Advogada diz que justiça será feita e que júri servirá para dar resposta à sociedade
Advogada da família de Lucas Terra, Tuany Sande, acredita na condenação dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados de assassinarem o adolescente de 14 anos, ocorrido no ano de 2001. Os dois irão a júri popular, que acontece nesta terça-feira (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.
“Se você se debruçar nas quase 9 mil laudas desse processo desde o início da época do Galisa, já existia indícios de materialidade de autoria apontando os dois réus. Infelizmente lá atrás, não sei porquê, eles não foram indiciados. Porém, atualmente eu acredito que temos todos os argumentos, de autoria e materialidade para que os dois sejam condenados. Mas tudo pode acontecer. Nesses dois, três, quatro dias que nós não sabemos quantos dias vão durar o julgamento, tudo pode acontecer. O que eu espero é que a justiça seja feita e que eles sejam condenados. Não vou dizer se é na pena máxima porque eu não tenho como mensurar como será a dosimetria da pena, mas espero que a condenação venha e que a justiça seja feita”, argumentou a advogada ao Bahia Notícias.
Em relação ao tempo do julgamento, Tuany explicou que a previsão de quatro dias se dá porque é um processo complexo, no qual serão ouvidas muitas testemunhas. “Nós não sabemos se vai durar até sexta-feira. Pode acontecer que acabe hoje, pode acontecer que acabe amanhã. Nós mensuramos um prazo de dois a três dias porque estamos tratando de um processo que é conhecido, que tem um fator midiático muito forte, a família não deixou entrar no esquecimento. Não tenho como mensurar como será a dinâmica. Mas vamos aguardar hoje como será a divisão. A gente sabe que tem que começar pela acusação. Temos o número de cinco testemunhas de acusação, que é o número que está na lei. Eles têm direito a trazer 10 testemunhas. Então esperamos que seja longo porque são 15 testemunhas para serem ouvidas, fora o interrogatório e os debates. Então, acredito que não será hoje a finalização desse júri”, explanou.
A advogada também defendeu a atuação no Ministério Público no processo. O parquet foi questionado por não ter inserido mais crimes na petição inicial, o que poderia aumentar a pena dos acusados.
“Eu não posso julgar a atuação do Ministério Público, na época, eu acho que com o que eles tinham, eles fizeram o melhor. Claro que muitas coisas podem acontecer, mas se não fosse a atuação ferrenha do Ministério Público, esse julgamento hoje não estava acontecendo hoje”, pontuou.
RELEMBRE O CASO
Lucas Terra era frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Rio Vermelho, e foi encontrado morto, com o corpo carbonizado, em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama.
O principal suspeito do caso, na época, foi Sílvio Roberto Galiza, pastor da Universal. Ele já havia sido afastado da igreja por ter sido flagrado dormindo ao lado de adolescentes frequentadores do templo.
Os investigadores concluíram que Galiza abusou sexualmente de Lucas e o queimou ainda vivo, descartando o corpo para encobrir o crime. O pastor foi condenado, inicialmente, a 23 anos e 5 meses de prisão em 2004. Após recursos, a pena foi reduzida para 15 anos. Hoje, o condenado vive em liberdade.
Porém, em 2006, surgiu uma nova versão. Galiza delatou os também pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda. De acordo com o religioso condenado, os colegas da Igreja Universal foram flagrados pelo adolescente em um ato sexual. Segundo ele, por esse motivo, Lucas Terra teria sido assassinado.
Como consequência dessa delação, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já desconfiava que Galiza não teria cometido sozinho o crime que resultou na morte de Lucas Terra, denunciou tanto Fernando Aparecido quanto Joel Miranda como corresponsáveis pelo homicídio.
Após diversas idas e vindas, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os dois pastores deveriam ir a júri popular, em um julgamento que está marcado para as 8h desta terça (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.
E O CINISMO DA IGREJA UNIVERSAL DO
REINO DE DEUS
Universal não vê motivo para afastar pastores do caso Lucas Terra
Igreja contesta provas contra pastores que teriam queimado garoto vivo
A repercussão do início do julgamento dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados de matar e ocultar o cadáver do adolescente Lucas Terra, fez a Igreja Universal se pronunciar, nesta quarta-feira, 26. Em nota, a instituição disse estar "completamente convicta quanto à inocência" dos pastores e confirmou que ambos continuam no quadro da igreja, "um em Minas Gerais (Joel) e outro no Rio de Janeiro (Fernando)".
Essa confirmação veio num momento em que fiéis da Igreja Universal nos quatro cantos da capital baiana passaram a dizer que os réus já não faziam parte da congregação. O que confundiu parte da população.
A instituição disse ainda em relação aos dois pastores "que jamais foi encontrado, até aqui, comportamentos, provas ou indícios que os coloquem na cena deste crime tão brutal e lamentável". Além disso, frisou que ambos somam "quase 32 anos de ministério".
"Nossas orações – pelos familiares da vítima –, e pelos pastores, que, juntamente de seus familiares, têm sido submetidos a uma grave, descabida e injusta pena, em uma campanha midiática que já dura há anos. Os bispos, pastores e milhões de simpatizantes da Universal que estão entre as maiores vítimas de preconceito religioso no Brasil, sentem também essa dor", diz o rodapé da nota.
Pastores são condenados a 21 anos de prisão por morte de Lucas Terra.
Pastores são condenados a 21 anos de prisão por morte de Lucas Terra Lucas Terra, de 14 anos, foi estuprado e queimado vivo dentro de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, na Bahia em 2001
Dois pastores foram condenados a 21 anos de prisão pela morte do adolescente Lucas Terra, em março de 2001, em Salvador. O júri popular começou na terça-feira (25), no Fórum Ruy Barbosa, na capital baiana, e durou três dias.
O que aconteceu
Os pastores da Igreja Universal do Reino de Deus Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda foram condenados na noite de ontem (27) por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel.
Eles também teriam ocultado o corpo da vítima, de acordo com a denúncia do Ministério Público da Bahia (MP-BA). Porém, esse crime prescreveu e não foi levado em consideração na sentença. Na decisão de ontem, a juíza Andrea Sarmento considerou que os pastores agiram com "frieza e periculosidade" devido a causa da morte por carbonização.
A magistrada considerou ainda que as circunstâncias do crime demonstram que a vítima foi submetida a excessivo sofrimento, com base no laudo de exame cadavérico, que mostrou que o adolescente teve 80% da área corpórea carbonizada.
Os motivos do crime revelam que o mesmo foi praticado motivado por vingança, em razão da negativa da vítima às investidas sexuais dos acusados." Andrea Sarmento, juíza. Durante o julgamento, foram ouvidas 15 testemunhas, 10 de defesa e 5 de acusação. O promotor Davi Gallo disse ao UOL que o MP-BA não irá recorrer da decisão.
Achamos que a pena foi adequada por conta dos três qualificadores (motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel)" Davi Gallo, promotor de justiça O UOL procurou os advogados dos pastores, Nelson Nerton Fernandes Tavora Neto e Nelson da Costa Barreto Neto, mas não obteve resposta até a publicação.
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