quarta-feira, 3 de abril de 2024

OS BRONZES DE RIACE

A INCRÍVEL DESCOBERTA DESTA MARAVILHA DA CALÁBRIA!


Uma das maiores descobertas na história da arqueologia, devida a um jovem mergulhador diletante. Duas das mais belas obras da arte grega chegadas até nós, mas cuja origem ainda intriga e divide os arqueólogos. Conheça a fascinante história dos Bronzes de Riace e da sua incrível descoberta!
Era o dia 16 de Agosto de 1.972. Aquele poderia ter sido apenas mais um dia comum para o jovem romano Stefano Mariottini, o qual passava, como de costume, suas férias de verão no belo mar da cidade de Riace Marina na Calábria. Stefano tinha se adentrado no mar com um barco de pesca para praticar seu hobby preferido: mergulho.


Uma vez embaixo d’água porém, a oito metros de profundidade, ele notou uma coisa estranha: uma espécie de braço que sobressaía da areia no fundo do mar! Assustado, o jovem mergulhador, pensando à primeira vista que pudesse se tratar de um cadáver, voltou rapidamente à tona para respirar.


Todavia, vencido pela curiosidade e mesmo pela preocupação, Stefano resolveu mergulhar de novo, sem saber que estava prestes a fazer um dos maiores achados na história da arqueologia. De fato, descendo novamente até o fundo do mar, ele percebeu que o que tinha visto antes era na verdade um braço metálico e, sondando um pouco mais, se deu conta que se tratava não de um, mas sim de dois “corpos” encobertos pela areia!


Acionada pelo jovem, a Polícia mandou, com grande demora, um time de mergulhadores para averiguar, sem grandes pretensões, o achado de Stefano. No entanto, a notícia já tinha começado a circular pela cidade e muitas pessoas acorriam para assistir àquilo que esperavam pudesse ser a descoberta de um tesouro perdido. E não estavam enganadas: os esforços dos mergulhadores começou aos poucos a trazer à tona duas estátuas de bronze maciço que, embora encobertas por uma crosta espessa, já revelavam a inegável origem artística grega.
O entusiasmo foi contagiante e tomou não só a pequena cidade de Riace Marina, mas toda a Europa, curiosa de saber quais eram aquelas estátuas e como tinham ido parar no fundo do mar. Levadas até o Museu da Magna Grécia em Reggio Calábria, começou o trabalho de restauração: por debaixo da crosta começavam inesperadamente a aparecer não duas estátuas quaisquer, mas sim de extraordinária execução, verdadeiras obras-primas da escultura grega. Naturalmente, a comunidade dos arqueólogos, extasiada, celebrou o acontecimento como um dos maiores na história da arqueologia.


O evento era extraordinário também por um outro motivo. Muitas pessoas não sabem, mas quase nenhuma estátua grega original chegou até nós: as estátuas em mármore que vemos pelos museus e que chamamos de “gregas” são na verdade réplicas tardias, ainda que perfeitas, de época romana. Os escultores gregos de época clássica preferiam o bronze ao mármore e foi justamente esse motivo que levou a que quase nenhuma das esculturas gregas chegassem até nós, pois o bronze é um material precioso e, sobretudo, útil em tempos de guerra para a forja de armas. Assim, nos períodos mais conturbados da história da Grécia, invadida e saqueada nos séculos por diferentes povos bárbaros, boa parte das estátuas clássicas em bronze foram fundidas e infelizmente se perderam.


Restava saber quais eram aquelas estátuas e como tinham ido parar no fundo do mar. Quanto à segunda pergunta, os arqueólogos chegaram à conclusão de que as esculturas gregas tinham sido compradas por um rico romano, colecionador de obras da Grécia, que as tinha importado de navio: esse todavia naufragou, escondendo por dois mil anos sob a areia as duas belas estátuas até o dia da feliz descoberta de Stefano. Já a identidade das estátuas continua sendo até hoje um dos grandes mistérios da arqueologia e, embora diferentes interpretações tenham sido propostas, os arqueólogos ainda não conseguiram dar uma resposta definitiva a quem são os dois homens representados nas estátuas.
Se você for até Reggio Calábria, não deixe de visitar o Museu da Magna Grécia, um dos poucos no mundo que pode se orgulhar de não apenas uma, mas sim duas estátuas gregas originais e de extraordinária qualidade artística. Ali você poderá apreciar toda a exímia e prodigiosa habilidade dos escultores gregos da época clássica em representar nos menores detalhes a força, a beleza e a potência heroica do ser humano, que nem mesmo a passagem erosiva dos séculos conseguiu corroer.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

