expressivos de bilheteria.
    O filme já arrecadou cerca de US$ 107 milhões globalmente. É um blockbuster na Coreia do Sul e bateu recordes nos Estados Unidos, um mercado conhecido por consumir poucos filmes estrangeiros. Nos cinemas brasileiros, segundo noticiou o site Adorocinema na terça-feira (12), “Parasita” é atualmente a sexta maior bilheteria.
    Seu tema central é a desigualdade de classes. Ela é tratada pela relação entre duas famílias, os Kim, que são pobres e vivem num porão, e os Park, abastados e habitantes de uma mansão luxuosa. Os primeiros irão se “infiltrar” um a um na vida da família rica, empregando-se em diferentes funções de seu cotidiano.
    Em meio a uma série de filmes recentes que abordam facetas da desigualdade, “Parasita” guarda paralelos especialmente numerosos com “Nós” (2019). Assim como o sul-coreano, o filme do americano Jordan Peele lida com os contrastes e espelhamentos entre duas famílias de quatro pessoas, de classes diferentes, e traz elementos como o terror e a invasão da casa de uns pelos outros.





    Segundo o “consenso da crítica”, resumo sucinto das resenhas agregadas pelo site Rotten Tomatoes sobre determinado filme, “Parasita” é um olhar urgente, com camadas brilhantemente construídas, sobre temas sociais oportunos. Além disso, o diretor alcança no filme “um domínio quase total de sua arte”. O site contabiliza 99% de críticas positivas sobre o filme.

    O Nexo condensa abaixo, em dois tópicos principais, elementos para o êxito do filme.

    Misto de comédia, suspense e crítica social
    O filme começa como uma comédia ácida, mas se desenrola como sátira social com elementos de suspense e horror. Classificar o trabalho do diretor por gêneros cinematográficos, porém, é perder de vista sua originalidade e consistência, segundo escreve o crítico do New York Times A.O. Scott.

    Com influência hitchcockiana, “Parasita” é uma história sobre o capitalismo, segundo declara o próprio diretor, tal qual são outros de seus filmes. É a distopia na qual vive a Coreia do Sul e o mundo. “Antes de ser um grande termo sociológico, o capitalismo é apenas a nossa vida”, diz Bong.

    Uma série de críticas também ressaltam a maneira como ele “contrabandeia” o filme de arte para dentro do blockbuster – ou vice-versa.

    Assim, ele diverte, surpreende, assusta e, ancorado em questões do presente, faz pensar. “O que faz de ‘Parasita’ o filme do ano – e pode fazer de Bong o cineasta do século – é a maneira como consegue ser ao mesmo tempo fantástico e fiel à vida, intensamente metafórica e devastadoramente concreto”, escreve Scott.

    Reviravolta na trama
    Diversas críticas recomendam que o espectador tenha acesso ao mínimo de informação possível sobre a trama do filme antes de assisti-lo. Outras tantas mencionam seu final impactante e críptico.

    Durante o Festival de Cannes, o próprio diretor divulgou uma carta na qual implorou aos críticos para não revelarem detalhes do enredo do filme para além das informações dadas pelo trailer. Esse ar de segredo é um dos fatores que tem despertado a curiosidade de muitos espectadores.

    Assim como a trama dos filmes “Corra!” e “O sexto sentido”, segundo exemplifica a revista Fortune, a de “Parasita” tem um ponto de virada que “é melhor desfrutado em primeira mão”.

    A trajetória do filme
    A fama de “Parasita” começou a se alastrar em maio de 2019, quando ele se tornou o primeiro filme coreano da história a conquistar a Palma de Ouro, prêmio máximo do prestigiado Festival de Cannes, na França. Foi uma decisão unânime do júri presidido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu, fato também quase inédito na história do festival.

    Depois disso, teve uma recepção eufórica por parte de críticos e outros festivais internacionais, como o Festival Internacional de Cinema de Toronto. Devido ao sucesso, o filme vem sendo um forte candidato a ganhar o Oscar 2020 na categoria de melhor filme estrangeiro. Muitos apostam ainda que ele deve receber indicações em outras categorias, como melhor fotografia, melhor diretor e que tem chance de ser indicado para a categoria principal, de melhor filme, o que seria um feito inédito para a Coreia do Sul.

    Quem é o diretor
    A carreira do sul-coreano Bong Joon-ho teve início na década de 1990. Ele fez seus primeiros longas nos anos 2000 – é dele o filme de monstro “O hospedeiro” (2006). Na década seguinte, dirigiu coproduções que ganharam maior projeção fora de seu país, como o suspense “Expresso do amanhã” (2013) e o filme de aventura “Okja” (2017), produzido pela Netflix. “Expresso do amanhã” custou US$ 40 milhões, tornando-se na época o filme mais caro da história do cinema coreano.

    Bong possui uma legião de seguidores, formada por cinéfilos, atores e cineastas. No Twitter, a hashtag #BongHive reúne posts sobre seus filmes.

    Considerado um autor internacional do cinema, Bong retornou ao país natal para filmar “Parasita”, seu primeiro filme em uma década feito inteiramente na Coreia do Sul.

    Curiosamente, foi justamente esse – e não seus filmes falados em inglês e rodados em outros países – que se tornou um fenômeno internacional. Ou talvez não tenha nada de surpreendente nisso.

    Uma reportagem do site de cultura Vulture levanta a hipótese de que “Parasita” ressoa no mundo justamente por ser tão distintamente coreano. A história moderna do país, marcada a colonização japonesa, a Guerra da Coreia e uma ditadura militar, deu aos filmes de uma geração de cineastas, como Lee Chang-dong e Park Chan-wook, um senso de urgência. Em um contexto no qual autoritarismos emergem e a desigualdade cresce a nível global, esse cinema está especialmente apto a falar sobre a contemporaneidade.

    “O verdadeiro horror em ‘Parasita’ é que não fala apenas de como a situação atual está ruim, mas de como ela só vai piorar”, disse Bong Joon-ho ao Vulture.




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