Foto: Ricardo Stuchert
Brasil 247 – “Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador”,
disse o sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de O Ócio Criativo, argumentando
que Mussolini, Hitler e Erdogan também foram eleitos.
Leia trechos da entrevista:
“Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta
pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco.
Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um
país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras.
Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido.
Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é
o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população.
É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles,
Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados,
alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades.
Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança
sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso
com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos
longínquo.
Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”,
é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso
elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas,
como se nada tivéssemos aprendido.
É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou
a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária
separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução
Francesa.
É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo
o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia
arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.
À parte a necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa
gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um
de nós: a luta para não emburrecer.
Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da
escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais
e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie
proposta pela vida diária e pelas redes sociais.
Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país.
Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega.
Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão.
E estaremos aqui, para recomeçar.
Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é o ódio e o ressentimento
por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos
os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes
expiatórios para culpá-los. A cultura competitiva, que estabelece, com critérios
perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entra nesse jogo perverso,
sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.”
o Brasil é, de fato, um país muito inteligente, mas Bolsonaro revelou o quanto o Brasil está também repleto de idiotas.
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