domingo, 30 de abril de 2023

O SONHO DA VARANDA PRÓPRIA

Pode ser uma imagem de sala de estar

Que besteira que fizeram os arquitetos em projetar casas com varandas e agora milhares de anos transcorridos dessa infeliz opção de projeto não há como voltar atrás. Casa com varanda não tem a menor graça, melhor seria varanda com casa, essa sim uma solução mais inteligente.
Já estava na cara que a varanda era a alternativa, depois que o homem deixou a caverna e nômade montou a sua tenda para se deslocar mais fácil, mas eles, os arquitetos, não conseguiram enxergar. Não entenderam que a razão prima para o homem deixar a caverna é por que não tinha varanda.
Preferiram aprisionar os nossos antepassados dentro da taba que um dia ganharia divisões físicas e materiais mais resistentes e então se chamaria de casa, a expressão latina que sugere um tipo de moradia. Se arrependimento matasse!
De um tempo para cá, os profissionais da área, suponho que às voltas com uma crise de consciência milenar, deram para projetar varandas cada vez maiores nos novos projetos imobiliários. Descobriram, antes tarde do que nunca, que a varanda deveria ser a casa e se engalfinham com os engenheiros para que estes encontrem soluções adequadas sem comprometer a segurança e estabilidade. Mas, por mais que se empenhem nessa cruzada redentora, o espaço será apenas uma varanda. O equívoco é ancestral, não há mais como remediar.
Os arquitetos não avaliaram que na varanda o homem poderia viver melhor e mais feliz e por isso imaginaram e projetaram a casa com suas paredes excludentes, seus tetos baixos e pisos de arremedo e, quando o homem exigiu a varanda, muitos séculos transcorridos, fizeram dela um puxadinho.
Não pressentiram que na varanda um dia o homem sonharia acordado, beberia um bom vinho, jogaria xadrez ou um carteado, assistiria televisão e, nos fins de semana, cuidaria da vida alheia. Não sabiam que a Lua só é de fato cheia quando observada de uma varanda e que o pôr do sol só é vermelho e laranja quando a varanda é um ponto de referência do horizonte.
Os arquitetos não acreditaram que a varanda seria o único lugar onde o homem poderia cochilar de fato, sem atentar para o tempo. E não se deram conta de que o símbolo do amor é uma varanda, sem muros e sem divisões. E não ouviram Raul Seixas “perdido na varanda de mercúrio, sem asas para perseguir o eco”; não invejaram Dorival Caymmi deitado numa rede na varanda.
Não aferiram que os mais apurados prazeres da vida se originam e se manifestam na varanda e é esse espaço que nos revela os melhores sentimentos e é nela, varanda, que encontramos os atalhos que nos apontam novos caminhos.
Quem sabe nesta hora, por que acredito na capacidade do ser humano de redimir seus erros, um arquiteto, em algum lugar do mundo, já projeta uma varanda com casa. Uma varanda enorme, suspensa sobre um aquário ornamental de carpas vermelhas, com samambaias, palmeiras e bambus em vasos grandes, moitas de crisântemos azuis e roxos e agrupados de antúrios brancos e vermelhos; em volta redes e poltronas, espaço gourmet e pubs de todos os tamanhos, mesas de estar e de jantar, carrinhos de chá e uma adega climatizada.
Uma varanda de 300 metros quadrados com uma casa como puxadinho, de 50 metros apenas, vá que exagerei, 40 dá, para alocar um banheiro e uma máquina de lavar e, talvez, uma cama para os hóspedes que perseveram no estresse.
Sonho com uma varanda do tamanho da saudade de nossos ancestrais. Que se um dia abandonaram suas inscrições rupestres na rocha e deixaram para trás as lembranças de gerações aprisionadas na casa de pedra é porque sonharam, talvez, com iguanas voadoras, a sua sombra projetada na Lua, como o ciclista do ET de Spielberg. Para serem observadas e invejadas de uma varanda.


TBT de uma crônica de minha autoria publicada no Correio* em 2012. Dedico ela a meus amigos arquitetos

THE OLD MINE WHERE NAZIS

The old mine where Nazis hid stolen art


 https://www.bbc.com/reel/playlist/hidden-histories?vpid=p0fjpb2j&ocid=ww.social.link.email

RUTHIE FOSTER

ANDRA DAY

CELESTE

VALERIE JUNE

ESPÉRANÇA SPALDING

sábado, 29 de abril de 2023

SORRIA, VOCÊ ESTÁ NA BAHIA



Já tinha minha crônica quinzenal pronta, quando acontecimentos recentes no centro antigo de Salvador me levaram a tratar do velho tema, quotidianamente atualizado. O da segurança.