AS MEDALHAS DO HERÓI

 

As medalhas do comandante do Exército: os honrosos feitos do general Tomás, justificativas para homenagens recebidas

Condecorações exibidas por oficial general do Exército Brasileiro: Revista Sociedade Militar

Os oficiais generais das Forças Armadas Brasileiras, assim como seus pares nos Estados Unidos e em outros exército, ostentam muitas medalhas. Ao longo dos últimos meses a Revista Sociedade Militar recebeu questionamentos sobre a importância das condecorações e quais seriam os “feitos de guerra” realizados pelos oficiais brasileiros que justificam tantas condecorações.

O atual Comandante do Exército, General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, é um dos oficiais mais condecorados das Forças Armadas Brasileiras. Em solenidades públicas é possivelperceber o peso das condecorações nos belos uniformes que no ambiênte militar são reconhecidas como símbolos de elevada distinção, capacidade e habilidades que possui como militar. Em seu currículo oficial, exposto pelo Comando do Exército Brasileiro, se encontra uma lista as mais de 20 condecorações do oficial general

As condecorações e suas justificativas

Após apuração no arquivo de documentos do Exército Brasileiro, Ministério Público e outras instituições públicas, a Revista Sociedade Militar apurou as justificativas e feitos honrosos para as 10 condecorações mais significativas do general Tomás Miguel Miné, que atualmente comanda o Exército Brasileiro.

  1. Ordem do Mérito Militar – Grã-Cruz: é uma medalha recebida por todos que ocupam o cargo de Comandante do Exército, não há necessidade de realização de qualquer feito heróico ou excepcional.
  2. Ordem do Mérito da Defesa – Grã-Cruz: é uma medalha recebida por todos que ocupam o cargo de Comandante do Exército, não há necessidade de realização de qualquer feito heróico ou excepcional.
  3. Ordem do Mérito Judiciário – Alta Distinção: Homenagem recebida do poder judiciário.
  4. Ordem do Mérito do Ministério Público Militar – Grande-Oficial: É uma condecoração entregue para autoridades e cidadãos, brasileiros e estrangeiros, que hajam prestado reconhecidos serviços ao Ministério Público Militar ou lhe tenham demonstrado excepcional apreço.
  5. Medalha Militar de Ouro com Passador de Platina: A Medalha é entregue para condecorar os militares de carreira do Exército que tenham completado quarenta anos de bons serviços prestados. (http://www.sgex.eb.mil.br/sg8/005_normas/01_normas_diversas/01_comando_do_exercito/port_n_1548_cmdo_eb_28out2015.html )
  6. – Medalha Marechal Osório – O Legendário: Condecoração criada para premiar o militar do Exército que apresente excelente desempenho funcional, irrepreensível conduta civil e militar e destaque por excepcional preparo físico demonstrado em resultados  sucessivos de testes de aptidão física.
  7. Medalha das Nações Unidas – MINUSTAH: Medalha para quem participou das operações da ONU no Haiti
  8. Medalha do Corpo de Tropa – Bronze: A Medalha Corpo de Tropa destina-se a condecorar os militares de carreira do Exército, em serviço ativo, pelos bons serviços prestados em Organizações Militares Tipo Corpo de Tropa.
  9. Medalha Marechal Trompowsky com Passador de Ouro: para reconhecer os méritos de personalidades e instituições que prestaram relevantes serviços para o ensino do Magistério do Exército.
  10. Medalha Mérito em Clínica Médica: A medalha foi criada pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica, em São Paulo, no ano de 2019, e é outorgada a diversas personalidades, em virtude dos relevantes serviços prestados à comunidade social e cientifica, pela contribuição para a formação médica e, em especial para a especialidade Clínica Médica

Robson Augusto – Revista Sociedade Militar – Popyright@2024 Todos os direitos reservados

sábado, 30 de março de 2024

UM SER MUITO HUMANO

 Eu tinha 8 anos e meus amigos, 80': a história do menino colombiano que cuidava de idosos e comoveu a França

Albeiro Vargas vivia na pobreza e, em vez de sair para brincar depois da escola, percorria as casas do seu bairro em busca de idosos que precisassem de ajuda.

