Em nota, Macron expressa condolências pela morte de Nelson Freire e diz que pianista 'honrou a França com sua presença'
O Brasileiro era mundialmente conhecido como um grande intérprete ao piano. 'Convidado regularmente pela Filarmônica de Paris, nutria uma amizade especial pela França', afirma comunicado presidencial.
A presidência da França divulgou uma nota nesta terça-feira (2) em que homenageia a trajetória do pianista Nelson Freire, morto no começo da semana, relembrando também o período que o brasileiro passou no país europeu.
“O Presidente da República e a sua esposa saúdam o excepcional intérprete de Debussy que tantas vezes honrou o nosso país com a sua presença, e estendem as suas mais sinceras condolências aos que lhe são próximos, bem como a todos os que se sensibilizam com a poesia de seu tocar”, diz o comunicado do Palácio do Eliseu.
Considerado um dos grandes pianistas internacionais, Freire foi enterrado nesta quarta (3) em Boa Esperança (MG). O músico foi sepultado no túmulo onde os pais dele também estão enterrados, no cemitério municipal da cidade.
Leia a íntegra da nota divulgada pela presidência francesa:
O pianista brasileiro Nelson Freire faleceu aos 77 anos. Um gênio tão discreto quanto apaixonado, foi um dos maiores intérpretes internacionais do repertório romântico.
Ele começou a tocar nas teclas pretas e brancas aos 3 anos, para imitar sua irmã. Dez anos depois, fez sua entrada soberana entre os grandes ao som do Concerto Imperador de Beethoven, com o qual ganhou o Concurso Internacional do Rio de Janeiro.
Em Viena, onde continuou suas caminhadas com Bruno Seidlhofer, conheceu aquela que o destino reservou para ele a quatro mãos existenciais, outra criança prodígio sul-americana, a argentina Martha Argerich. O acordo entre os dois adolescentes foi instintivo e imediato. Como ela, ele tinha um dom extravagante. Como ela, ele preferia a sombra à luz.
Se a força e a sensualidade de seu toque lhe renderam o apelido de felino, Nelson Freire era mais um gato selvagem, fugindo dos holofotes com uma reserva e uma humildade que setenta anos de palco jamais poderiam domar. Portanto, seu talento foi por muito tempo um segredo dos amantes da música, seu nome uma senha interna.
Foi somente na virada dos anos 2000 e no contrato que ele assinou com a gravadora internacional Decca que o público em geral descobriu este aedo romântico que brilhou em Schumann, Brahms, Liszt, Rachmaninoff e ainda mais vividamente em Chopin.
Cada um de seus concertos, cada uma de suas gravações era uma nova página adicionada aos arquivos mundiais da música. A sua imaginação e sensibilidade permitiram-lhe revisitar os percursos musicais mais frequentados, aqueles que lhe foram abertos por milhares de mãos, incluindo os concertos para piano de Brahms. Ao lado de sua cúmplice Martha Argerich, formou frequentemente uma das duplas mais harmoniosas do cenário musical, que virava de cabeça para baixo os concertos de Rachmaninoff para dois pianos.
A barba de um gigante meigo e as mãos rechonchudas de uma criança trouxeram para o seu repertório um prazer infinito de tocar. Apesar de todos os apelos, nunca quis gravar um disco inteiro, decididamente mais andador que lavrador, preferia misturar as peças escolhidas em buquês, em vez de controlá-las metodicamente.
Convidado regularmente pela Filarmônica de Paris, nutria uma amizade especial pela França, desde aquele dia em que, procurando refúgio de trabalho por algumas semanas, fixou seus olhos em uma casinha em Chartrettes, em Seine-et-Marne .
O Presidente da República e a sua esposa saúdam o excepcional intérprete de Debussy que tantas vezes honrou o nosso país com a sua presença, e estendem as suas mais sinceras condolências aos que lhe são próximos, bem como a todos os que se sensibilizam com a poesia de seu tocar.
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