É de conhecimento público e notório que onde tem turista, tem ladrão. Seja na torre Eiffel, em Time Square, no Coliseu ou na Praça Djemaa Elfna. E nos transportes públicos. Se pegar o famoso elétrico 28 de Lisboa, saiba que tem sempre pelo menos um ladrão de plantão. Sempre bem vestido e perfumado.

Mas no Pelourinho e adjacências há mais um ingrediente: a violência. O vídeo dos dois jovens romenos ensanguentados em plena luz do dia a esta hora deve ter corrido o mundo, suscitando o espanto e o medo de meter o pé na nossa tão badalada Boa Terra.

Na Deltur, que recusa redigir B.O. por agressão sonora, melhor você estar bem vestido. Já teve quem se queixou de não ser atendido por estar de bermuda. Na rua, os Cosme e Damião ficam tão absorvidos no celular que pode passar uma boiada de malandros a dois metros numa boa. Já assisti a isso, pessoalmente, junto à Ordem Terceira de São Francisco, esquina com a Ladeira do Pax. Apesar da gritaria, nem levantaram o nariz da telinha.

A polícia sabe onde os receptadores têm seu antro. Quantas vezes por ano são incomodados? Um ponto tradicional de assaltos a turistas é na parte alta da Ladeira do Carmo. Serviço 24 horas. Depenação profissional garantida. Quem tiver curiosidade, que pergunte aos moradores da área. Obterá fartura de informações.

No Santo Antônio, o Largo e a Cruz do Pascoal são os dois pontos mais nevrálgicos. Bastaria fiscalizar a entrada das ladeiras do Pilar e dos Perdões para diminuir a sangria.

Acabar com a pivetagem é um rochedo de Tântalo. Não existe solução a curto prazo, pois a raiz mais profunda é a injustiça social que caracteriza nossa sociedade. Educação deficitária, desemprego, falta de perspectiva para os jovens, apelo fácil da droga e preconceito racial encurralam uma boa parte da população para a marginalidade. Posso dar um exemplo? Na Cidade Baixa, por trás da Igreja do Pilar, um antigo frigorífico foi transformado em conjunto habitacional para as famílias que ocupavam a encosta. Pobreza, comida escassa, adolescentes ociosos.

Do outro lado da avenida Jequitaia, um imenso espaço verde com terreno de futebol, piscina, áreas de lazer cobertas, árvores frondosas, gramado, estacionamento. É o quartel dos Fuzileiros Navais. Fora os jogos de bola e, vez ou outra, alguns jovens correndo, pouca, bem pouca atividade.

Custaria muito os responsáveis abrirem o portão por algumas horas por semana e fazer um trabalho social com os jovens vizinhos tão carentes? As Forças Armadas não têm nenhum compromisso com a camada social mais necessitada, nenhum mesmo?


POLÍCIA: VIOLENTA, MAS INCOMPETENTE:

https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Ftwitter.com%2Fi%2Fstatus%2F1651178259340574727%3Ffbclid%3DIwAR29VcP9UMSkhJSBBSpCWvwjIgKPpaq4KQvOaqMhlO0NiEeJb7p1wSAq9ms&h=AT08YE96iOn8ZdXYju6nXJ5POYP89U-mf7Te9ra0ocBDKjSg75XtIocM6NPi4L3z096eXab1BRrqt8aK1cYESb1b0CFuEpMj1a3WpqbnYIIPssKfNJVAoGyQo1b2fZeB3xIcAoZPUM4qhhfqtkTm&__tn__=-UK-R&c[0]=AT1mijjqhgHtmZSWqsBlkvv5FIBy_sbPK2qQD4wwu96D3myVOTDf-QH5wmyFIkeg0U3Rye7un_E1Ny1h_oRtx3iHq3dagWu8xuOHjNgJoRscZ1SP4j6Gh-skaEyF9gJEAQQ-8_o5debiM7TBUQZ2p57vrg

quinta-feira, 27 de abril de 2023

O CHATGPT

 

O CHATGPT PRECISA DE FONTES E REFERÊNCIAS 

 ARMANDO AVENA 

 JORNAL A TARDE

De tanto ouvir falar sobre o ChatGpt, resolvi conversar com ele. O ChatGpt é a face visível da inteligência artificial e está a assustar o mundo com sua capacidade de reunir informações e sacá-las do bolso do colete. 

