domingo, 31 de julho de 2022

UM POUCO DO ESTILO MISSÕES



Porta de casarão muito bem conservado em São Leopoldo (RS). Está indicado para preservação por um decreto, em um raro caso de consideração deste estilo numa listagem oficial. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr./2008)

Brega, cenográfico, exagerado, descontextualizado. Estes são apenas alguns dos adjetivos normalmente atribuídos a um estilo arquitetônico que pode ser definido por “estilo Missões”. Na mesma vertente neo-colonial também figura o “neo-colonial hispânico”, “hispano-americano” ou “espanhol”, na época conhecidos como “estilo mexicano” e “bungalows californianos”. Este misto de diferentes influências no geral busca imitar esteticamente o estilo das missões espanholas no méxico, e mais tarde, a arquitetura civil destas colônias, cujo revival teve muita difusão na Califórnia-EUA.

Frontão do Palacete Herbert Von Brixen-Montzel (1932), projetado por João Antônio Monteiro Neto, na rua Santa Terezinha 201, em Porto Alegre (RS) (Foto: Jorge Luís Stocker Jr./2010).

O nome do “estilo missões” vem de sua denominação norte-americana: Missions Revival. Sua origem nos Estados Unidos remonta a década de 1890. Mais tarde o repertório visual evoluiu para o Spanish Colonial Revival, que além das missões inspirava-se também na arquitetura residencial das colônias espanholas, e até mesmo para o Pueblo Revival, que imitava construções simples dos pueblos mexicanos e que aparentemente não desembarcou por aqui.
No Brasil, difundiu-se principalmente após a contraditória década de 30, que coincidiu com o início da penetração dos ideais modernista, Art Déco e outros minoritários. O estilo teve direito até a uma versão local: o neo-colonial brasileiro, que buscava a releitura das construções tradicionais luso-brasileiras. Este, porém, teve pouca ou nenhuma penetração no Rio Grande do Sul. Talvez por influência da proximidade física e cultural com a região platina, os gaúchos adotaram as edificações chamadas à época de “mexicanas”, em detrimento a sua versão brasileira.


Exemplar em Presidente Lucena (RS) demonstra a penetração do estilo mesmo em localidades mais isoladas. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2010)

As edificações influenciadas por alguma vertente deste estilo marcaram a paisagem urbana residencial brasileira, pois tiveram sua época de ouro em que dominaram boa parte da produção. Porto Alegre teve bairros inteiros influenciados pelo estilo, como o Petrópolis e Vila Assunção. No segundo, até mesmo a igreja do bairro foi construída nestes parâmetros, algo relativamente raro. Em outros locais também moradias de interesse social foram construídas com esse estilo.



Igreja Nossa Senhora da Assunção, em Vila Assunção - Porto Alegre (RS), influenciada pelo estilo, mas sincretizado com os arcos góticos. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2011)

É patrimônio?


A oposição acadêmica ao estilo missões e suas vertentes, que impede sua patrimonialização, é fundamentada em diversos argumentos, alguns bastante plausíveis. O primeiro deles é a completa desvinculação da realidade brasileira – trata-se de um estilo onde a “maquiagem”/decoração é pensada sem aplicação das proporções e regras de composição clássicas. Isto torna o estilo missões bastante “cenográfico”, pois seu aspecto está vinculado a uma realidade cultural completamente distinta. Este argumento desqualifica a qualidade do projeto arquitetônico, que aparenta ser mero produto imobiliário, resultante de uma “moda” que carecia de vinculação com a história local.


Exemplar inventariado como patrimônio cultural em 1996 pela prefeitura, em Campo Bom (RS). Infelizmente, o inventário nesta cidade não quer dizer muita coisa, pois demolições são autorizadas sem sequer consultá-lo. De qualquer forma, mostra a preocupação em preservar esse importante período, enquanto se tinha a ilusão de que o inventário serviria para alguma finalidade. (Foto: Jorge Luís Stocker Jr. / 2008)

O segundo argumento mais usado é a data de construção relativamente recente dos exemplares. Embora o estilo originalmente tenha surgido no final do séc. XIX, seus exemplares brasileiros alcançaram até o mais tardar dos anos 60. Por algum motivo, aparentemente existe sub-entendida uma data “cabalística” estabelecida pelo senso comum para proteção de patrimônio cultural – costuma-se selecionar apenas edificações anteriores a 1940. Aos poucos, felizmente, esses critérios estão sendo substituídos por uma visão mais fundamentada e baseada na história local de cada cidade.


