Não sei se cai de paraquedas ou alguém me empurrou para a sala 01 no térreo do cinema Glauber Rocha numa manhã de outono. Só me lembro de estar sentado no lado direito, perto da porta de entrada, assistindo a um ritual bizarro e algo medieval de bajulação e subserviência política ao governador do momento.
Uns senhores vestidos de esporte fino ou de terno e gravata cedendo
com vênias sua poltrona a outros também vestidos de esporte fino ou terno e
gravata. Sorrisos, risadas, abraços e palmadinhas. Durante umas três horas, o
grandiloquente rosário de discursos elogiando rasgadamente o governador sentado
na poltrona do meio da primeira fila, de terno e gravata, chegou a me provocar
o mesmo enjoo que o excesso de guloseimas. Nunca pensei que poderia, um dia,
testemunhar de evento mais atemporal.
Finalmente o Grande Show de Fidelidade Partidária terminou
e, por mero acaso, encontrei-me na saída a meio metro do homenageado
governador. Aproveitei para declarar-lhe minha satisfação pela escolha do quartel
dos fuzileiros navais do Comércio para implantação do novo Centro de
Convenções.
Já imaginava o privilégio de poder admirar desde o fundo de
minha casa no Santo Antônio a soberba realização de uma obra-prima assinada,
quem sabe, por Frank Gehry, Santiago Calatrava, Jean Nouvel, Zaha Hadid ou até o
Ming Pei da pirâmide do Louvre. Sem tirar uma só árvore, um fabuloso, delirante
monumento revolucionaria toda a Cidade Baixa de Salvador. Como em Bilbao, patinho
feio nos anos 50, com o Guggenheim, o novo centro de convenções iria drenar um
sangue novo e ressuscitar, não somente o Comércio, mas a Calçada, e todo o
centro histórico, transformando finalmente os galpões moribundos do porto em
restaurantes, centros comerciais, espaços de convívio, salas para concertos e
grandes exposições, tal como em Belém, Buenos-Aires e Barcelona. A hotelaria,
desde o Campo Grande até o Largo de Santo Antônio, teria uma ocupação beirando
a saturação. Isso sim, seria uma megaoperação ao investir em benefício de um
turismo útil, variado e permanente. E menos invasivo que o carnaval
industrializado ou os shows da vida que esmagam a cultura popular com rolos
compressores.
Não demoraria muito tempo em acordar. Eu tive um sonho, mas
só fora um sonho. Depois de ter mudado meia dúzia de vezes de proposta de localização,
o único centro de convenções que apareceu, por outras mãos, foi aquela coisinha
provinciana da Boca do Rio, longe do agito da cidade, em espaço desértico,
quase hostil. As poucas vezes que tive oportunidade de participar de congressos
em outras terras, foi sempre bem perto do centro, permitindo passear a pé a
descobrir alguns dos mistérios da cidade que me recebia.
“...O incompetente manda”.
Gregório de Matos.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, 4 de outubro 2025

Vc confundiu os Centros de Convenções, o do Comércio seria do Estada se a Marinha do Brasil doase o terreno, O da Boca do Rio é iniciativa da Prefeitura do Salvador. O Estado cintinua sem um Centro de Convenções.
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