Não costumo conversar com que não conheço e, por isso, após os cumprimentos iniciais, perguntei de pronto: “Você me conhece?” Ao que ele respondeu: “Sim, eu tenho algumas informações sobre Armando Avena. Ele foi um escritor, jornalista e economista brasileiro nascido em Salvador que faleceu em 2016”. Tomei um susto e a antipatia foi imediata, afinal, o ChatGPT havia decretado minha morte, mas continuei prestando atenção.  “Avena foi membro da Academia de Letras da Bahia, Secretário de Planejamento do Estado e prefeito de Camaçari”. Como estou escrevendo essas linhas, presumo que estou vivo, além disso, não sou político e nem quero ser, muito menos prefeito de Camaçari. Com isso, tive certeza de que as informações do CharGPT nem sempre são verdadeiras.

Fiz então um print, que ainda preservo,  dos erros da inteligência artificial e informei-a dos seus equívocos. Aí ela  começou a desculpar-se: “Desculpe, como modelo de linguagem treinado por dados, obtenho informações a partir de fontes públicas disponíveis, mas não tenho capacidade de verificar se as informações que tenho são verdadeiras ou não”.

Bingo! Esse é o problema do ChatGPT e de todas as inteligências artificiais que estão disponíveis na internet: eles não citam a fonte, não trazem referências sobre as informações que estão disseminando e, por isso, são um perigo para a humanidade, pois se constituem em fonte de desinformação e de mentiras. Mas percebi que  a inteligência artificial aprende, pois à medida que eu ia informando seus erros, ela pedia desculpas e mudava suas respostas, até que, quando voltei a perguntar por mim, ele respondeu que não tinha informações específicas sobre pessoas.

Segui em frente e perguntei ao ChatGPT vários assuntos sobre economia. Suas respostas eram corretas, mas simplistas, ou seja, ele dizia o que cada conceito representava, no entanto,  as  inter-relações que fazia eram por vezes incompletas, inadequadas  e nem sempre  era dito o nome do pensador ou estudioso que propôs esse ou aquele conceito. Novamente, faltavam as fontes e as referências.

Na verdade, iniciei minha conversação com o ChatGPT com o objetivo de levá-lo a erro e, de certa forma, consegui, mas admito que seu nível de informação sobre várias questões é monumental, o problema é que não posso acreditar totalmente nelas, pois não são referenciadas.  Até a Wikipédia, a enciclopédia da internet, só aceita a publicação de verbetes quando existem fontes e referências.

E é aí que está o busílis. Por isso, os governos precisam agir, não para suspender as pesquisas ou o desenvolvimento das inteligências artificiais, mas para exigir que suas respostas tragam as fontes e as referências. Se não for assim, estaremos destruindo a história e criando uma geração que acredita em qualquer coisa.

LUCAS TERRA E O CINISMO DA IURD

 Advogada diz que justiça será feita e que júri servirá para dar resposta à sociedade

Por Camila São José / Anderson Ramos


Foto: Camila São José / Bahia Notícias

Advogada da família de Lucas Terra, Tuany Sande, acredita na condenação dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados de assassinarem o adolescente de 14 anos, ocorrido no ano de 2001. Os dois irão a júri popular, que acontece nesta terça-feira (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.

 

“Se você se debruçar nas quase 9 mil laudas desse processo desde o início da época do Galisa, já existia indícios de materialidade de autoria apontando os dois réus. Infelizmente lá atrás, não sei porquê, eles não foram indiciados. Porém, atualmente eu acredito que temos todos os argumentos, de autoria e materialidade para que os dois sejam condenados. Mas tudo pode acontecer. Nesses dois, três, quatro dias que nós não sabemos quantos dias vão durar o julgamento, tudo pode acontecer. O que eu espero é que a justiça seja feita e que eles sejam condenados. Não vou dizer se é na pena máxima porque eu não tenho como mensurar como será a dosimetria da pena, mas espero que a condenação venha e que a justiça seja feita”, argumentou a advogada ao Bahia Notícias.

 

Em relação ao tempo do julgamento, Tuany explicou que a previsão de quatro dias se dá porque é um processo complexo, no qual serão ouvidas muitas testemunhas. “Nós não sabemos se vai durar até sexta-feira. Pode acontecer que acabe hoje, pode acontecer que acabe amanhã. Nós mensuramos um prazo de dois a três dias porque estamos tratando de um processo que é conhecido, que tem um fator midiático muito forte, a família não deixou entrar no esquecimento. Não tenho como mensurar como será a dinâmica. Mas vamos aguardar hoje como será a divisão. A gente sabe que tem que começar pela acusação. Temos o número de cinco testemunhas de acusação, que é o número que está na lei. Eles têm direito a trazer 10 testemunhas. Então esperamos que seja longo porque são 15 testemunhas para serem ouvidas, fora o interrogatório e os debates. Então, acredito que não será hoje a finalização desse júri”, explanou.