·         Rafael Abuchaibe - BBC News Mundo

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  Albeiro com uma idosa

Foto: Fundação Albeiro Vargas / BBC News Brasil


O pequeno Albeiro, de apenas 8 anos, estava ensinando um idoso a ler e escrever quando o jornalista francês Tony Comitti o viu pela primeira vez em sua terra natal, Bucaramanga, no norte da Colômbia.

Comiti cobria havia anos a tumultuada Colômbia do final dos anos 1980 para um dos principais canais da França, quando, quase por acaso, se deparou com a história de uma criança que vivia na pobreza — e que, em vez de sair para brincar depois da escola, percorria as casas do bairro em busca de idosos que precisassem de ajuda.

"Eu estava no cabeleireiro", conta Comiti à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC. "Vi a história dele no jornal El Tiempo, pensei que seria uma história positiva, algo que ajudaria a motivar as pessoas".

O que ele não sabia naquele momento, há mais de 30 anos, é que seu encontro com Albeiro iria promover todo um movimento de apoio e reconhecimento internacional que atualmente se reflete em uma fundação que ajuda quase 500 idosos em estado de vulnerabilidade no departamento de Santander.as a história de Albeiro Vargas, o menino que a imprensa colombiana chamava na época de "O Anjo do norte", não começa em Bucaramanga.

Ela começa, como muitas outras no país, no campo, com o drama do deslocamento forçado.

·          história positiva, algo que ajudaria a motivar as pessoas".

Mas a história de Albeiro Vargas, o menino que a imprensa colombiana chamava na época de "O Anjo do norte", não começa em Bucaramanga.

Ela começa, como muitas outras no país, no campo, com o drama do deslocamento forçado.

 

Fugindo da violência 

Bucaramanga, como outras regiões da Colômbia, começou a observar um aumento no deslocamento de camponeses com a chegada do tráfico de drogas

Foto: Getty Images / BBC News Brasil


Antes de Albeiro nascer, seus pais moravam no norte do departamento de Santander, próximo ao centro urbano de Puerto Wilches.

Eles se dedicavam ao trabalho no campo com seus quatro filhos quando começaram a chegar ameaças tanto de grupos guerrilheiros de esquerda quanto de paramilitares de direita.

"Junto com meu pai, minha mãe decide fugir e sair correndo para proteger meus irmãos mais velhos, com o intuito de cuidar deles, para que não fossem para os grupos armados. E assim eles chegam a uma zona de invasão no norte de Bucaramanga", conta à BBC News Mundo Albeiro que, aos 45 anos, ainda mantém intacta a malandragem infantil do menino que comoveu jornalistas internacionais há mais de 30 anos.

"Havia montanhas de lixo, e minha mãe e muitas outras famílias chegaram ali para invadir com caixas de papelão".

"Minha mãe conseguiu construir o barracão dela, conseguiu começar a vender coisas no bairro, fazer arepas. E vira empiricamente enfermeira, pela experiência que tinha injetando vacas e curando galinhas e porcos, quando os animais adoeciam no campo ."

Albeiro nasceu em 1978, em meio a uma família repleta de carências, mas, acima de tudo, repleta de amor e valores, segundo ele conta à BBC News Mundo.

"Foi uma infância difícil, numa zona difícil: todos os dias ouvia-se gritos de abusos cometidos pelos pais com os filhos, e pelos maridos com as esposas", recorda.

"Mas também podíamos ver na minha casa uma mãe protetora, uma mãe que todos os dias dava um pão para cada um, e que nos ensinava a dizer 'obrigado'."

"Esses valores importantes que se incutem na família e que não são uma questão de dinheiro: na riqueza ou na pobreza, são uma questão de atitude", afirma.

O contato com a velhice

 

O avô Josefito foi a primeira experiência que Albeiro teve cuidando de um idoso, aos 6 anos

Foto: Fundação Albeiro Vargas / BBC News Brasil


Ao completar seis anos, Albeiro recebeu uma notícia: seu avô paterno viria morar com eles, no norte de Bucaramanga.

