sábado, 30 de abril de 2022

A VERGONHA DO RUI COSTA

QUE PROMETEU RESTAURAR O JANDAIA
E NADA FEZ. 


SUCATEAMENTO DA RECEITA FEDERAL

TRAGÉDIA QUE VALE POR DEZ




“Era lógico que isso iria acontecer”, diz procurador que investigou o desastre de Mariana sobre rompimento de barragem da Vale em Brumadinho

Consuelo Dieguez

"Desde o rompimento de Fundão nada foi feito para evitar que esse tipo de desastre aconteça”, afirmou o procurador Carlos Eduardo Ferreira Pinto, chefe da força-tarefa que investigou o rompimento em 2015 da barragem do Fundão, em Mariana, ao tomar conhecimento do novo desastre, desta vez em Brumadinho, também em Minas Gerais. “Era lógico que isso iria acontecer”, ele disse, referindo-se à falta de ações para prevenir os acidentes. Até o início da noite desta sexta-feira, sete mortos haviam sido confirmados e 200 pessoas estavam desaparecidas, atingidas por 12 milhões de metros cúbicos de lama. Na tragédia de Mariana, foram 19 mortos, soterrados pelo vazamento de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Em ambos os casos, a empresa Vale é a responsável pelas barragens – a de Mariana pertence à Samarco, controlada pela Vale e pela mineradora anglo-australiana BHP Billiton. Se os 200 desaparecidos nesta sexta não forem encontrados vivos, a tragédia de Brumadinho terá provocado dez vezes mais mortos que a de Mariana.


Após o rompimento de Fundão em 2015, segundo o procurador Ferreira Pinto, foram criadas três comissões extraordinárias – uma na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, uma na Câmara dos Deputados e outra no Senado – para propor uma legislação mais rígida no controle de barragens. Nenhuma das três comissões, segundo ele, apresentou qualquer resultado. As barragens, ele disse, continuam funcionando sem um sistema de segurança que impeça a lama de se espalhar pelo meio ambiente, como ocorreu com o Fundão.

O procurador Ferreira Pinto afirmou que não há muito o que especular sobre as causas de rompimento de barragens desse tipo. “Uma barragem rompe porque entra água na sua estrutura. Simples assim”, afirmou. “E isto só é possível por descuido da empresa e falta de fiscalização das autoridades e de consultorias independentes”. No curso de suas investigações sobre o caso, o procurador foi afastado da força-tarefa e transferido para um posto no interior do estado.

Embora afastado do caso de Fundão, o procurador continua acompanhando as barragens em Minas Gerais. Segundo ele, desde o desastre de 2015, nada foi feito no estado para aumentar a fiscalização e estabelecer normas para o funcionamento mais seguro de barragens. “Minas Gerais, com mais de 400 barragens, continua com uma fiscalização pífia, com pouquíssimos fiscais, em torno de uma dezena, para tomar conta de todas essas estruturas.”

O estado, segundo ele, continuou dando autorização para criação de novas barragens e não endureceu as regras de funcionamento dessas estruturas, como foi defendido pela força-tarefa, à época do rompimento de Fundão. “Ao contrário, o que temos visto é uma pressão cada vez maior por flexibilização das concessões para funcionamento de novas barragens”, afirmou. “É uma completa irresponsabilidade. Tanto das empresas, quanto dos governos do estado e Federal.”

Ainda não se sabia, no começo da tarde de sexta-feira, 25, qual o caminho que a lama de minério percorreria. De qualquer forma, dependendo do tamanho do acidente, Ferreira Pinto explicou que a lama pode invadir o reservatório do rio Manso, que abastece Belo Horizonte, e também correr em direção ao rio Paraopebas e desaguar no São Francisco, que atravessa Minas, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. “Um roteiro que parece repetir o que aconteceu em Mariana, em 5 de novembro de 2015.”

