Sobre a seita suicida do jejum, no Quênia:
Ensinar cristianismo para uma população culturalmente distante de tais conceitos é sempre perigoso. É muito difícil um sistema religioso se superpor a outro, anterior e mais adequado.
No Quênia foi essa mortandade pelo jejum. Mas antes, na década de 1950, o choque cultural decorrente da cristianização resultou na guerra civil dos Mau-Mau.
No Congo, colônia da Bélgica, ocorreu a perseguição do governo católico belga quando surgiu uma variante cristã local sincrética de nome Kimbanguismo. Sobre esse tema há um capitulo no amplo estudo do antropólogo italiano Vittorio Lanternari, "A religião dos oprimidos", publicado em São Paulo pela Editora Perspectiva.
Na Nigéria o cristianismo, em seu formato pentecostal, resultou em conflitos violentos com os islâmicos do norte, Kanen e Hausá, e com os animistas Ibo do sudeste. E não bastando, o sincretismo do pentecostalismo com as crenças locais de cunho mais tradicional resultou numa epidemia de acusações feitas pelo "paxtô" contra crianças, nas quais foi "diagnosticado" que seriam bruxas. Como seus pais, que acreditavam no enbuste, não tinham o dinheiro exigido para fazer o exorcismo, as pobres crianças eram espancadas.
No caso nigeriano, há um excelente romance de um escritor do país, da etnia Ibo, que mostra claramente esse choque cultural. O livro chama-se "O mundo se despedaça" e seu autor é Achebe Chinua. Está traduzido pela Editora Ática, de São Paulo.
Na China do século XIX o metodismo criou uma dissidência de nome Taiping, resultando numa guerra civil que devastou o centro-sul do país por vários anos, com mais de 15 milhões de mortos dos dois lados. Para termos ideia do estrago, a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, matou 10 milhões, e isso, com armamento bem superior e mais eficiente. Há um livro que trata do assunto, por parte do principal historiador ocidental da China, o inglês Jonathan Spence, e chama-se "O filho chinês de Deus". Foi traduzido em São Paulo pela Companhia das Letras.
Fora a desgraceira quanto vemos os tais de missionários agindo em terras indígenas, que estamos vendo. As conversões desestruturam as culturas tradicionais e deixam em seu lugar a prostituição, alcoolismo, desrespeito com relação aos mais idosos, rupturas conjugais, inimizades nas famílias, etc.
Nada mais anticristão do que essas imposições religiosas.
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