 

A advogada também defendeu a atuação no Ministério Público no processo. O parquet foi questionado por não ter inserido mais crimes na petição inicial, o que poderia aumentar a pena dos acusados.

 

“Eu não posso julgar a atuação do Ministério Público, na época, eu acho que com o que eles tinham, eles fizeram o melhor. Claro que muitas coisas podem acontecer, mas se não fosse a atuação ferrenha do Ministério Público, esse julgamento hoje não estava acontecendo hoje”, pontuou.


 

RELEMBRE O CASO


Lucas Terra era frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Rio Vermelho, e foi encontrado morto, com o corpo carbonizado, em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama.

 

O principal suspeito do caso, na época, foi Sílvio Roberto Galiza, pastor da Universal. Ele já havia sido afastado da igreja por ter sido flagrado dormindo ao lado de adolescentes frequentadores do templo.

 

Os investigadores concluíram que Galiza abusou sexualmente de Lucas e o queimou ainda vivo, descartando o corpo para encobrir o crime. O pastor foi condenado, inicialmente, a 23 anos e 5 meses de prisão em 2004. Após recursos, a pena foi reduzida para 15 anos. Hoje, o condenado vive em liberdade. 

Porém, em 2006, surgiu uma nova versão. Galiza delatou os também pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda. De acordo com o religioso condenado, os colegas da Igreja Universal foram flagrados pelo adolescente em um ato sexual. Segundo ele, por esse motivo, Lucas Terra teria sido assassinado.

 

Como consequência dessa delação, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já desconfiava que Galiza não teria cometido sozinho o crime que resultou na morte de Lucas Terra, denunciou tanto Fernando Aparecido quanto Joel Miranda como corresponsáveis pelo homicídio.

 

Após diversas idas e vindas, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os dois pastores deveriam ir a júri popular, em um julgamento que está marcado para as 8h desta terça (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.



E O CINISMO DA IGREJA UNIVERSAL DO


 REINO DE DEUS



Universal não vê motivo para afastar pastores do caso Lucas Terra

Igreja contesta provas contra pastores que teriam queimado garoto vivo

Publicado quarta-feira, 26 de abril de 2023 às 16:57 h | Autor: Da Redação
Igreja Universal sai em defesa de pastores após acusações
Igreja Universal sai em defesa de pastores após acusações - 



A repercussão do início do julgamento dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados de matar e ocultar o cadáver do adolescente Lucas Terra, fez a Igreja Universal se pronunciar, nesta quarta-feira, 26. Em nota, a instituição disse estar "completamente convicta quanto à inocência" dos pastores e confirmou que ambos continuam no quadro da igreja, "um em Minas Gerais (Joel) e outro no Rio de Janeiro (Fernando)".

Essa confirmação veio num momento em que fiéis da Igreja Universal nos quatro cantos da capital baiana passaram a dizer que os réus já não faziam parte da congregação. O que confundiu parte da população.

A instituição disse ainda em relação aos dois pastores "que jamais foi encontrado, até aqui, comportamentos, provas ou indícios que os coloquem na cena deste crime tão brutal e lamentável". Além disso, frisou que ambos somam "quase 32 anos de ministério".

"Nossas orações – pelos familiares da vítima –, e pelos pastores, que, juntamente de seus familiares, têm sido submetidos a uma grave, descabida e injusta pena, em uma campanha midiática que já dura há anos. Os bispos, pastores e milhões de simpatizantes da Universal que estão entre as maiores vítimas de preconceito religioso no Brasil, sentem também essa dor", diz o rodapé da nota.


Pastores são condenados a 21 anos de prisão por morte de Lucas Terra.



Pastores são condenados a 21 anos de prisão por morte de Lucas Terra Lucas Terra, de 14 anos, foi estuprado e queimado vivo dentro de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, na Bahia em 2001 

 Dois pastores foram condenados a 21 anos de prisão pela morte do adolescente Lucas Terra, em março de 2001, em Salvador. O júri popular começou na terça-feira (25), no Fórum Ruy Barbosa, na capital baiana, e durou três dias. 

O que aconteceu 

Os pastores da Igreja Universal do Reino de Deus Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda foram condenados na noite de ontem (27) por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel. 