Naquele acidente, a lama invadiu o rio Gualaxo do Norte e seguiu sem nada que a contivesse para o rio Doce. Após percorrer 660 quilômetros, chegou até o mar, destruindo a biodiversidade por onde passou. Até hoje, a região degradada está longe de ter sido recuperada pelas ações da Vale e BHP Billiton.

Após o acidente em Brumadinho, a Vale soltou uma nota curta sobre o rompimento da barragem. “A Vale informa que ocorreu, no início da tarde de hoje, o rompimento de uma barragem na Mina do Feijão, em Brumadinho. As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco.” A empresa admitiu na nota a possibilidade de vítimas. “Havia empregados na área administrativa, que foi atingida pelos rejeitos, indicando a possibilidade, ainda não confirmada, de vítimas.” Até o fim da tarde desta sexta-feira, não havia confirmação das causas do rompimento. “A prioridade da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e integrantes da comunidade. A companhia vai continuar fornecendo informações assim que confirmadas”, afirmou a empresa.

Em grupos de WhatsApp de médicos de Minas Gerais, as informações que circulavam era de um quadro mais dramático. “[Os hospitais] João XXIII e Odilon já acionaram plano de catástrofe. Admissões e atendimentos apenas de vítimas das catástrofes. Altas precoces das enfermarias e esvaziamento dos CTIs.”


Por volta das 17 horas, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, em entrevista coletiva à imprensa, pediu desculpas pelo acidente. “Não tenho palavras para descrever o meu sofrimento, a minha enorme tristeza com o que acaba de acontecer. É algo acima de qualquer coisa que eu pudesse imaginar”, declarou. Em seguida, afirmou que, após o desastre de Mariana, há três anos, a empresa fez um esforço tecnológico “imenso” para deixar suas barragens estáveis e seguras. Informou ainda que a estrutura estava sendo desativada como barragem de rejeito e que estava sendo monitorada.

Técnicos da área de mineração explicaram à piauí que embora estivesse sendo desativada como barragem de rejeito de minério, a estrutura recebeu, no ano passado, autorização para se transformar em produtora de pelotas de ferro, com grande cotação no mercado internacional. Não há nada de errado com esse procedimento. No entanto, essas barragens têm que ser permanentemente monitoradas. No caso da de Feijão, segundo a própria Vale, a medição tinha se dado dias antes de seu rompimento. O executivo disse ainda que, um mês antes do rompimento, foi feita uma vistoria na estrutura, sem que se tivesse constatado problemas.

Schvartsman disse aos jornalistas que, em termos de perdas de vidas humanas, este novo desastre foi mais grave que o de Fundão, mesmo que em termos ambientais o impacto tenha sido menor. Ele disse que esperava o fim da tempestade que desabou no Rio no final da tarde para seguir para Brumadinho.

*

PS: Esta reportagem foi atualizada às 22h40 de sexta-feira, 25 de janeiro, para incluir declarações do presidente da Vale, Fabio Schvartsman, concedidas em coletiva de imprensa.

CARNAMAM

 Quem responde pelos eventos carnavalescos no MAM Bahia?


Ando vivendo dias leves e felizes, tô numa boa fase, tá tudo bem. A intenção, portanto, é continuar nesse bem-estar pelos próximos tempos, conectada a múltiplos prazeres e delícias, lidando com as agruras sem envolvimento demais. Ou seja, quero procurar problema? De jeito nenhum. Gostaria de me indispor com pessoas queridas? Longe de mim e nem vou. Mas há a vida e um assunto que passou por quase todas as mesas às quais sentei, na última semana, em Salvador: quem responde pelos eventos carnavalescos no MAM Bahia? 

Tudo à boca pequena, claro, que nossa cidade é quase de interior no sentido de que todo mundo conhece todo mundo. As pessoas com quem conversei, por exemplo, são comprometidas até o pescoço. Eu mesma sou toda afetivamente envolvida com um bando de gente de entretenimento, cultura e arte. Sou amiga, conheço de vista ou já peguei parte dessa população, pelo menos da minha faixa etária. Aí, fica difícil falar de certas coisas tendo essa relação, sabendo da crise, da pandemia, da necessidade de trabalhar, e vendo pessoas pelas quais tenho, no mínimo, simpatia em vários pontos dessa cadeia de produção. 

