A nova rotina de Carlos Bolsonaro na Câmara: não toma mais elevador, leva seu café e tem sido visto com a mãe. Por J. Cássio
Quem acompanha Carlos Bolsonaro jamais podia imaginar que um dia ele votou pela concessão da principal honraria do Rio de Janeiro a Carlos Marighella.
Isso mesmo: como vereador, em 2009 ele deu seu aval ao projeto de Lei para conceder ao guerrilheiro comunista marxista-leninista e um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar a “medalha Pedro Ernesto”, só concedida a personalidades ilustres e com uma folha de serviços prestados ao Rio.
O Zero Dois também deu voto favorável, e decisivo, para o tombamento do Cieps (Centros Integrados de Educação Pública), idealizado pelo governador Leonel Brizola junto com seu parceiro de lutas Darcy Ribeiro.
Ambas as proposituras são de autoria do vereador Leonel Brizola Neto (PSOL), um dos poucos que falam sobre a atuação de Carluxo na Câmara Municipal sem pedir off.
“Comigo ele sempre foi educado e cordial”, diz Brizola, que anos atrás chegou a tomar chope com o filho do presidente num bar em Botafogo. “Estávamos nós dois e um amigo comunista. Ficamos de boa”.
Carlos Bolsonaro está no quinto mandato como vereador no Rio de Janeiro, onde chegou aos 17 anos, em 2000, tendo concorrido e derrotado a própria mãe, Rogéria Nantes Nunes Braga, ex-mulher de Jair.
O rapaz introvertido e desapegado dos primeiros tempos deu lugar ao feroz combatente dos políticos ligados à esquerda, suspeito, agora, segundo investigação da Polícia Civil, de envolvimento na morte de Marielle e do motorista Anderson.
Segundo relatos de quem acompanha a rotina da Câmara, Carluxo, que voltou após uma licença por estafa entre 9 de setembro e 8 de outubro, é um paranoico incorrigível.
Não aceita sequer um cafezinho. Água? Traz de casa.
Seu gabinete de trabalho fica no nono andar. Ainda assim ele evita o elevador: sobe e desce pelas escadas, sempre acompanhado de dois seguranças fortemente armados. Que, aliás, são substituídos a cada semana.
Exceto no plenário, onde comparece às sessões às terças, quartas e quintas, não participa de nenhuma atividade. Não relata projetos e não apresenta proposituras.
É, acredite, membro da Comissão de Direitos Humanos, um espaço tradicionalmente dominado pela direita conservadora no Parlamento do Rio.
Em quase 20 anos como vereador, nunca foi visto numa audiência pública. Sequer a do Orçamento municipal, quando os vereadores são obrigados a comparecer para debater com os representantes do primeiro escalão do Executivo os parâmetros que vão orientar o planejamento da cidade no ano seguinte.
Entre os vereadores, seu apelido é Hello Kitty, numa alusão a famosa boneca que não fala.
Quando se comunica, sempre com colegas da base evangélica e militar, leva a mão à boca para evitar que alguém possa fazer uma leitura labial de suas palavras.
Nesta semana, após a polícia civil admitir que ele está sendo investigado pelo assassinato de Marielle e Ânderson, Carluxo tem apresentado um olhar vago. Assustado para ser mais exato, segundo pessoas com os quais o DCM conversou.
Sua mãe, Rogéria Nantes Nunes Braga, tem sido vista com frequência ao lado do filho. Ela também pouco conversa e é descrita como uma mulher ‘pomposa’ e ‘bem arrumada’.
Carlos já adiantou que não quer concorrer à reeleição em 2020. Quer convencer a mãe a também não participar.
O Zero Dois, que um dia apoiou uma homenagem a Marighella e votou para transformar em patrimônio Cultural e Histórico o Cieps, era um rapaz confuso e, agora, também assustado, depois que a polícia o colocou no radar.
Impossível prever o seu futuro.
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