Ele também teve que deixar o campo, mas por motivos de saúde.

"Ele trabalhou até receber o diagnóstico de câncer. Naquela época não havia possibilidade de ir ao hospital. A previdência social era muito difícil", lembra Albeiro.

"Então minha mãe cuidava dele com os remédios caseiros da época, era o sogro dela, e com que amor ela fazia isso. Com compaixão ela dava banho nele, vestia ele, oferecia um cafezinho, enquanto eu assistia."

Albeiro começou simplesmente levando café para o avô, mas pouco a pouco a relação dos dois ficou mais próxima.

"Ensinei a ele os números de um a dez, e as vogais. Virei professor dele, porque tudo o que me ensinavam na escola quando eu tinha sete anos, eu ensinava ao meu avô. E exigia dele como aluno, o repreendia quando não fazia o dever de casa!"

Albeiro conta que dado o quão perigoso era o bairro — eles estavam expostos à prostituição, às drogas e, sobretudo, a grupos armados ilegais —, sua mãe era superprotetora, razão pela qual seu avô, de 87 anos, se tornou seu melhor amigo.

"Era para ele que eu contava tudo e era eu quem ouvia todas as suas histórias", relembra.

Poucos meses depois, o câncer deixou Albeiro sem o avô — e com um grande dilema que precisava resolver de alguma forma.

Brincando a sério

Com a morte recente do avô, Albeiro concentrou sua atenção em descobrir quem poderia ser seu novo companheiro de brincadeiras.

"Assim que meu avô morreu, fui até uma vovozinha vizinha e falei para ela: 'Vovó, quero brincar com você'. E ela me disse: 'Não, o que você quer é me roubar e tirar sarro de mim.'"

A complicada situação de segurança do bairro fazia com que qualquer pessoa ficasse alerta diante da chegada de um estranho, principalmente se a pessoa que recebia a visita fosse idosa e estivesse em situação de vulnerabilidade.

Por isso, Albeiro traçou um plano: abordaria uma das idosas com o pedido de "querer brincar, mas também aprender a rezar o rosário", uma oferta irresistível para uma idosa tradicional de Santander.

Além disso, o truque tinha um valor agregado: "Me tornei o melhor rezador de todo o bairro", lembra Albeiro com orgulho.

"Cada vez que alguém morria, me contratavam para rezar o rosário, e foi assim que fiquei conhecido no bairro".

Isso abriu para ele as portas das casas dos idosos do bairro — e para as histórias dramáticas que os acompanhavam.

"Cheguei na casa de uma vovozinha que tinha cento e poucos anos. Eram três da tarde. Cheguei para cumprimentá-la, buscar sua amizade, e percebi que a vovozinha estava com a boca cheia de bitucas de cigarro.", diz Albeiro, com o frescor da memória, como se tivesse acontecido ontem.

Albeiro passou a cuidar da saúde dos idosos da região

Foto: Fundación Albeiro Vargas / BBC News Brasil


"Lembro que a repreendi e disse: 'Vovó, não seja porca! Isso vai te fazer mal'. E a vovozinha, com uma lágrima no rosto, me disse: 'Estou com muita fome, não comi nada.'"

"Acredite, naquele momento, me senti impotente. Senti muita vontade de correr, de fazer algo — e, sim, corri para roubar pão da minha mãe, roubar porque sabia que minha mãe tinha muita dificuldade para dar de comer a oito filhos. Levei (o pão) para a vovó, e ela me disse: 'Mas eu não tenho dente para mastigar.'"

"Peguei um pouco de água, e dei para ela o pão com água. Tenho este momento gravado (na memória)."

'O anjo do norte' em ação

O jornalista local Euclides Ardila foi o primeiro a divulgar a história de Albeiro, na sua primeira reportagem para um jornal

Foto: Fundação Albeiro Vargas / BBC News Brasil


Quando a mãe de Albeiro descobriu quem estava roubando o pão da cozinha, deu ao filho uma garrafa térmica, que ele poderia encher de café e distribuir aos idosos pela manhã, antes de ir para a escola. Ele repetia a visita a alguns na parte da tarde.

"Foi assim que quando tinha oito anos já tinha cerca de 20 amigos entre 70, 80 e 90 anos", lembra Albeiro, reconhecendo que isso se tornou uma responsabilidade muito grande para ele sozinho.

