terça-feira, 31 de agosto de 2021
O GOVERNO NÃO DIALOGA
VEREADORES DE VERA CRUZ COBRAM AO GOVERNO ESCLARECIMENTOS SOBRE PONTE SALVADOR~ITAPARICA
por Vitor Castro
Os vereadores da cidade de Vera Cruz, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), através da Comissão Parlamentar Especial da Ponte Salvador-Itaparica, buscaram o Bahia Notícias para denunciar a falta de diálogo junto ao governo do estado sobre os diversos aspectos que permeiam a construção do equipamento. De acordo com a Comissão, o legislativo municipal não é recebido pelo governo e não tem conhecimento de prazos, impactos socioeconômicos e medidas de mitigação que deverão ser adotadas.
Ressaltando que a cidade não é contra a construção do equipamento, o presidente da Comissão, vereador Jorge dos Santos (Republicanos), relatou que não tem tido resposta dos órgãos governamentais, em especial, da Secretaria estadual de Infraestrutura (Seinfra), sobre informações à respeito da contrução da ponte.
Ele conta que o governo assumiu alguns compromissos condicionantes para a instalação do equipamento, mas até então, nada foi cumprido. “Propuseram investimentos em diversas áreas como a instalação de leitos de UTI, a instalação de uma faculdade, calçamento das vicinais da BA, investimento em segurança pública, além de investimentos em mobilidade, mas nada disso até agora foi implementado”, disse.
Segundo o vereador, moradores de diversas comunidades entram em contato sinalizando a presença de agentes fazendo medições do solo, mas sem informar do que se trata. “Já houve audiências abertas lá atrás, no entanto, em nenhum momento falaram para a gente o traçado da ponte, ou discutiram a questão das indenizações das desapropriações, que é algo que assusta as pessoas. Todo mundo procura a gente querendo entender, inclusive já fizeram visitas em algumas comunidades para passar o traçado da ponte, mas a gente que é do Poder Legislativo, não tem conhecimento. Para a gente é uma incógnita”, disse.
O presidente da comissão relata já ter tentando contato com o secretário de Infraestrutura, Marcus Cavalcanti, e com o vice-governador João Leão, mas os encontros ficam apenas nas promessas. “Ficaram de enviar membros do governo para explicar a gente. Em Salvador, quando os vereadores questionaram a ponte, o vice-governador esteve na Câmara, explicou, mas aqui estamos a ver navios sobre algo que afeta diretamente a gente”, disse.
As respostas cobradas pela Câmara vão desde o local onde será instalado o equipamento, até como os impactos socioambientais serão mitigados. O vereador lembra que promessas foram feitas, mas ainda não foram cumpridas, como por exemplo, a dragagem do canal da lancha. "A cidade que poderia ter todo amparo do poder público, justamente porque a ponte vai passar por dentro de Vera Cruz, e vai mudar toda a nossa política social, econômica e cultural, não tem resposta do governo”, pontuou.
A expectativa é de que, quando concluídas as obras, a população da cidade, hoje com cerca de 50 mil habitantes, chegue a quadruplicar. “Como vamos dividir o que não temos? Se não temos hospital para todo esse contingente. Dependemos do hospital regional, precisamos preparar a cidade para essa demanda que virá. Não somos contra o governo, mas precisamos defender nossa cidade. Se não houver diálogo, vamos entrar com um recurso no Ministério Público pedindo por uma decisão judicial que obrigue o estado a ouvir a gente, explicar para a Câmara de Vereadores onde vai ser afetada a cidade, quais as consequências e como a gente pode mitigar os impactos e ajudar a cada morador”, finalizou.
O Bahia Notícias entrou em contato com o governo através da Seinfra, e levou os questionamentos dos vereadores, no entanto, até o fechamento desta matéria, não houve resposta.
JOAQUIM PÍNTO DE OLIVEIRA, ESCRAVO E ARQUITETO
Escravo que projetava igrejas é reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte
Um escravo conhecido como Tebas se destacou no século XVIII em São Paulo por criar projetos de edifícios, principalmente religiosos. Ele era famoso por dominar a técnica da cantaria, arte de talhar pedras em formas geométricas. Apesar da importância de suas obras, ele só foi reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte.
Sua história foi relembrada recentemente com o lançamento do livro Tebas: Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata, organizado pelo jornalista Abilio Ferreira. Nascido em Santos, em 1721, o nome verdadeiro de Tebas era Joaquim Pinto de Oliveira. Como escravo, seu proprietário era um renomado mestre de obras da cidade chamado Bento de Oliveira Lima, com quem aprendeu o ofício. Segundo o inventário de Lima, Tebas era mais valioso do que seus outros quatro escravos que atuavam como pedreiros juntos.
Com o tempo, Lima e Tebas passaram a ser solicitados para trabalhar em São Paulo. Entre as obras em que atuaram estava a restauração da antiga Catedral da Sé (demolida em 1911). Como Lima morreu antes de terminar a obra, sua viúva ficou endividada e teve que vender Tebas. Como queria concluir a fachada da igreja, o arcebispo Matheus Lourenço de Carvalho comprou Tebas. Após a conclusão da reforma, o religioso concedeu a alforria a ele no fim da década de 1770.
Livre, Tebas continuou a trabalhar na área da construção. Ele morreu aos 90 anos. Em 2018, foi considerado oficialmente arquiteto pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo.
