Precioso manuscrito do poeta persa Hafiz que fora roubado será vendido em leilão
A recuperação do precioso manuscrito do século XV, liga o grande bardo de um velho império numa intriga com ladrões de arte, a polícia alemã e o serviços secretos iranianos, mas tem como herói um detective de arte holandês
Esta noite serve até cima o teu copo. A embriaguez não será desperdiçada. É o próprio vinho quem deseja brindar em nome do seu mais vigoroso cantor. O tecto abre-se sobre as nossas cabeças e o céu parece tentado a despenhar-se sobre os caracteres de um texto. Para notícia de jornal talvez esta pareça tocada? Tem sido motivo de grande júbilo a redescoberta de um manuscrito valiosíssimo do poeta persa do século XIV Hafiz. E a história tem um encanto especial pois o manuscrito que havia sido roubado foi encontrado no início do ano por um detective de arte holandês. E agora que esta cópia manuscrita, com os versos e iluminuras bafejados a ouro, do Divã de Hafiz foi recuperada, irá a leilão.
O bardo tem no Irão um culto imoderado, e tendo desaparecido há 630 anos, este manuscrito datado de 1462, é uma das primeiras reprodução da sua obra. Ricamente ilustrado pelo calígrafo Shaykh Mahmud Pir Budaqi, fazia parte do tesouro de arte islâmica do coleccionador Jafar Ghazi, que morreu na Alemanha em 2007. Após a sua morte, os herdeiros descobriram que muitos de seus manuscritos haviam sido roubados. E é neste ponto que, mesmo quem não tem ouvido para especiarias sonoras, mesmo quem não se vê a atirar com a cama para um rio de vinho, e ir saber onde este leva, poderá ser seduzido pelas desventuras de Arthur Brand, o detetive de arte holandês que, antes mesmo de ter deslindado este caso, noutras investigações havia já encontrado um par de cavalos de bronze esculpidos para Adolf Hitler e um Picasso roubado.
Ao fazer o inventário das peças de arte de Ghazi, os herdeiros deram-se conta de que várias centenas haviam sido roubadas. Em 2011, a polícia alemã havia recuperado 175 peças, mas o Divã continuava desaparecido. Foi então oferecida uma recompensa de 50 mil euros em troca de informações sobre o paradeiro do valioso manuscrito. Nem assim a investigação foi mais longe. E sem novas pistas, sem que a polícia soubesse para onde se virar, foram elementos da embaixada iraniana que andaram a fazer averiguações, a contactar negociantes de arte e qualquer pessoa a quem rumores sobre o destino que tinha levado o manuscrito pudessem ter chegado.
Com o ouvido encostado ao chão no que toca a este género de bulício, o holandês não demorou a pôr-se em campo, sabendo que teria boas hipóteses de acrescentar mais um belo troféu à sua lenda. Assim, Brand deu com o comprador daquela cópia do manuscrito em Londres. Tinha-lhe sido vendida por um intermediário em Paris, mas o comprador não sabia que se tratava de uma peça roubada. Com os serviços secretos iranianos envolvidos na caçada, Brand conseguiu convencer o comprador a não tentar recuperar o dinheiro que tinha pago mas, antes, a devolver o manuscrito, já que, de outro modo, iria incriminar-se.
Agora, os herdeiros de Ghazi, que já se desfizeram de boa parte dos manuscritos, esperam conseguir entre 100 a 150 mil euros pela rara cópia de Divã num leilão que a Sotheby's tem agendado para dia 1 de abril. A Sotheby's vendeu já outros 60 manuscritos da colecção de Ghazi, sendo que a maioria viu os lances dobrar as estimativas de pré-venda.
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