Porém, perguntar não ofende e esse é o meu trabalho. Cada um faz o próprio, confere? Então, depois de ter sido convidada, por um amigo pagante (não foi pela produção) para o "Baile da Maga" - e recusar o convite - fui investigar umas coisas. Como é mesmo que pular Dandalunda (amo!), gritar Ê Faraô (adoro!) e todos os decibéis (bote mais alto que eu gosto!) envolvidos nisso, estariam convivendo, no mesmo espaço, com mais de mil peças de arte de diversas linguagens, suportes, tradições e lugares do mundo? Não tem problema não, gente? É mesmo? 

Isso porque, além do valor simbólico, são milhões de reais em obras de artistas como Tarsila do Amaral, Portinari e Di Cavalcanti, por exemplo. Também dos nossos Mário Cravo e Carybé, só para citar alguns nomes entre tantos outros de importância inegável. É parte relevante do nosso patrimônio cultural e tudo isso abrigado em um complexo arquitetônico do século XVII, onde o MAM-BA foi instalado, depois de uma grande reforma projetada pela genial Lina Bo Bardi, primeira diretora do museu. Bons tempos, aqueles. Inclusive, "saudades do que não vivi" (Júnior, Neymar). 

Sim, eu entendo o conceito de popularizar museus. Não sou tão ignorante assim, não. Até nem achei bom fechar o acesso à praia, ação que me pareceu gratuita, elitista e antipática. Mas isso é outro papo. Já fui assídua frequentadora da maravilhosa JAM no MAM, assim como dos mais diversos eventos em alguns museus no Brasil e exterior. Mas nunca, em nenhum deles, vi algo sequer parecido com Carnaval. Posso até estar numa postura ignorante e conservadora. Se for isso, me salvem, pelo amor de deus. Tragam exemplos. 

Não quero ser careta nem a única contra o Inhotim Fest, o Carna Louvre, quem sabe até a Lavagem da Pinacoteca, lá em São Paulo, se vierem a acontecer. Mas, olhe. Pelo comportamento associado a esse tipo de evento, pelo volume do som, pela quantidade de gente... naturalizar isso, nesses ambientes, é algo que deveria ser, no mínimo, muito bem estudado. Quem fala é uma foliã, me respeite. Entendo um pouco desse riscado. 

Em Salvador, tá tendo. O que me faz lembrar aquela frase de Otávio Mangabeira: "pense num absurdo, na Bahia há precedente". Ou eu tô louca e estamos sendo apenas avant-garde. Porque, se essa moda pega aqui, é que há laudos técnicos dizendo que não há problema algum, que não prejudica nada, e que o tal Sollar Baía pode funcionar, tranquilamente, alugando o espaço para qualquer tipo de patuscada, toda semana. Até "paredão", se for o caso. Quem há de julgar? 

Tem esses laudos, não tem? De profissionais sérias/os de cada área? Referentes aos prédios e a cada uma das mais de mil obras de arte? Não vai danificar nada? Podemos exportar a ideia? Tá tudo massa? Descobrimos um modelo incrível de evento? Não vamos ser achincalhados no mundo todo por sermos os únicos a fazer Carnaval em museu tombado? Quem pode me responder? 

Responder a mim não, mas à cidade. Ao estado da Bahia. À população. A todo mundo que anda se perguntando, entredentes, que diabeísso, se pode, se convém. E, se convém, se é a todas/os nós ou a quem. Minha pesquisa foi informal, não escrevi ofício algum.  Mas fiquei parecendo quando a gente quer cancelar contrato com operadora de celular ou tevê a cabo. Doida pra falar com uma pessoa humana, porém encaminhada, o tempo todo, para algo que nos escapa. No caso das operadoras, a virtualidade. Em nossa conversa aqui, siglas, secretarias, órgãos onde tudo se dilui e ninguém se acha. Perguntei por um nome, um CPF, e nada. 

