quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

SOBRE O II SIMPÓSIO BAIANO

 Algumas considerações sobre

 o II Simpósio Baiano




Pouco acostumado a falar em público, quando isso acontece fico com a certeza de me ter expressado de forma confusa e incompleta.

Assim foi com o II Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura quando tive a oportunidade de lamentar a caótica falta de planejamento urbano em Salvador, seja por parte da prefeitura, seja pelas intervenções desastrosas do Estado, em especial a CONDER cujas atuações no centro histórico só podem acontecer com a omissão criminosa do IPHAN.

Não, Salvador não é mais aquela. Nossa capital pretende ser destino turístico, mas sua arquitetura contemporânea não é nenhuma Dubai. Como é feia a esmagadora maioria destes espigões! Quem se aventura pelos novos bairros –Pituba, Imbui, Itaigara...-  depara-se com uma total ausência de conceito, um anarquismo imobiliário baseado na mais reles especulação. O medonho se espalha mais rápido que a beleza e já contagiou o Corredor da Derrota e o Horto Cimental. Os transportes públicos são uma afronta à dignidade popular e o metrô conseguiu acabar com um projeto paisagístico de excepcional beleza. Quanto ao centro histórico, o governo do estado demostra não ter o mínimo interesse em se envolver com a memória e a história da cidade. Tudo é feito na base do “empurra com a barriga” como prova a “reabilitação” da rua Direita de Santo Antônio que, após dois longos anos, ainda continua inacabada sem que seja cobrada uma solução dos responsáveis.

Fecham-se hotéis 5 estrelas, abrem-se hotéis 5 estrelas. Para que tipo de freguesia? Meia dúzia de museus sem verba nem dinâmica - quando foi que você viu pela última vez um cartaz valorizando nossas riquezas patrimoniais? -  a magnífica baía subutilizada, os tesouros do Recôncavo absurdamente desprezados... e pretendemos incentivar o turismo! Com que atrativos?

Estamos assistindo ao avacalhamento de nossa identidade, ao sucateamento de nosso potencial.

Praias paradisíacas existem aos milhares pelo mundo afora. No Algarve, em Agadir, na Nova Califórnia, nas ilhas gregas, em Goa e Zanzibar.... Não. O Porto da Barra não é a mais bela praia do universo, nem o Pelourinho o maior centro barroco das Américas.

A unicidade de Salvador provém de uma harmoniosa química entre o povo e suas diferentes formas de cultura. Mas como evidenciar aquilo que temos de mais importante se nem podemos ostentar, como o Museu da Gente Sergipana em Aracaju ou o Museu do Homem do Nordeste de Recife e a maioria das capitais brasileiras, um representativo Museu de Cultura Popular Baiana? As opiniões abalizadas de Paulo Ormindo de Azevedo e os projetos arrojados de Pasqualino Magnavita são considerados com desconfiança pelas autoridades e descartados.

Salvador continua entregue à mediocridade institucional.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 5 de fevereiro 2022.

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