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
DROGAS: A SOLUÇÃO PORTUGUESA
“Cem pessoas aqui, por dia, são cem momentos em que não estão na rua”
Primeira sala de consumo vigiado Äxa do país abriu há três meses em Lisboa, duas décadas depois de a lei passar a prever este tipo de instalações. Quem a frequenta diz sentir-se mais seguro
A V., o espaço já não lhe é estranho. Afinal, por ali passa todos os dias pelo menos três vezes — “às vezes mais” —, sempre que sente necessidade de consumir. Acabara de sair da sala onde se consomem drogas injectáveis, uma das vias que apresentam maior risco quanto à possibilidade de overdose, mas também de propagação de doenças infecciosas, sobretudo se houver partilha de seringas e de outros materiais.
Estamos na Quinta do Loureiro, dentro do bairro municipal construído depois da demolição das barracas da colina do antigo Casal Ventoso. É um local onde se convive com a droga há largas décadas e, por isso mesmo, lugar óbvio para a instalação da primeira sala de consumo vigiado fixa do país, vulgarmente conhecida por “sala de chuto”. Aberta há pouco mais de três meses, por ali há duas palavras de ordem: reduzir danos.
Como? Com a distribuição de material asséptico para evitar a transmissão de doenças. Com consumos supervisionados por um profissional de saúde, pronto a intervir em caso de necessidade, pronto a evitar uma overdose e a salvar uma vida. São essas condições e o acolhimento sem julgamentos que fazem V. regressar. “Sinto-me muito seguro e muito confortável aqui. Melhor do que na rua. E, além da segurança, o mais importante é a higiene”, diz o homem de 47 anos, que pediu para não ser identificado.
Estas salas de consumo “são habitualmente instaladas nas zonas onde se vende e onde se consome”, contextualiza o psicólogo Hugo Faria, um dos técnicos da associação Ares do Pinhal — que gere o equipamento e acompanha os utentes. Na verdade, algumas das áreas que hoje pisamos eram já antes salas de consumo a céu “Cem pessoas aqui, por dia, são cem momentos em que não estão na rua”
Primeira sala de consumo vigiado Äxa do país abriu há três meses em Lisboa, duas décadas depois de a lei passar a prever este tipo de instalações. Quem a frequenta diz sentir-se mais seguro aberto, rodeadas de seringas e lixo. “Isto era tudo aberto e o pessoal metia-se todo aqui. Muita gente consumia aqui todos os dias”, recorda V.
Talvez isso justifique a adesão que a sala tem tido, apenas três meses após a sua abertura, a 18 de Maio: 566 pessoas inscritas, cerca de cem utilizadores diários. “É uma peça que encaixou [no local]”, diz o psicólogo. Mal se passam as portas do Serviço de Apoio Integrado — assim é a designação oficial —, há um espaço, o Café Conforto, com mesas e cadeiras onde se pode ver televisão, tomar um café, fazer as refeições e deixar os animais de companhia. Há também balneários, serviço de lavandaria, áreas para atendimento psicossocial, consultas de clínica geral e rastreios de doenças infecto-contagiosas, assim como para procedimentos simples de enfermagem, como trocar pensos.
Um espaço seguro
O trabalho começa precisamente por garantir que estas pessoas têm acesso ao que é mais básico. “Há utentes que nos dizem que, como estão com a higiene mais cuidada, têm um melhor aspecto e já são olhados de outra forma. Apesar do pouco tempo de trabalho, algumas coisas já se começam a reflectir”, nota a psicóloga Roberta Reis, também membro desta equipa de 12 profissionais, na qual há psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e um clínico geral, que acompanham os utentes. Quando os técnicos falam nestes cem utilizadores diários, referem-se apenas àqueles que ali vão consumir.
De fora dessas contas, ficam os que passam apenas para tomar um banho, lavar a roupa ou então procurar um sítio mais digno para fazer as suas refeições. “Alguns utilizam as salas várias vezes por dia. Temos pessoas que trabalham e que vêem aqui um espaço para fazer o seu consumo a meio do dia porque estão mais seguras em relação à confidencialidade e porque no consumo feito na rua pode acontecer tudo”, observa Hugo Faria.
O responsável pela equipa, Hugo Faria, destaca a importância da redução de danos, muitas vezes desvalorizada. Quem ali trabalha aceita a condição em que cada pessoa se encontra, e parte daí para um novo caminho 566 pessoas estão inscritas no primeiro centro de consumo vigiado do país, que abriu há três meses, em Lisboa. Destas, cerca de cem vão ali diariamente
Pelo que os técnicos vão percebendo, quem ali aparece são pessoas que já andavam naquela zona, o que reforça uma conclusão já retirada de outros exemplos de salas pela Europa: “As pessoas não se deslocam para ir à sala de consumo. As pessoas deslocam-se pela substância.” Daí a necessidade de estes espaços se localizarem próximos de locais de venda e consumo. Sempre que chega um novo utilizador, a equipa tenta recolher os dados básicos de cada utente: nome, data de nascimento, nacionalidade, se tem ou não abrigo e qual a via de consumo que utiliza. Nem sempre conseguem, porque há utentes que não estão para grandes conversas. Vão entrando e saindo vários utentes.
Os técnicos já lhes sabem os nomes. Sempre que chega alguém para consumir, comunicam entre si por walkie-talkies para perceber se há lugar nas salas. Lá dentro, há dois espaços dedicados ao consumo: um destinado aos utentes que o fazem por via injectável e outro por via fumada. Quando acedem à sala de consumo, o enfermeiro faz-lhe algumas perguntas: que droga vai usar, o que consumiu nas últimas 24 horas, que medicação toma, se integra o programa da metadona.