Eu só queria saber quem vai segurar a galinha pulando se um prego daquele cair e espatifar a moldura e o vidro de uma obra caríssima, arranhando a zorra toda. Até pior, quando, pela força de uma onomatopeia da axé music, uma escultura fragilíssima decidir seguir a coreografia descendo até o chão e virando mil pedaços. Saberemos se isso acontecer? Já aconteceu? Acontecerá? E outra: aquele píer aguenta quantas pessoas pulando, com a cabeça cheia de cachaça, afinal? Rum, ai, ai. Há limites? Quais são os limites? Quem supervisiona, quem garante, quem faz cumprir? 

Quem liberou? Com que poder? Com que embasamento técnico? Com quais documentos amparando a decisão? Por que isso não é público? Por que parece tudo tão estranho e obscuro? Por que as pessoas ficam constrangidas ao falar no assunto? Não é o governo do estado, não é a diretoria do MAM, não é a coordenação de eventos do MAM que responde por essa programação, pelo que me contaram. Também fiquei sabendo que aquela área ali está terceirizada. Achei escândalo mundial.

Outra pessoa, me fazendo jurar sigilo,  soprou que essa empresa paga, pasme: cinco mil reais mensais pelo espaço. Cinco mil. Mensais! Ou seja, o Museu de Arte Moderna da Bahia (por extenso, sinta o peso) alugado a preço de banana para ser realugado sei lá por que valores. Pode ser fofoca? Até pode, mas sei nome e sobrenome das minhas fontes, só que não sei ainda quem é a pessoa que assume a responsabilidade sobre toda essa questão. Quem é? Como se chama? Qual é a formação? Cadê os benditos laudos? 

Pense numa pessoa querendo ser convencida de que está tudo bem. É esta cidadã que vos escreve. Vou adorar, se isso acontecer. Até vou ao próximo Carna MAM que ando bem querendo farra. Faço foto, me divirto, danço, posto, assumo que estava erradíssima na minha desconfiança, que é todo mundo gente boa e competente. De máscara e de boas, porque a questão não é moral. É ética, talvez estética, mas, principalmente, estrutural. Esta última palavra, em significado plural.

*Flavia Azevedo é articulista do Correio, editora e mãe de Leo

NAÏKA



Naïka is a Haitian and French artist born in Miami, Florida, who developed an interest in music from an early age while living and traveling internationally with her family. Growing up with the influence of European, 


African and Caribbean cultures has shaped her both musically and individually, and continues to define her artistic perspective and outlook. Her music reflects a blend of modern pop, with a world music influence. This eventually led her into creating the world-influenced, acoustically swinging single "Ride", which connected with audiences around the world in 2018. Naïka graduated in Performance at Berklee College of Music in Boston. 



She was selected to tour with GRAMMY-winning artist Michael Bolton, and participate on NBC’s The Voice. Her songwriting ability also earned her a second place prize in the BMI John Lennon Foundation Scholarship in 2015. Her newest single "Deja Vu" was released on Vertigo/UMG and debuted on German radio.



CASOU COM UM HOLOGRAMA

 

Japonês casado com um holograma vive crise no relacionamento por falta de comunicação

Depois de quatro anos, casal passa por um momento difícil após dispositivo usado para conversas deixar de funcionar

Japonês Akihiko Kondo é casado há quatro anos com um holograma

Japonês Akihiko Kondo é casado há quatro anos com um holograma

REPRODUÇÃO INSTAGRAM/@AKIHIKOKONDOSK

O japonês Akihiko Kondo, de 38 anos, se casou com o holograma de uma cantora pop em 2018. A cerimônia que uniu o exótico casal custou 2 milhões de ienes, aproximadamente R$ 77 mil. Após quatro anos, o professor vive uma crise em seu relacionamento. Segundo o jornal japonês Mainichi, ele não consegue mais se comunicar com a esposa devido a um obstáculo tecnológico.