"Às vezes, os vovozinhos reclamavam comigo: 'Vamos ver, menino Albeiro, você não veio ontem, e eu fiquei esperando'. E aquilo se tornou demais para mim. Foi quando decidi formar meu primeiro conselho de administração."

Albeiro explica que sua solução consistiu em recorrer a outras crianças da escola para ajudá-lo no trabalho com os idosos — e que esse grupo funcionava como haviam aprendido na escola.

"Em uma matéria chamada Ciências Sociais, ensinavam sobre o Executivo, o Legislativo, o conselho de administração, as funções do presidente, do secretário", explica.

"Os cadernos estão exatamente aqui", diz ele à BBC News Mundo, de seu escritório em Bucaramanga, "nos quais redigíamos as atas do conselho, os compromissos, os cardápios das refeições que levávamos para os idosos, a contabilidade, quando as pessoas me davam 100 pesos, e assim por diante."

Albeiro manteve as contas, assim como as atas de cada uma das sessões que realizou

Foto: Fundação Albeiro Vargas / BBC News Brasil


Os feitos do "anjo do norte" continuaram crescendo até chegar aos ouvidos do jornalista Euclides Ardila, que publicou sua história no jornal local Vanguardia Liberal. Com isso, o caso ganhou repercussão nacional e não demorou a cruzar as fronteiras do país.

A aparição do anjo  

Albeiro Vargas

Foto: Fundação Albeiro Vargas / BBC News Brasil


Da cadeira do cabeleireiro, onde leu a história pela primeira vez, o jornalista Tony Comitti diz que começou a planejar como faria a reportagem.

"Pensei em passar três ou quatro dias com o menino. Naquela época, não havia internet nem celular, então a única forma de entrar em contato com ele era ir procurá-lo", diz à BBC News Mundo.

Ao chegar ao local onde Albeiro morava, Comitti conta que só precisou perguntar a uma pessoa: "O anjo? Claro, vamos, eu te levo até ele".

A primeira vez que viu Albeiro, ele relembra, o menino de oito anos estava ensinando um idoso a ler e escrever.

"Foi muito impactante vê-lo, e ele me disse que eu poderia segui-lo, então fiz isso, e nos três dias seguintes o vi fazer coisas absolutamente incríveis".

A reportagem que Comitti havia planejado inicialmente ter uma duração de três ou quatro minutos virou um documentário de quase meia hora, em que Albeiro aparecia fazendo o que o tornou famoso, como indo às pressas ao banco para pagar o aluguel de uma idosa que estava sendo despejada de casa; e coletando alimentos do comércio local para levar aos "velhinhos".

Em uma cena impactante, Albeiro entra na casa onde uma idosa está trancada com cadeado — e a leva para dar banho. A mulher sofria de um estado avançado de demência, e a filha tinha que deixá-la trancada em casa para evitar que algo acontecesse com ela.

 

"Cheguei em Bucaramanga com minhas câmeras, meu equipamento e entrei no táxi. Quando falei para o taxista para onde estava indo, ele me disse que eu estava louco, e que iam me roubar, mas eu disse a ele para seguir em frente."

Albeiro, junto a outras crianças que o ajudaram, perceberam que as temperaturas na casa improvisada ficavam insuportáveis durante o dia, e usaram a chave que a filha deixava escondida para dar banho nela na sua ausência.

Com as imagens em mãos, Comitti se despediu de Albeiro e da mãe dele — e seguiu para Paris para iniciar a edição do documentário.

A comoção na França

Comitti lembra que mostrou as imagens de Albeiro a pelo menos dois colegas e que, assim que eles viram, começaram a chorar.

"Estávamos esperando uma reação forte do nosso público, mas o que aconteceu foi insólito", lembra o jornalista.

A rede de televisão recebeu pelo menos 200 ligações de pessoas que queriam ajudar o pequeno "anjo do norte", o "menino que havia trocado brincar por ajudar os idosos".

Uma das maiores doações veio de uma mulher que, como lembra Comitti, "decidiu dar o que tinha, porque era viúva e não tinha filhos nem ninguém para quem dar".

O programa também gerou furor no público, que queria conhecer pessoalmente aquele menino que passava por tantas dificuldades e fazia tanto bem à sua comunidade.