Exemplar em Três Passos (RS). Este tipo de construção pode ser encontrado em praticamente qualquer cidade, em menor ou maior proporção. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2010)

E por que não?

Não iremos fazer aqui uma defesa categórica e ampla do estilo missões, pois acreditamos que mesmo a valorização desse tipo de edificação também passa pela compreensão de sua debilitada dimensão cultural. Reconhecemos a coerência dos argumentos que comprovam deficiências teóricas deste estilo, que realmente tinha uma conotação bastante cenográfica, mas acreditamos que cada caso deva ser visto com muito cuidado.

Os valores que definem um bem de interesse cultural são muitos. A definição de patrimônio cultural implica numa visão ampla, que não considere apenas os critérios de “relevância arquitetônica” (típico da análise de projeto e sua vinculação com correntes teóricas) e de “história” (típica da história positivista, que exalta grandes eventos ou personagens importantes que a edificação pode ter abrigado). Existe uma série de outros valores possíveis, como o técnico (construção com técnicas construtivas peculiares), paisagístico (formação de conjuntos ou paisagens urbanas juntamente com outros prédios ou entorno natural), funcional (edificação simbólica de um uso consagrado), social (reconhecimento popular do valor da edificação) entre outros.


Interessante residência de Pelotas (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2011)

O estilo missões e suas tendências representam um capítulo importante na história da arquitetura brasileira, e na própria história cultural do país. Juntamente com o Art Déco e com os outros revivals, ele marca o cenário que envolve o durante e o pós Segunda Guerra Mundial, e a adoção da cultura norte-americana como parâmetro, em detrimento aos modelos europeus típicos Beaux-Arts seguidos fielmente até então. A ampla penetração que o “bungalow californiano” teve pode de fato não relacionar-se com a história da arquitetura pretérita local, mas foi representativa de uma nova “realidade cultural” do pós-guerra onde, bem ou mal, o predomínio da indústria automobilística, do cinema holywoodiano e dos usos e costumes norte-americanos passaram a ser referência. É, juntamente com o Art Déco e o modernismo, marcante da "globalização" dos modelos de construção em todo Brasil.


Casa de veraneio típica de Torres (RS), uma das poucas que sobreviveram à pressão imobiliária. Sem proteção nem perspectivas, tem os dias contados. (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)

Também é importante ressaltar o valor do estilo missões para a história da arquitetura e do design brasileiro. O estilo, como toda “tendência”, foi acompanhado de todo um esforço industrial para a produção de peças compatíveis com sua linguagem. A edificação era pensada em conjunto com a mureta, portão, luminárias, garagens como corpos separados, jardins, mobiliário e esquadrias específicas. O papel do arquiteto deixava de ser apenas o de projeto da edificação em si , para se extender a arquitetura de interiores e paisagismo – esse aspecto “moderno”dos estilos difundidos nos anos 30 é frequentemente ignorado e atribuído apenas ao modernismo.

Em muitas localidades, também foi o estilo missões o primeiro a introduzir uma série de inovações na construção, como o uso de concreto armado. Também ampliou a valorização da salubridade no projeto dos ambientes, propondo amplos recuos em relação aos limites do lote e da rua, a abertura de grandes janelas para circulação de ar e iluminação.

Como paisagem urbana, alguns exemplares são importantes por integrarem conjuntos homogêneos de edificações unifamiliares construídas com a mesma linguagem. A qualidade desses ambientes urbanos enquanto conjuntos não deveria ser desconsiderada, pois relaciona-se diretamente com a qualidade de vida dos bairros. Alguns elementos dessas edificações acabaram tornando-se marcos urbanos, o que é o caso principalmente de algumas torres que marcam esquinas.


Casa situada em Hamburgo Velho, sítio histórico de Novo Hamburgo (RS), determinante para o perfil heterogêneo do bairro (foto: Jorge Luís Stocker Jr. / 2011)

A inserção em sítios históricos também é importante, mesmo acompanhados de edificações de diferentes épocas, pois além de representar um período, é completamente compatível com a paisagem urbana tradicional e com o modelo tradicional de parcelamento do solo.


Pequena residência em Dois Irmãos (RS). (foto: Jorge Luís Stocker Jr./2009)

Acreditamos que estas qualidades, bem como outras que podem surgir ao analisar com sensibilidade e critérios cada caso, devem ser levadas em consideração antes de simplesmente descartar edificações construídas neste estilo de inventários de patrimônio cultural. Verdades prontas não podem ser implantadas sem problematização, sob o risco de perdas irreparáveis, como já aconteceu com a arquitetura tradicional luso-brasileira e com o estilo eclético, alvos de preconceitos em diferentes períodos.

