ESDRÚXULA COMPOSIÇÃO

 Carlos Zacarias

Entre aqueles que defendem a esdrúxula composição com Alckmin, o argumento mais risível é o que diz que Lula não poderia formar uma chapa com um seu igual. Mas quando foi mesmo que isso aconteceu?

Em 1989 Lula teve por vice José Paulo Bisol, composição que se repetiu em 1994, mas não foi levada adiante depois de uma forte campanha contra o companheiro de chapa de Lula, que era latifundiário, quando alguns escândalos do então senador vieram à tona. Então, Bisol, que era do PSB, foi substituído por Aluísio Mercadante (PT). Em 1998 Lula formou uma improvável chapa com Brizola, que tinha passado toda a campanha de 1989 e 1994 chamando o ex-sindicalista e dirigente do PT de "sapo barbudo".

Na década de 1990 o PT já era um partido grande, mas provocava ainda muita desconfiança de setores de peso da burguesia na país, por isso era muito difícil que algum setor da classe dominarem a juntasse a um partido com forte atuação nos movimentos sociais.

No século XXI, contudo, o Partido dos Trabalhadores formou chapa com José de Alencar, que por duas vezes foi vice de Lula, mesmo sendo de um setor do PL que depois veio a formar o PRB e o Republicanos, da IURD de Edir Mecedo. Em 2010 foi o vampirão do MDB o companheiro de chapa de Dilma e todos conhecem bem o que aconteceu.

Dito isso, reafirmo o quão pueril é o argumento de quem diz que Lula não pode formar uma chapa com o PSOL ou o PCdoB (a chapa Haddad-Manuela D'Ávila se deu num contexto absolutamente atípico).

O PT jamais faria uma aliança com um partido que estivesse à sua esquerda, é preciso dizer isso para quem não conhece a história. O que parece absurdo é que tenha ido buscar no ninho tucano um parceiro, justo naquela parte do espectro político que conspirou e atuou ativamente pelo golpe e historicamente se constituiu como inimigo do PT.

É claro que essa composição escancara as portas para todo o tipo de crítica e abre caminho para possíveis e significativas derrotas, algo que o PT, mais do que ninguém, devia saber.