Comitti se lembra com amargura daquele momento e afirma ter rejeitado a ideia do canal de levar o menino e mãe para a França, com o intuito de fazer o habitual tour midiático dos acontecimentos da moda:

"Eu disse a eles que não, aquele não era o meu trabalho. Sou jornalista, e aquilo me parecia terrível."

A viagem aconteceu da mesma forma, sem a participação de Comitti, e o que ele temia que acontecesse, aconteceu, como lembra Albeiro:

"As pessoas me diziam: Alberro, Alberrito, Albergo. Elas queriam tocar em mim, e eu não entendia o que estava acontecendo."

"Lembro que me mudaram de hotel, mudaram meu nome porque muitos jornalistas queriam dar o furo. Queriam ver o Anjo da Colômbia, e esse canal de televisão me colocou em uma bolha. Foi uma coisa impressionante".

 

A Fundação Albeiro Vargas

Um tempo depois de seu retorno à Colômbia, Albeiro recebeu um convite da embaixada francesa para receber um cheque simbólico com os recursos que os franceses haviam doado após assistir ao documentário.

Simbólico porque Albeiro só poderia ter acesso aos fundos quando atingisse a maioridade.

"Perguntei a um amigo: 'Escuta, vão me dar um cheque simbólico em Bogotá'. E ele me disse: 'Bobo, vão te roubar, simbólico é de mentira, falso'", lembra Albeiro.

"Estava o diretor do canal de televisão que veio da França. A esposa do presidente da Colômbia estava lá e todos me disseram: 'Albeiro, sorria para as câmeras, vamos te dar um cheque'. E eu disse a eles: 'Não, senhores, me entreguem o dinheiro, não vão me roubar.'"

Quando lhe explicaram que ele teria acesso ao dinheiro quando fizesse 18 anos, Albeiro respondeu: "Bom então não me importo nem estou interessado porque quando eu tiver 18 anos os velhos já terão morrido de frio e fome."

A resposta deixou todos em silêncio.

Através de um acordo segundo o qual tanto a mãe como o embaixador eram os guardiões do dinheiro, Albeiro conseguiu continuar fazendo o seu trabalho e começou a pensar em expandir a ação.

Um dos primeiros projetos - aos 14 anos - foi a compra de uma casa abandonada perto de Bucaramanga, que se expandiu e hoje abriga quase 500 idosos das áreas vizinhas em situação de pobreza.

A Fundação Albeiro Vargas e Anjos da Guarda também fez parceria com os 56 lares de idosos de Santander para formar cuidadores de 5.500 idosos abandonados da região.

Além disso, embora muitas crianças do bairro Albeiro tenham seguido outros caminhos, algumas das pessoas que iniciaram o projeto ainda trabalham com ele.

"Há um grupo de trabalho de 90 funcionários e não somos suficientes", afirma Albeiro, frisando que são as doações que ajudam a fundação a continuar aberta.

O jornalista Comitti diz ter uma foto do pequeno Albeiro na entrada de sua produtora na França, já que a empresa existe graças ao documentário "O anjo do norte".

"Às vezes é incrível como uma pessoa pode impactar tantas vidas", diz Comitti, analisando o caso de Albeiro.

Mas para Albeiro isso não deve ser considerado algo incrível.

"Se há algo a dizer sobre mim é que sou teimoso, mas é uma teimosia justa, por defender os direitos dos idosos. Acho que é isso que me faz hoje, 39 anos depois, dizer que é possível, sim, você pode mudar o mundo."

"Sim, você pode fazer coisas diferentes, porque querer é definitivamente poder."

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 29 de março de 2024

LA SALIDA DE JESUS

SEMANA SANTA DIANA NAVARRO

FARÓLEO

 


Foi sem dúvida um dos mais interessantes artistas com quem trabalhei neste quase meio século de galerista e curador na Bahia.


Apesar das contingências me obrigarem a vender algumas obras dele, desde a morte dele, num hospital de Aracaju, tentei manter um conjunto de seu trabalho.



O tempo vai confirmando a extrema qualidade da obra do Faróleo. sergipano de Campo do Brito .


Em 16 de julho de2024, estarei apresentando minha coleção - umas trinta peças - de tão especial artista


As fotografias de celular documentam instantes da curadoria