Informação essencial para saberem como actuar numa situação de emergência. O material, como seringas, pratas e cachimbos, dependendo do tipo de consumo, é distribuído. As misturas são feitas ali e não podem vir preparadas. O enfermeiro Samuel Areias está ali para o que der e vier. Primeiro, “para garantir que fazem um consumo de maneira asséptica, evitando que estejam no meio da rua a preparar, que apanhem uma carica do chão para preparar a dose ali”. Depois, para visualizar o consumo sempre que é feito em zonas onde o risco seja maior.
Ao pé de si, tem um carrinho de emergência, a que espera nunca ter de recorrer. Os utentes têm 30 minutos para fazerem o consumo injectado e 40 minutos no caso de ser fumado. Depois, mais 20 minutos de “recobro”. “Aqui estão seguros. Sentem-se tranquilos. Muitas vezes, até Æcam mais do que o tempo [previsto]”, diz o enfermeiro, que trabalha também na urgência de um hospital da capital.
Uma espera de 20 anos
Samuel confessa que chegou a duvidar se teria “estômago” para isto. “Este é um trabalho que não é para toda a gente. É um bocadinho fora da caixa. Estamos a ver uma coisa que dizemos para eles não fazerem. Há muita gente que não consegue perceber o outro lado.” Por ali, essa é a missão constante: apoiar mais do que julgar.
A primeira sala de consumo vigiado abriu em Junho de 1986 em Berna, na Suíça. Nos anos seguintes, foram criadas instalações do mesmo tipo em vários países. Em Portugal, estão previstas na pioneira lei de 2001, que regulamentou as políticas de redução de danos associados ao consumo de substâncias ilícitas. Só em Abril de 2018 a Câmara de Lisboa, anunciou a abertura de um destes equipamentos. Desde meados de 2019 haja uma carrinha — uma sala móvel — que percorre várias zonas da cidade. Paulo S. conhece bem uma sala em França em que a área para os consumidores de substâncias fumadas é “muito grande”, tal como a de Lisboa deveria ser, repara. “O pessoal é cinco estrelas.
O processo está muito bem organizado. Só o espaço é que é pequeno para os consumidores que fumam. Deveria ser maior. Há muito mais gente para o consumo fumado”, diz o homem de 49 anos, desde 2007 preso à droga, após ter perdido a mulher e um filho e a vida se ter tornado demasiado insuportável. Grande parte da adesão ao projecto justifica-se pelo trabalho feito pela equipa comunitária que anda nas ruas, acredita Roberta Reis. “Começamos a convidar as pessoas para virem conhecer o espaço antes de consumirem.
Havia muita curiosidade em saber como seria aqui dentro, se seriam muito controlados.” “É muito interessante ver como a auto--estima das pessoas muda quando elas começam a olhar e a cuidar de si. É a partir daí que elas começam a querer mais e a buscar mais”, diz a psicóloga, que recorda um utente que há dois anos não tomava um banho. “Comemoramos as pequenas vitórias diárias. Para nós, isso foi uma conquista.” Gerir esta sala até ao final do ano custará ao município “cerca de 350 mil euros, a maioria para pagar os recursos humanos” e para os equipamentos e materiais necessários à actividade, diz o vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, Manuel Grilo.
O sucesso máximo de uma sala de consumo será sempre o seu fecho, porque significaria que tinha deixado de ser necessária. No entanto, até esse momento — se alguma vez chegar —, muito haverá a fazer. “Estamos muito felizes de poder ter um espaço digno para esta população, em que as pessoas são tratadas com respeito”, conclui a psicóloga Roberta Reis.
Já Hugo Faria depressa faz as contas que importam para avaliar o projecto: “Se tivermos cem pessoas aqui por dia, são cem momentos em que não estão na rua, menos seringas e cachimbos que ficarão no chão, menos vidas que estarão em risco”, insiste.
Esses serão os pequenos sucessos do dia-a-dia.
VIOLÊNCIA NA RÚSSIA
A vida de Navalny na prisão: da privação do sono à propaganda
O opositor russo Alexei Navalny afirma estar a ser vítima de “violência psicológica” digna de um “campo de trabalho chinês”, desde que foi preso na Rússia, em janeiro de 2021.
A revelação foi feita numa entrevista ao The New York Times, a primeira desde que foi preso, que resulta de uma troca de correspondência e de 54 páginas manuscritas. “Imagine algo como um campo de trabalho chinês, onde todos andam em fila e há câmaras em todo o lado; há um acompanhamento constante e uma cultura de denúncia”, conta o antigo advogado de 45 anos.
Na troca de correspondência, Navalny diz que os dias são maioritariamente dedicados a ver televisão estatal russa ou filmes de propaganda. “Tenho de me sentar nu - ma cadeira e ver televisão; ler, escrever ou fazer qualquer outra coisa é proibido”, afirma, explicando que “tudo está organizado para um controlo ao máximo a cada hora do dia”, o que configura, diz, “violência psicológica”.
Durante as suas primeiras semanas na prisão, os guardas acordavam-no várias vezes por noite, contou o opositor do presidente Vladimir Putin. “Compreendo agora porque é que a privação do sono é um dos métodos favoritos de tortura dos serviços secretos; não deixa vestígios e é insuportável”, disse.
Na entrevista, Navalny diz que não foi atacado ou ameaçado por nenhum dos companheiros de prisão, com os quais por vezes cozinha, o que admite ser “divertido”. O opositor russo foi preso em janeiro ao voltar da Alemanha para Moscovo, onde passou cinco meses a recuperar de um envenenamento por agente nervoso, que atribui ao Kremlin.
As autoridades russas rejeitam a acusação.
DE CARYBÉ
“Sou um operário do pincel e trabalho uma média de quatorze horas por dia e não me desligo. É um trabalho que continua na cabeça, de noite.
