O DESESPERADO

 Dezessete anos longe do público, "Le Désespéré", célebre autorretrato de Gustave Courbet, volta a ser exibido no Museu d’Orsay, em Paris.

Pintada entre 1844 e 1845, a obra-prima, que pertence atualmente à instituição Qatar Museums, permanecerá em exibição por pelo menos cinco anos. O retorno do quadro marca um momento significativo na trajetória de Courbet, cuja obra percorreu caminhos turbulentos entre coleções privadas e instituições internacionais.

Com dimensões modestas de 45 por 54 centímetros, a pintura retrata um jovem Courbet tomado por um olhar de assombro e tensão, num raro exercício de intensidade emocional e domínio técnico. Segundo Paul Perrin, curador-chefe do Museu d’Orsay, trata-se do autorretrato mais expressivo do artista — uma demonstração de maestria pictórica e introspecção que antecipa a força dramática do realismo que Courbet desenvolveria nas décadas seguintes.

A obra, exibida pela última vez na França em 2007-2008, percorreu retrospectivas em Paris, Nova York e Montpellier.

O empréstimo foi firmado entre o Museu d’Orsay e Qatar Museums, sob a presidência de Sheykha Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al Thani, e teve como articulador o diretor Sylvain Amic, falecido em agosto deste ano. Em nota, a instituição francesa destacou que a chegada de "Le Désespéré" celebra o legado de Amic e reafirma o diálogo entre Paris e Doha, num gesto que une conservação, diplomacia cultural e o compromisso de manter viva a emoção que Gustave Courbet imprimiu em cada traço de desespero.