Valter Hugo Mãe
Quando Trump assassina Qassem Soleimani está a convidar para a guerra e a começar a campanha para a sua reeleição a 3 de novembro próximo. As elites de Direita refulgem com a hipótese da guerra, grande jogo financeiro que sempre serviu para recapitalizar os bancos e as fortunas tradicionais. O povo, absolutamente nas mãos destas prepotências, ansiará por segurança, enquanto seus filhos serão debitados na convicção de estarem a defender a pátria e a piedadezinha do Deus cristão.
Entre o tremendo que pode ser o Governo iraniano, com sua obstinação religiosa, e o tremendo que é o Governo Trump, com sua fé capitalista, venha o diabo e escolha. O certo é que Trump não se pode arrogar a justiceiro de coisa alguma. O povo iraniano, como um todo, não clama por libertação, senão exatamente do embargo imposto pelos EUA. Trump é tão-só o assassino de outro mau homem, com o sentido claro de se erguer como guerreiro bravo de uma contenda que usa a moral de modo cínico, ilegítimo, insuportável.
O ano de 2020 começa assim. Vale tudo para Trump se manter na cadeira mais poderosa do Mundo, com sua ação errática, delirante e infantil, porque será certamente reconduzido pelo medo que ele próprio começou a construir.
Reconhecemos os cemitérios iranianos pelas pedras levantadas com fotografias imensas dos mortos em conflitos de guerra. São fotografias que nos habituamos a ver de estrelas da canção, nunca dos mortos. Venerados, esses homens jovens são lembrados com tristeza e orgulho, para que se mantenha a consciência de que a guerra está à espera. Os homens são ensinados para a História recente, como seu povo se tornou alvo de preconceito e boicote do mundo ocidental. Sabem que a qualquer altura poderão ter de combater. Os mortos, já heróis, obrigam à nova heroicidade.
Diziam-me que a cidadania iraniana só é decorosa se odiar os EUA. E os EUA têm 40 anos de sanções e humilhações feitas aos iranianos. É o povo quem medra nos efeitos atrozes do embargo, é o brio dos persas que se fere na chacota contínua. O país de Rumi e de Hafez, Ferdowsi ou Sa"adi é profundo de cultura e esplendor, não pode ser simplificado pelo advento do fundamentalismo que, em rigor, diz respeito a uma franja diminuta da comunidade, franja essa que aumenta de cada vez que os EUA lhes fazem ver que os caridosos cristãos os odeiam a todos e os querem eliminar.
Soleiman não foi morto em contexto de guerra. Trump não agiu com autorização do Congresso. É tão-só uma manobra pessoal de reeleição que leva o Mundo ao pé de novo terror. De outro modo, pura demência.
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