A famosa vida de artista é filha da mãe de trabalho, não tem nada a ver com o que o pessoal pensava em 1890, de Toulouse Lautrec, de farras, música e cabaré.
O que existe é trabalho, treino, porque, se você pára de trabalhar, esquece, perde a prática.
Para mim, inspiração é o dia em que amanheço melhor e as coisas saem com mais facilidade.
Artista tem que dormir as horas necessárias e se alimentar bem.”
Carybé
CHINA: HOJE A LITUÁNIA...
... AMANHÃ O BRASIL
China manda mensagem à Europa com corte comercial com a Lituânia
Pequim quer deixar clara a sua oposição a gestos em relação a Taiwan, mas alguns analistas dizem que a atitude chinesa pode virar-se contra o país.
O CUPIDO DE VERMEER
Já se vê o Cupido que Vermeer pintou
Lucinda Canela (Público)
Com a parede despida, a jovem mulher estava apenas a ler uma carta. Agora que se vê o Cupido que Vermeer pintou em fundo, passou a ter nas mãos uma carta de amor. A Gemäldegalerie Alte Meister de Dresden, na Alemanha, apresentou recentemente à imprensa uma das suas obras mais famosas, terminado que está o restauro a que foi submetida, feito depois de um estudo ter concluído que, quando Vermeer acabou Rapariga lendo uma carta junto a uma janela aberta (c. 1657-1659), o quadro era bem diferente.
Há já quatro décadas que os técnicos do museu sabem que o artista fizera uma pintura dentro da pintura, representando o deus do amor. Viram-na, pela primeira vez, em 1979, quando a obra foi radiografada, e voltaram a vê-la em 2009, através da reflectografia de infravermelhos, uma técnica usada para aceder ao que a camada cromática esconde.
Tanto numa altura como noutra, escreve o Art Newspaper, os especialistas acreditaram que o próprio Vermeer se arrependera do seu Cupido e o cobrira. Só depois de removido o verniz que a protegia começou a ganhar terreno a ideia de que não fora o pintor a abdicar dele. Os técnicos descobriram que entre o Cupido e a tinta que o cobria havia uma camada de ligante e outra de sujidade.
Assim sendo, passaram a defender que várias décadas separavam a imagem da divindade da camada que a escondia, concluindo, assim, que o repinte não podia ser de Vermeer. A pintura será a estrela da exposição que é inaugurada a 10 de Setembro nesta galeria alemã.
domingo, 29 de agosto de 2021
ZOMBANDO DO POVO
Por Alex Ferraz Tribuna da Bahia, Salvador 28/08/2021
MALANGATANA
(Matalana, distrito de Marracuene, 6 de junho de 1936 - Matosinhos, 5 de janeiro de 2011) foi um artista plástico e poeta moçambicano, conhecido internacionalmente pelo seu primeiro nome "Malangatana", tendo produzido trabalhos em vários suportes e meios, desde desenho, pintura, escultura, cerâmica, murais, poesia e música
Nasceu na localidade moçambicana de Matalana e passou a infância a ajudar a mãe na fazenda enquanto frequentava a escola da missão suíça protestante, onde aprendeu a ler e a escrever e, após o seu encerramento, a escola da missão católica, concluindo a terceira classe em 1948. Aos 12 anos de idade, mudou-se para Lourenço Marques (actual Maputo) à procura de trabalho, tendo praticado vários ofícios e acabando por em 1953 arranjar trabalho como apanhador de bolas num clube de ténis, o que lhe permitiu retomar os estudos, frequentando aulas nocturnas que lhe despertaram o interesse pelas artes, onde teve como mestre o arquitecto Garizo do Carmo.
Um dos membros do clube de ténis, Augusto Cabral, ofereceu-lhe material de pintura e ajudou-o a vender os seus primeiros trabalhos.
Em 1958, ingressou no Núcleo de Arte, uma organização artística local, recebendo o apoio do pintor Zé Júlio. No ano seguinte, expôs a sua arte publicamente, pela primeira vez, numa exposição colectiva, passando a artista profissional graças ao apoio oferecido pelo arquitecto português Pancho Guedes, através da cedência de um espaço onde pôde criar o seu atelier, e da aquisição mensal de dois quadros.
Em 1961, aos 25 anos, fez a sua primeira exposição individual no Banco Nacional Ultramarino. Em 1963, publicou alguns dos seus poemas no jornal «Orfeu Negro» e foi incluído na «Antologia da Poesia Moderna Africana».
Nessa altura, é indiciado como membro da FRELIMO, ficando preso na cadeia da Machava até ser absolvido a 23 de março de 1966. A 4 de janeiro de 1971, foi novamente detido, a fim de esclarecer o simbolismo do quadro «25 de Setembro», exposto recentemente no Núcleo de Arte, o que pôs em risco a sua partida para Portugal, onde obtivera uma bolsa da Fundação Gulbenkian para estudar gravura e cerâmica.
Em 1976/1977, Malangatana esteve detido num centro de reeducação como castigo pelo seu comportamento na época colonial.[carece de fontes] Na mesma altura, foi apresentada na Facim (Feira de Maputo) e numa exposição de artes plásticas organizada pelo Centro Organizativo dos Artistas Plásticos e Artesãos, com sede no antigo Núcleo de Arte, uma obra dele que foi cedida por sua mulher.
Depois da independência de Moçambique, foi eleito deputado em 1990, pela FRELIMO. Em 1998, foi eleito para a Assembleia Municipal de Maputo e reeleito em 2003. Participou em acções de alfabetização e na organização das aldeias comunais na Província de Nampula. Foi um dos fundadores do «Movimento Moçambicano para a Paz» e fez parte dos «Artistas do Mundo contra o Apartheid».
