“Sócrates urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir”
O ex-primeiro-ministro “mentiu tanto e tão bem” que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, aponta Fernanda Câncio, jornalista e ex-namorada de José Sócrates, num texto de opinião publicado esta segunda-feira no “Diário de Notícias”
osé Sócrates “mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos” e aos que tinha “mais próximos”, escreve Fernanda Câncio - jornalista com quem o primeiro-ministro socialista manteve uma relação próxima no passado -, num texto de opinião publicado esta segunda-feira no “Diário de Notícias”.
De acordo com Câncio, Sócrates fingiu perante toda a gente que tinha fortuna de família, rejeitando até rendimentos a que tinha direito como alguém que deles não necessitava. “Urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir”, diz.
O ex-primeiro-ministro “mentiu tanto e tão bem” que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público. “Ao fazê-lo, não podia ignorar que estava não só a abusar da boa-fé dessas pessoas como a expô-las ao perigo de, se um dia se descobrisse a verdade, serem consideradas suas cúmplices e alvo do odioso expectável. Não podia ignorar que o partido que liderara, os governos a que presidira, até as políticas e ideias pelas quais pugnara, seriam conspurcados, como por lama tóxica, pela desonra face a tal revelação”, atira.
Segundo a jornalista que foi namorada de José Sócrates, quando este ocupava o cargo de primeiro-ministro, para criticá-lo não é preciso falar de responsabilidades criminais. Se as despesas pagas por Santos Silva se tratavam de um detalhe sem importância, “por que motivo (...) foi isso cuidadosamente escondido não só do país como dos próximos”, aponta Fernanda Câncio.
“Fazer publicamente esse juízo ético, no clima de caça às bruxas que se instalou após a revelação das mentiras de José Sócrates e das acusações de que é alvo, não é fácil. Quem sinta esse impulso, se for pessoa de bem, não pode deixar de ter pudor em bater em quem está por terra e temer ser confundido com a turba que clama por linchamento”, escreve.
Quanto à sequência de declarações de dirigentes do PS, na última semana, que acabou por levar ao afastamento voluntário de José Sócrates do partido, Câncio escreve que esta foi “confusa e falou de suspeitas criminais” em vez de se centrar no iniludível: “a assunção do próprio de que andou deliberadamente a enganar toda a gente”.
“Confusas ou não, porém, as declarações levaram o ex-líder a finalmente libertar o partido do terrível peso da sua presença simbólica”, remata Câncio.
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