sexta-feira, 21 de abril de 2023

A MEMÓRIA DE SMETAK

Até quando a exposição de Smetak ficará fechada?

No ano do centenário, por um triz esta mesma exposição que agora está fechada foi ameaçada de despejo.


Aconteceu ontem (19), na Galeria do Solar Ferrão, no Pelourinho, a performance de abertura da exposição Sons Acirapati, do saxofonista norte-americano Neil Leonard, que está na Bahia em residência artística no Instituto Sacatar, em Itaparica. Entusiasta das plásticas sonoras e do pensamento do suíço-baiano Anton Walter Smetak, Neil escolheu local e tema da mostra não apenas para homenagear o artista no ano em que ele completaria 110 anos, mas também como uma forma de pressionar a reabertura da exposição permanente “Smetak — o Alquimista dos Sons”, que está fechada ao público desde o início da pandemia de Covid-19 e assim permanece sob pretexto de uma reforma no espaço. Nem se fosse no espaço sideral, seria admissível tanta demora para concluir uma obra no vão de um edifício.

Enquanto isso, turistas e baianos, aficionados ou predispostos a descobrir o universo sonoro visual criado pelo bruxo do porão da Escola de Música da Ufba, batem com a cara na porta da frustração. É incrível o descaso que a Bahia dirige ao legado do “decompositor” que segue influenciando músicos no mundo inteiro, do Uakti à Ensemble Modern. No ano do centenário, por um triz esta mesma exposição que agora está fechada foi ameaçada de despejo. E só não o foi de fato por pressão da imprensa e repercussão negativa. Por isso aproveito este espaço novamente para cobrar uma resposta do Ipac a respeito da reabertura. Reformas têm (ou deviam ter) prazo. Até quando a exposição de Smetak ficará fechada?

No disco “Araçá Azul”, lançado há 50 anos, Caetano Veloso opõe e combina “Smetak & Musak” — aquele sistema de música de elevadores cuja função é adormecer, embalar, anestesiar os indivíduos. Pois em nossos tempos de TikTok, a obra de Smetak-tak tak (medula e osso) é cada vez mais necessária para a educação dos cinco sentidos, enquanto a IA ainda não faz isso por nós. Patrimônio nacional, seus instrumentos, escritos e desenhos não podem ser furtados ao público por desleixo ou incompetência. Alguém tem que responder quando a exposição será reaberta.


James Martins


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