Faleceu no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, Portugal[
UMA GRANDE VIDA
Uma grande vida em grande é o mínimo que se pode dizer desta provecta existência, encerrada discretamente em La Romieu, uma aldeia encantadora do departamento de Gers, na Occitânia, que na Idade Média servia de paragem aos peregrinos que se dirigiam a Roma (“romieu” significava “peregrino”, tal qual o nosso “romeiro”).
Que ela tenha escolhido uma terra com um nome assim para terminar os seus dias é só uma das muitas singularidades desta vida longa, exemplar a seu modo, que começou, imagine-se, 109 anos atrás, no seio de uma família arménia do Império Otomano. Nascida em Konya, em 18 de Fevereiro de 1913, Arpiné Hovanessian tinha dois anos de idade quando enforcaram o seu pai, entre 1,5 milhões de vítimas do genocídio do povo arménio perpetrado pelos turcos e hoje negado por Erdogan. A mãe escapou por um triz ao massacre e conseguiu colocá-la a ela e à irmã num orfanato arménio de Constantinopla, o qual se transferiu em 1922 para Salónica e, dois anos depois, para Marselha.
A seguir, Arpiné foi estudar para a Escola Tebrotzassère, em Raincy, um colégio arménio situado nos arredores de Paris. Aos 15 anos abandonou o orfanato e tornou-se dançarina nos cabarés de Paris, mergulhando, segundo a própria, numa “vida livre de restrições”, seja lá o que isso for, ou foi. Numa fotografia da época, posou para o Studio Piaz, cuja clientela era quase exclusivamente composta por celebridades — Josephine Baker, Edith Piaf, Jean Marais, Marlene Dietrich —, o que levou os seus biógrafos a sustentarem que a exótica Arpiné não era uma vulgar corista mas uma estrela de primeira grandeza das noites parisienses, facto que só pode ser atestado por quem as viveu ao vivo e que hoje, muito provavelmente, já estará morto.
Por essa altura, escondeu uma família judaica em casa e aderiu à Resistência, guardando até morrer, com justificado orgulho, o cartão de membro das FFI, as Forces françaises de l’Intérieur, a confederação dos opositores ao nazismo formada em 1944, que teve papel relevante no apoio ao desembarque dos Aliados na Normandia. Depois casou, teve dois filhos, mas acabou por trocar o marido por uma nova paixão, o automobilismo.
Em 1955, na companhia de um amigo, o motociclista Geor ge “Jojo” Houel, foi assistir a uma prova no autódromo de Linas-Montlher e aí conheceu Jean Behra, o campeão de Fórmula Um que na altura corria para a Maseratti e que a convenceu a entrar naquele circo. Em Janeiro de 1956 tornou-se a primeira mulher a participar no Rali de Monte Carlo, onde ganhou o cognome de “buldózer” por razões que imaginamos, ficando num honroso 119º lugar em 233 concorrentes.
Em Abril, ao volante de um Simca Aronde, ficou em 6º lugar nas Coupes de Vitesse, no autódromo de Montlher; em Agosto participou num infernal raide de 2200 quilómetros, de Deau ville a Hyères; em Outubro entrou nas Coupes de Salon, também em Montlher. A partir daí, o automobilismo, segundo as suas próprias palavras, tornou-se um vício, no qual ganhou vários epítetos amistosos, como “a guilhotina”, e, ao que parece, foi então que mudou o nome de Arpiné para Louisette, uma corruptela alusiva à decapitação de Luís XVI (“la tête de Louis”, “La Louis… tête”, “Louisette”). O apelido Texier, presume-se, foi a única coisa que guardou do marido.
Louisette Texier entraria em competições desportivas de alto nível de 1956 a 1964 e em 1963 ficou classificada em 2º lugar na categoria GT do Tour de France Automobile, numa equipa exclusivamente feminina, com um Jaguar MK II pilotado por Annie Soisbault, uma antiga campeã de ténis que se converteria numa estrela do automobilismo francês e junto à qual Louisette aparece em fotografias que dão bem nota do que era o desporto automóvel naquela idade da inocência, em que ambas corriam vestidas de botas altas e António Araújo escreve de acordo com a antiga ortografia casacos de astracã e com um leopardo de estimação a bordo.
Em entrevistas do final da vida, Louisette Texier proclamava, como a canção de Piaf, nada ter a lamentar dos excessos praticados ao longo de uma trajectória cheia, congratulando-se, em particular, por ter largado o marido e por não precisar de homens para nada. O que mais lhe custou, disse, foi ter crescido longe de sua mãe, que só reencontrou fugazmente muitos anos depois de ter fugido da Turquia, país onde não mais regressou.
Abriu uma butique em Neuilly, nos arredores de Paris, das primeiras lojas de França a venderem calças jeans para mulheres, e, com 80 anos, participou na sua última corrida de automóveis, um rali no Quénia. Reformou-se merecidamente aos 92 anos. Os filhos chamavam-lhe com ternura “a selvagem”, devido à sua tremenda força de viver, que a fez durar muito para lá dos 100 anos, sendo a última sobrevivente francesa do genocídio arménio.
