sábado, 28 de março de 2020

FUGAM DA CARNIÇA

caricatura | dexwork   Estamos pagando um alto preço por ter na presidência da republica um imbecil sem escrúpulos, desatinado e perverso, com uma equipe que é seu espelho. Não se pode esperar desta gente um mínimo de decência. 
O líder do atual desgoverno não está nem um pouco preocupado com a economia. Esta é mais uma mentira que prega descaradamente. Antes que o Covid-19 chegasse ele preparou-lhe o terreno para a propagação com sua política de desmonte do Estado, debilitando a economia nacional, fragilizando o Sistema Único de Saúde, atacando as instituições responsáveis pela pesquisa, desfazendo da ciência e da tecnologia, ao tempo em que propalava o obscurantismo de sua base de apoio fundamentalista. 
Promoveu a entrega da riqueza nacional a corporações internacionais, apostou na precarização do trabalho, levou grandes massas de volta à miséria, fez crescer o desemprego e a informalidade, suprimiu direitos adquiridos, mutilou e desativou conselhos que poderiam agora ser armas importantes de geração de políticas públicas fundamentais para o enfrentamento da crise. 
Estendeu um tapete vermelho para o vírus. Numa triste expedição de vassalagem, tornou-se, com sua equipe, seu portador, seu embaixador, seu importador. Agora se faz seu aliado fervoroso, exigindo o sacrifício de vidas humanas, em nome “da economia”. Mas seu programa econômico se resume a um único lema, uma única meta: a manutenção de privilégios de uma minoria escandalosamente reduzida. Seu propósito atual é evitar de qualquer modo uma medida que a crise tornou indispensável, não só para a defesa da vida como também para o resguardo da economia: distribuição de renda. 
Mesmo nos Estados Unidos e em outros países capitalistas de ponta os governantes estão tomando algumas medidas nesta direção, embora constrangidos. Mas o deslavado cinismo de nossa elite escravista não hesita diante do morticínio, quer manter seus privilégios mesmo à custa de uma hecatombe. Contam com um dirigente cretino que não se peja de mentir descaradamente, contestando dados científicos, negando evidências gritantes para defender os parasitas que o sustentam. Agora temos de fazer um esforço para conversar com os infelizes que elegeram essa pústula. Parte deles é impermeável à razão. Não há conversa possível com os milicianos que comungam seu ideal de violência, seu amor à ditadura, à tortura e à fraude. Tampouco a minoria de privilegiados que vive de especulação, os campeões da ganância sem freio: estes o defenderão até o fim com todas as armas da hipocrisia. 
Há também entre os eleitores de Bolsonaro uma fração que uma grossa pandemia de estupidez tornou incurável: os adoradores do “mito”, capazes de aplaudir o facínora sem enxergar-lhe o histrionismo mesmo quando ele usa um palhaço para duplicar-se numa exibição grotesca. Dessa turma que ri de suas grosserias, de seus insultos obscenos, desse rebanho aparvalhado que diz amém quando ele qualifica a Covid-19 de “gripezinha” ou “resfriadinho”, não se pode esperar qualquer centelha de raciocínio. Continuarão agarrados ao ídolo em que veem projetada sua boçalidade e que por isso mesmo adoram. 
Mas há, sim, um grupo considerável de pessoas que se deixaram enganar por fake news, por apelos hipócritas à moral e à religião. Alguns caíram em um velho truque, já empregado antes por outros demagogos que descobriram o mais seguro e eficaz meio de entregar-se impunemente à corrupção: pregar e simular o combate à corrupção. Sim, muitos elegeram esse espantalho por ingenuidade. Com estes o diálogo é possível e necessário. 
Enquanto escrevo estas linhas penso em pessoas queridas, velhos amigos e até membros de minha família que deram seu voto a um paspalho indecente, julgando defender valores encarecidos. Para minha perplexidade, alguns o fizeram pensando que assim se punham do lado da moralidade ou do cristianismo, por exemplo. Nunca entenderei como puderam enganar-se associando ao evangelho um homem que se declarou publicamente favorável à tortura e disse sonhar com uma guerra civil na qual pelo menos trinta mil pessoas fossem dizimadas; como acreditaram em valores morais em um devoto de Pinochet e Stroessner, em um cafajeste que insulta mulheres de forma impudente e é capaz de classificá-las, segundo sua fútil ideia de beleza, em merecedoras e não merecedoras de estupro. 
Acho que muitos sofreram uma terrível perturbação que lhes anuviou a mente, quiçá por conta de propaganda perversa. Não deixarei nem por um instante de amar essas pessoas de que me descobri com espanto muito separado em termos de julgamento. 
Mas quero dizer-lhes agora com lágrimas nos olhos: pelo amor de Deus, por tudo que consideram sagrado, pelo carinho de seu pai, pelo amor de sua mãe, pela vida de seus filhos, não se suicidem, não ouçam o apelo do genocida, não vão para a rua, não propaguem um chamado criminoso, não apoiem um assassino. Esta doença é real e matará muitos. 
Qualquer palavra que for dita em favor de um governo irresponsável, genocida, terá um eco sinistro nos cemitérios, será fonte de dor e desespero. Eu acredito na boa vontade de vocês, na pureza de seus corações. Mantenham-se longe da peste, não lhe deem ouvidos. Fujam da carniça. Mantenham-se limpos.
Ordep Serra

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