Eles também teriam ocultado o corpo da vítima, de acordo com a denúncia do Ministério Público da Bahia (MP-BA). Porém, esse crime prescreveu e não foi levado em consideração na sentença. Na decisão de ontem, a juíza Andrea Sarmento considerou que os pastores agiram com "frieza e periculosidade" devido a causa da morte por carbonização. 

A magistrada considerou ainda que as circunstâncias do crime demonstram que a vítima foi submetida a excessivo sofrimento, com base no laudo de exame cadavérico, que mostrou que o adolescente teve 80% da área corpórea carbonizada.

Os motivos do crime revelam que o mesmo foi praticado motivado por vingança, em razão da negativa da vítima às investidas sexuais dos acusados." Andrea Sarmento, juíza. Durante o julgamento, foram ouvidas 15 testemunhas, 10 de defesa e 5 de acusação. O promotor Davi Gallo disse ao UOL que o MP-BA não irá recorrer da decisão.

Achamos que a pena foi adequada por conta dos três qualificadores (motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel)" Davi Gallo, promotor de justiça O UOL procurou os advogados dos pastores, Nelson Nerton Fernandes Tavora Neto e Nelson da Costa Barreto Neto, mas não obteve resposta até a publicação.



QUEM É ESSA MULHER?

quarta-feira, 26 de abril de 2023

CONHECER JESUS CRISTO

 


Sobre a seita suicida do jejum, no Quênia:

Ensinar cristianismo para uma população culturalmente distante de tais conceitos é sempre perigoso. É muito difícil um sistema religioso se superpor a outro, anterior e mais adequado.
No Quênia foi essa mortandade pelo jejum. Mas antes, na década de 1950, o choque cultural decorrente da cristianização resultou na guerra civil dos Mau-Mau.
No Congo, colônia da Bélgica, ocorreu a perseguição do governo católico belga quando surgiu uma variante cristã local sincrética de nome Kimbanguismo. Sobre esse tema há um capitulo no amplo estudo do antropólogo italiano Vittorio Lanternari, "A religião dos oprimidos", publicado em São Paulo pela Editora Perspectiva.
Na Nigéria o cristianismo, em seu formato pentecostal, resultou em conflitos violentos com os islâmicos do norte, Kanen e Hausá, e com os animistas Ibo do sudeste. E não bastando, o sincretismo do pentecostalismo com as crenças locais de cunho mais tradicional resultou numa epidemia de acusações feitas pelo "paxtô" contra crianças, nas quais foi "diagnosticado" que seriam bruxas. Como seus pais, que acreditavam no enbuste, não tinham o dinheiro exigido para fazer o exorcismo, as pobres crianças eram espancadas.
No caso nigeriano, há um excelente romance de um escritor do país, da etnia Ibo, que mostra claramente esse choque cultural. O livro chama-se "O mundo se despedaça" e seu autor é Achebe Chinua. Está traduzido pela Editora Ática, de São Paulo.
Na China do século XIX o metodismo criou uma dissidência de nome Taiping, resultando numa guerra civil que devastou o centro-sul do país por vários anos, com mais de 15 milhões de mortos dos dois lados. Para termos ideia do estrago, a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, matou 10 milhões, e isso, com armamento bem superior e mais eficiente. Há um livro que trata do assunto, por parte do principal historiador ocidental da China, o inglês Jonathan Spence, e chama-se "O filho chinês de Deus". Foi traduzido em São Paulo pela Companhia das Letras.
Fora a desgraceira quanto vemos os tais de missionários agindo em terras indígenas, que estamos vendo. As conversões desestruturam as culturas tradicionais e deixam em seu lugar a prostituição, alcoolismo, desrespeito com relação aos mais idosos, rupturas conjugais, inimizades nas famílias, etc.
É, de fato, uma desgraça.

terça-feira, 25 de abril de 2023

APESAR DE VOCÊ

VALEU A PENA ESPERAR

 

Por O GLOBO — Lisboa

Com quatro anos de atraso, Chico Buarque recebe Prêmio Camões em Portugal
Com quatro anos de atraso, Chico Buarque recebe Prêmio Camões em Portugal Reprodução

Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade. Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo.

O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura. O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.

O cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebe Prêmio Camões dos presidentes de Portugal e do Brasil — Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

O cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebe Prêmio Camões dos presidentes de Portugal e do Brasil — Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de Prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde — sou leitor e admirador. Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim.

Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade. Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele Governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-Presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso Presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.

Muito obrigado