Ela, mais sábia, atribuía a longevidade ao facto de se manter coquette e vaidosa mesmo no crepúsculo de uma existência feita contra todas as probabilidades: nascida antes do deflagrar da Primeira Guerra, salva por uma unha negra de um dos maiores genocídios do século, resistiu à ocupação nazi, tornando-se mulher independente, feminista avant la lettre e campeã automóvel — e o mais surpreendente de tudo é que nunca, em circunstância alguma, mesmo nos tempos de maior negrume, perdeu a joie de vivre que lhe permitiu durar 109 anos, morrendo tranquilamente, durante o sono, no passado dia 20 de Julho, numa aldeia que albergou os romeiros que outrora peregrinavam a uma cidade que, como ela, se diz Eterna.
UMA QUINTA MANUELINA EM SINTRA
Quinta da Regaleira: como chegar e o que visitar
A Quinta da Regaleira é um dos mais bonitos monumentos de Sintra. Descubra a sua história e como chegar, o que visitar e qual a melhor forma de o fazer.
VALE MUITO A PENA CONHECER
https://www.vortexmag.net/quinta-da-regaleira/
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO
Tenho algumas informações inédita sobre esta mítica quinta. O Monteiro dos Milhões, construtor deste monumento, de origem humilde, ficou muito rico com sua imobiliária. Após sua morte, a quinta foi comprada pela aristocrática família portuguesa D´Orey.
O neto do Monteiro dos Milhões, José Julio Carvalho Monteiro veio a Salvador em 1975. Com dificuldade para encontrar trabalho, sugeri que que ele abrisse uma molduraria usando madeiras e pinturas diferentes. Foi assim que, depois de passar vários anos na Rua Alfredo Britto onde tinha sua oficina "Julio Monteiro - Molduras", após receber parte da herança do avô "O Montreiro dos Milhões" comprou uma casa na Rua do Carmo.
Infelizmente nesta bonita casa, foi barbaramente assassinado.
sábado, 28 de agosto de 2021
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
PORQUE VOTAMOS TÃO MAL
"AH, VAMOS EMBORA, BEM, NÃO É NADA NÃO, É LIVRO"
TOMBADOS PELA UNESCO
... ESPERANDO QUE NAQUELAS TERRAS NÃO HAJA
NEMHUMA CONDER PARA
MEDIOCRIZAR SEUS TESOUROS.
LOS NUEVOS SITIOS PATRIMONIO DE LA HUMANIDAD DE 2021
El 44 comité de la UNESCO, reunido durante las últimas semanas en Fuzhou (China), ha deliberado proteger los siguientes bienes culturales y naturales.
Mari Carmen Duarte
E, NO RIO DE JANEIRO,
O SÍTIO ROBERTO BURLE MARX!
UMA LISTA IMPRESSIONANTE:
NOSSO PIBINHO
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
A VACINA SUSPEITA DA FAMÍLIA BOLSONARO
Exclusivo: A vacina suspeita da família Bolsonaro
O filho 01 do presidente envolveu-se pessoalmente na compra de uma vacina americana, a Vaxxinity, não aprovada pela Anvisa, nem pela FDA. O interesse mostra ligações suspeitas com empresários próximos ao clã no Rio de Janeiro
Crédito: Ricardo Moraes
Ricardo Chapola
MILITAR O coronel Gueiros é amigo de Bolsonaro e sócio da empresa que procurou vender imunizantes não autorizados ao governo (Crédito:Divulgação)
A CPI já desvendou um padrão para os esquemas suspeitos de compras de vacina no Ministério da Saúde: companhias desqualificadas, interesses escusos e empresários duvidosos, muitas vezes ex-militares, operavam negociações bilionárias longe do controle público e alheias às necessidades urgentes do País. O que não se sabia é que a própria família Bolsonaro também atuava nesse submundo. Agora, uma troca de e-mails à qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade aponta fortes indícios de que o senador Flávio Bolsonaro participou de uma negociação paralela para a compra de uma vacina americana, a Vaxxinity, ainda em fase de testes e sem aprovação de nenhuma autoridade sanitária do planeta, durante uma viagem que o parlamentar fez aos EUA, em junho deste ano. O que ISTOÉ revela nesta reportagem são as primeiras digitais do filho mais velho do presidente em mais um esquema de malfeitos do governo Bolsonaro no processo de aquisição de imunizantes contra a Covid. O caso chama a atenção por vários aspectos nebulosos, mas o que mais salta aos olhos são as inúmeras semelhanças de irregularidades que este caso guarda em relação aos outros escândalos que já estão sendo investigados pela CPI no Senado.
PISTOLÃO Stelvio Rosi quis valer-se da intermediação do filho 01 do presidente para marcar audiência com Queiroga (Crédito:Divulgação)
O envolvimento do 01 nas negociações da vacina americana começa no dia 9 de junho de 2021, às 15h37, quando o advogado e dono de uma pousada de Itacaré (BA), Stelvio Bruni Rosi, envia um e-mail ao gabinete de Flávio Bolsonaro no qual solicita uma reunião entre o parlamentar e representantes do laboratório Vaxxinity, sediado em Dallas (EUA). É o que diz a mensagem, enviada com o título “Flávio Bolsonaro — Vacina Covid-19 — Reunião USA com Empresa Laboratório Americano” e prioridade indicada como “alta”. Rosi enviou o texto pelo endereço “stelvio@ricardohoracio.com.br”. Ricardo Horácio é um advogado do Rio de Janeiro e dono de um escritório com esse mesmo nome na capital fluminense.
