sexta-feira, 4 de março de 2022

OS RUSSOFÓBICOS

Tibério Canuto Queiroa Portela



O povo russo tem uma histórica belíssima e uma cultura maravilhosa e rica: na literatura, nas artes cênicas, na música clássica, no balé. É um povo bravo, que enfrentou e derrotou Napoleão Bonaparte, o rei Sueco Carlos XII e Hitler. Não podemos esquecer sua inestimável contribuição para a derrota da horda nazista. Foi ele quem arcou com o fardo mais pesado da segunda guerra mundial – mais de 20 milhões de russos mortos – e quem derrotou Hitler às portas de Moscou, em Stalingrado e em Berlim. A primeira nave espacial tripulada foi russa, assim como o primeiro homem a ir para o espaço sideral.

Digo isto porque a justa ira contra a guerra de agressão contra a Ucrânia não deve alimentar uma postura russofóbica que vai se disseminando nas redes sociais. Isso é obscurantismo, coisa de xenófobo com sinal trocado ou de pessoas com a mentalidade da guerra-fria, quando a Rússia era vista como o “império do mal”.
Então vamos banir da literatura Tolstói e Dostoievsky? Não Vamos mais ler Guerra e Paz e Crime e Castigo? Não vamos ouvir Abertura 1812? Vamos cancelar também o balé Bolshoi?
Minha posição sobre a guerra da Ucrânia é clara. Putin é o agressor e ponto. Mas isto não me leva a deificar a OTAN e sua expansão para o leste europeu, inclusive para antigas repúblicas da União Soviética. Isso se deu a partir da “Doutrina Busch”, no segundo mandato do então presidente dos Estados Unidos. Só ingênuos podem acreditar que essa expansão se deu para levar a democracia e os direitos humanos para o leste europeu. Se deu por interesses geopolíticos dos Estados Unidos, por uma visão expansionista e hegemonista dentro de um mundo unipolar.
Se a União Europeia é um arranjo institucional positivo que muito contribuiu para a Europa viver o maior período de paz e sem guerra de sua história, a Aliança Atlântica é um entulho da guerra fria. Afinal, qual "império do mal" justifica sua existência.
O mundo padece de um verdadeiro sistema de segurança coletiva, não só da Europa, mas de todos os continentes e países, inclusive com a participação da Rússia e da China. Só assim teremos um mundo realmente pacífico. O fim da unipolaridade não será virtuoso se a sua alternativa for a restauração da bipolaridade, como vai se estruturando, em um quadro de uma segunda guerra-fria.

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