Jorge Luís Stocker Jr.

ANIMAL NÃO IDENTIFICADO

 


SOBRE A CANNABIS

Pode ser uma imagem de 1 pessoa, árvore e ao ar livre

 

1. Um hectare de cannabis liberta tanto oxigênio como 25 hectares de floresta

 

2. Um hectare de cannabis dá-lhe a mesma quantidade de papel que 4 acres de madeira.

 

3. Cânhamo faz papel 8 vezes (recicla), madeira faz papel 3 vezes. Papel cânhamo é o melhor e de longa duração.
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4. O cânhamo cresce em 4 meses e uma árvore cresce em 20-50 anos.

 

5. Flor de cânhamo é uma verdadeira armadilha de raios. Plantações de cannabis limpam o ar

 

6. O cânhamo pode ser cultivado em qualquer lugar do mundo, precisa de muito pouca água.
Além disso, como pode resistir aos pesticidas, não precisa de pesticidas.

 

7. Os têxteis de cânhamo são superiores até aos produtos de linho nas suas propriedades.

 

8. O cânhamo é uma planta ideal para confecção de cordas, cordas, cordões, sacos, sapatos e capacetes.

 

9. Cannabis. Não é permitido aqui. Cannabis técnica, mas não contém narcóticos.

 

10. O valor proteico das sementes de cannabis é muito alta e os dois ácidos gordos nelas contidos não podem ser encontrados em nenhum outro lugar da natureza.

 

11. Produzir cannabis é muito mais barato que soja.

 

12. Animais alimentados com cannabis não precisam de apoio hormonal.

 

13. Todos os produtos de plástico podem ser feitos de cânhamo, o plástico de cânhamo é amigo do ambiente e totalmente biodegradável.

 

14. Quando o corpo do carro é feito de compostos à base de cannabis, torna-se dez vezes mais forte do que o aço. (Não tenho certeza)

 

15. O cânhamo também pode ser usado para isolamento térmico de edifícios, é resistente, barato e flexível.

 

16. Sabonetes de cânhamo e cosméticos não poluem a água, por isso são completamente amigos do ambiente.

sábado, 30 de julho de 2022

O BARCO DO INFERNO

UM VIAGEM PELO RIO CONGO




Mesmo se você não entende o francês, não deixe de assistir!

IMAGINEM O SUFOCO!

Pode ser uma imagem de 1 pessoa
Muitas pessoas geralmente se questionam como as mulheres da antiga aristocracia conseguiam se aliviar, usando camadas e camadas de tecido nos seus vestidos.

Talvez esta tela de François Boucher, pintada em 1760, possa responder mais do que mil palavras.

Intitulada "Toilette intime: Une femme qui pisse" (tradução literal: "Toilette íntima: Uma mulher mijando)", a obra apresenta uma dama com trajes típicos da corte francesa durante o reinado de Luís XV, no melhor estilo Madame de Pompadour, usando uma espécie de urinol manual, colocado estrategicamente por baixo de seu vestido, entre suas pernas.

NEOLÍTICO ÁRABE

 As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

  • Demi Perera
  • BBC Future
AlUla

CRÉDITO,ROYAL COMMISSION FOR ALULA

O carro deslizava suavemente pela rodovia impecavelmente conservada de AlUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.Pule Matérias recomendadas e continue lendo


Fim do Matérias recomendadas

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Saí do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AlUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinzas-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AlUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes — até agora.

Vestígios milenares

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AlUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial — anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Hegra

CRÉDITO,TUUL & BRUNO MORANDI/GETTY IMAGES

Legenda da foto,

A cidade nabateia de Hegra foi o primeiro Patrimônio Mundial da Unesco da Arábia Saudita

Quando McMahon chegou, explicou que o círculo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que esta área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que esta região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.C.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida destes primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região — como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos — nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como estas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AlUla continuou carecendo de explicação.

Os 'Portões'

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar. Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Além de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho — e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.x

Para que serviam os mustatils?

Estes monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados ​​como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente — antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatils revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e esta não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

'Mais pesado que a Torre Eiffel'

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AlUla), concorda, observando que esta sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatils pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar destas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AlUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como esta sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AlUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nesta região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."