“Senador Flávio Bolsonaro, estivemos juntos na festa em Washington onde foi conversado sobre a vacina da empresa/laboratório/fabricante americana Vaxxinity (antiga Covaxx and United Neuroscience do Grupo UBI — United Biomedical Inc). Solicitamos reunião entre o senhor e a Vaxxinity nos EUA ainda hoje ou amanhã (ou enquanto estiver nos USA). Oportunidade para o governo obter preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, diz o e-mail enviado ao filho do presidente. No dia em que Rosi mandou o e-mail, Flávio cumpria agenda com o ministro das Comunicações, Fabio Faria, nos EUA. Os dois visitaram Washington e Nova York para conhecer redes privativas de 5G entre os dias 7 e 10 de junho de 2021.
O encaminhamento do caso por Flávio foi praticamente imediato. No dia seguinte, às 11h30, o gabinete do 01 encaminhou a mensagem de Stelvio ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, que havia assumido o cargo em março, no lugar do coronel Élcio Franco, um dos alvos investigados na CPI. Na mensagem, enviada por Branca de Neves José Luiz, funcionária de Flávio, o senador pede que Cruz analise o pedido para “eventual interesse” na aquisição da vacina. “Prezado senhor, por ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V.Sa. a mensagem a seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz a correspondência. A autenticidade do conteúdo desses e-mails foi confirmada pelas partes envolvidas.
ABRINDO PORTAS Flávio mandou mensagem a Queiroga retransmitindo proposta de empresário desqualificado (Crédito:Adriano Machado)
Em conversa com a ISTOÉ, Stelvio se disse arrependido por ter pedido a intervenção de Flávio na operação junto ao Ministério da Saúde, após ser flagrado pela reportagem, que descobriu detalhes da negociação. “Não era o caso também de eu ter tentado acessar um senador que não tem muito a ver, né? Tinha que ser por outro caminho”, afirmou. O autor do e-mail ao filho do presidente relatou ainda que não estava nos EUA naquele dia e disse que se “expressou mal” ao redigir o texto daquela forma. “Eu mesmo não saio do Brasil desde 2002. Na pandemia, nem de Itacaré eu saí, que é onde moro hoje. Esses caras recebem muitos e-mails. E conversam com muitas pessoas toda hora. Acho que não me expressei muito bem no e-mail. Tentei criar um e-mail para chamar um pouco a atenção”, disse Rosi, tentando apagar as digitais do senador da transação. O empresário também disse ter feito a solicitação ao senador a pedido de um conhecido que, segundo ele, trabalha no setor de vendas da vacina americana. “Eu tentei fazer a apresentação de uma empresa para um político, que é filho do presidente do Brasil e que eu tinha conhecimento de que estava nos EUA”, relatou o suposto representante da Vaxxinity no Brasil. Segundo o site do próprio laboratório, o imunizante produzido pela empresa é experimental e ainda não foi aprovado em nenhum país do mundo, muito menos pela FDA, a agência americana de medicamentos. No Brasil, a Vaxxinity chegou a pedir autorização à Anvisa para a realização de estudos clínicos da vacina, mas não concluiu essa etapa do processo. Em nota, o senador negou ter se encontrado com representantes da Vaxxinity na viagem que fez aos EUA em junho, bem como ter feito qualquer intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde.
A reportagem procurou o laboratório americano para saber se havia iniciado tratativas com o governo brasileiro e se tinha alguma representação no País. A Vaxxinity foi categórica: comunicou nunca ter entrado em contato com o Ministério da Saúde e que ninguém da empresa mantém contatos com Stelvio Bruni Rosi. A empresa informou ainda que seu único representante no País chama-se Elcemar Almeida, cujo perfil nas redes sociais afirma ser o “presidente da Covaxx” (nome antigo da Vaxxinity). “Nenhuma pessoa associada à Vaxxinity jamais esteve em contato com Stelvio Bruni Rosi, nem com o senador Flávio Bolsonaro. Portanto, não temos conhecimento das informações contidas no e-mail citado, nem dessas supostas reuniões”, diz a nota.
Além de advogado e empresário do ramo do turismo, Rosi também tem outros empreendimentos. Segundo ISTOÉ apurou, ele atua ainda como diretor operacional da Malugue Comércio Ltda, empresa do Rio de Janeiro que diz ser especializada na distribuição de equipamentos hospitalares. Criada em 2014, a Malugue opera no bairro da Saúde, no centro da cidade. Na fachada, não há qualquer placa ou sinalização que indique que a companhia realmente funciona naquele endereço. Também desperta suspeitas a quantidade de atividades secundárias informadas pela empresa à Receita Federal: vai desde o comércio de móveis, bolsas, malas, artigos de viagem, até peças para carros e caminhões novos e usados.
O misterioso coronel Gueiros
“Fechamos contrato com um dos maiores distribuidores de vacinas do mundo. Hoje, seguimos rigorosamente os critérios de condutas pré-definidos por ministérios de saúde dos países fabricantes e dos países compradores e está totalmente amparada para orientar e promover o processo de aquisição de diversas vacinas para combater a Covid-19”, diz a empresa de Stelvio na internet. As informações não batem com o que ele contou à reportagem. “Quando essa coisa de vacina começou a abrir a possibilidade para a venda aos estados, prefeituras e iniciativa privada, a gente tentou fazer uma movimentação nesse sentido”, disse Stelvio. “Só havia a AstraZeneca, que fazia contrato com governo , a Pfizer e a Coronavac. Na realidade, não tinha outro produto para se trabalhar.” Minutos após essa entrevista, o site da Malugue foi misteriosamente retirado do ar. Stelvio, porém, não é o único diretor da Malugue. Além dele, figuram no corpo diretivo da empresa o já citado advogado Ricardo Horácio e o coronel
da reserva do Exército Gilberto Gueiros.
Gueiros é uma pessoa conhecida da política fluminense. Foi presidente da Loterj na gestão do governador Wilson Witzel no Rio de Janeiro, ex-aliado de Bolsonaro que foi afastado do cargo por desvios na Saúde. Sob a gestão do coronel, a Loterj doou 450 ambulâncias a hospitais do Rio. A CPI da Covid abriu recentemente uma investigação para apurar denúncias de corrupção em contratos envolvendo hospitais fluminenses. Um dos nomes sob suspeita nessa apuração é exatamente o do senador Flávio, segundo confirmam fontes da CPI no Senado. Três pessoas ouvidas por ISTOÉ, entre as quais um advogado que já trabalhou para a família Bolsonaro no Rio, informaram que Gueiros é um velho conhecido do clã. O militar foi colega de Jair Bolsonaro na academia militar, quando ambos tornaram-se paraquedistas. O coronel Gueiros, inclusive, é alvo de um processo no Superior Tribunal Militar (STM) em que é réu por crimes de fraude em licitação e improbidade administrativa. A ação penal, que contou com investigações da Polícia Federal, apura suspeita de fraudes em licitações do Exército no ano de 2008.
O militar só chegou à presidência da Loterj graças à influência de Flávio. O senador pediu que um colega o indicasse para integrar a gestão Witzel. Quem fez a solicitação foi o líder do Avante na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Marcos Abrahão. Segundo parlamentares, Flávio e Abrahão são aliados. O nome de Abrahão aparece no mesmo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que expôs o nome do 01 no conhecido esquema de rachadinhas em seu gabinete na Alerj. No caso do esquema montado por Flávio, as investigações indicam que o senador recebeu em torno de R$ 6 milhões dos salários dos servidores nomeados em seu gabinete. Abrahão chegou a ser preso no âmbito da Operação Furna da Onça, deflagrada pela Polícia Federal em 2018, que revelou o esquema das rachadinhas. Na casa do deputado estadual, a polícia encontrou R$ 53 mil em dinheiro vivo.
Uma das fontes a confirmar a relação entre a família Bolsonaro e o grupo Malugue é alguém que já foi próximo ao clã. Em uma conversa de cerca de 3 horas, no subsolo de um restaurante de São Paulo, esse antigo aliado do ex-capitão deu detalhes sobre esses vínculos e, em mais de um momento, fez alertas para o alto risco que envolve o que chamou de “organização criminosa”. “Tome cuidado. É uma organização de alta periculosidade”, afirmou, sob a condição de anonimato, por medo de represálias. Esse advogado relacionou o senador ao grupo do coronel Gueiros.
Em nota, o Ministério da Saúde confirmou que iniciou tratativas com a Vaxxinity, mas informou ter decidido não comprar o imunizante por considerar que o Brasil já possuía vacinas suficientes. A pasta se recusou a comentar a participação do senador Flávio na operação. ISTOÉ, no entanto, teve acesso à íntegra do processo sobre o imunizante da Vaxxinity que tramita no ministério, com acesso restrito a apenas alguns servidores. O documento é revelador e deixa a história ainda mais misteriosa. Mostra não só que Rosi procurou o ministério antes de enviar a mensagem a Flávio, como também que a proposta teve alguns encaminhamentos de forma célere após a intervenção do senador. O primeiro e-mail enviado pelo diretor da Malugue ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e que foi anexado ao processo da compra da Vaxxinity, tem data de 31 de maio. Seu teor sugere, porém, que as conversas entre eles já existiam há mais tempo. “De acordo com as nossas conversas, segue as informações solicitadas para o agendamento da Audiência/Reunião Online (Videoconferência) entre o Ministro da Saúde e a empresa “Vaxxinity, Inc.” — www.vaxxinity.com (Laboratório / Fabricante Americano da Vacina do Covid-19/Antiga Covaxx and United Neuroscience do Grupo UBI — United Biomedical Inc.)”, diz o texto assinado por Rosi.
ACORDO O embaixador da Colômbia no Brasil, Dario Montoya (à dir.), visita o ministro Marcos Pontes: interesse por vacinas (Crédito:Marcio Nascimento/MCTIC)
Uma outra informação contida no documento desperta suspeitas de que as negociações envolviam outros países. No cabeçalho do processo, indicado como “interessado” no assunto, aparece o nome do embaixador da Colômbia no Brasil, Dario Montoya, que é próximo ao presidente colombiano Iván Duque Márquez, um dos aliados de Bolsonaro. Em visita recente ao Brasil, a vice-presidente desse país, Marta Lúcia Ramírez, disse que espera articular uma forma de trabalhar em conjunto com o governo Bolsonaro para produzir vacinas contra a Covid em seu território. “A Colômbia se concentrou em conseguir todas as vacinas aprovadas. Mas temos laboratórios de altíssimo nível, e nosso ministro da Saúde busca que a Colômbia possa, por exemplo, colaborar com o processo de embalagem das vacinas”, disse. O caso, no entanto, já despertou a atenção da CPI do Senado e um dos integrantes do G-7, grupo que comanda a comissão, disse à ISTOÉ que o assunto deverá entrar na pauta das investigações.
Os diálogos de Stelvio com ISTOÉ
“Soube que o Flávio estava em um evento em Washington. Na época, ele tinha ido fazer alguma coisa de 5G e mandei um e-mail para chamar a atenção dele para fazer uma reunião”
“Um cara que eu conheço do setor de vendas da Vaxxinity pediu para ver se eu podia mandar um e-mail para o filho do presidente. Foi uma tentativa de organizar um encontro da empresa com ele”
“Tentei fazer uma apresentação de uma empresa para um político que é filho do presidente do Brasil e que eu sabia que estava nos Estados Unidos”