Em 2008, Kondo se apaixonou por Hatsune Miku, que é retratada como uma garota de cabelo azul-turquesa. O sentimento pela personagem começou depois que o bullying sofrido no ambiente de trabalho o fez ficar deprimido. Ele afirma que chegou a assistir 24 horas por dia aos vídeos da amada.

Apesar de achar difícil aceitar seu amor no início, ele sabia que os humanos não faziam o seu tipo. Muitas pessoas o hostilizavam devido a sua preferência por personagens fictícios, que são famosos em seu país por aparecer em mangás, séries de anime e videogames. 

O casal só conseguiu se unir em 2017, quando surgiu um dispositivo desenvolvido por uma startup japonesa que permitia a interação com personagens virtuais por meio de hologramas e até se casar, mas não oficialmente. O equipamento ainda proporcionava pequenos diálogos com o auxílio da inteligência artificial. O problema é que a empresa anunciou que encerrará o suporte ao dispositivo que dá vida a Miku.

O japonês reconhece que o relacionamento pode ser estranho e diz entender que Miku não é uma pessoa real, porém isso não muda os seus sentimentos pela companheira.

“Meu amor por Miku não mudou”, disse ele ao Mainichi. “Realizei a cerimônia de casamento porque pensei que poderia ficar com ela para sempre.”

*Estagiária do R7, sob supervisão de Pablo Marques

sexta-feira, 29 de abril de 2022

EFEITO COLATERAL DO VIAGRA

 


Exército com TSE é efeito colateral de Viagra


PRAÇA É NOSSA – Um estudo com militares brasileiros apontou que entre os efeitos colaterais do medicamento Viagra pode estar uma repentina vontade de criticar o TSE e melar eleições. A análise foi conduzida por um consórcio de universidades federais que preferiram permanecer anônimas por medo de represálias e cortes de verbas.

“O consumo excessivo do medicamento quando somado a ingestão de doses cavalares de leite condensado pode levar a esse tipo de quadro”, explicou um dos cientistas envolvidos no projeto. “O indivíduo passa a ter total descaso com antigas paixões, como pintura de meio fio, e desenvolve uma obsessão pelo processo democrático que nunca o atraiu.”

O Exército soltou um memorando em que repudia a sugestão de que estaria criticando o TSE e ressalta o apreço da corporação pela democracia e lisura de processos eleitorais. Após a divulgação da nota, os cientistas decidiram também incluir perda de memória entre os efeitos colaterais.

A SAUDADE QUE ME HABITA

Ygor da Silva Coelho

Depois de longo tempo visitei a casa em que morei na infância e adolescência, na fase de cinco a quinze anos de idade. Aos quinze, por iniciativa própria, tomei um ônibus para construir o futuro noutro lugar, distante do meu ninho.
Ao voltar, tantos anos depois, vi que a antiga rua da infância perdeu a minha familiaridade. Os terrenos baldios foram ocupados com novos prédios, pessoas estranhas caminhavam e os antigos vizinhos já haviam se mudado. Tudo parecia menor do que na minha imaginação. E a nossa velha casa, simples e aconchegante, era agora um escritório.
De frente à casa, ao observar a pequena varanda de onde soltava fogos nas noites chuvosas de São João, cresceu o meu desejo de visitar o seu interior.
Toquei a campainha do escritório e expliquei as razões da minha curiosidade:
- Eu cresci aqui, posso entrar para ver minha antiga casa?
Gentilmente, os funcionários concordaram e circulei pelo pequeno imóvel.
Eu poderia ter passado horas, não fosse pelo transtorno que causava ao trabalho alheio. Mas pude observar os detalhes que resistiram ao tempo, como o piso de madeira que minha mãe deixava brilhando com uso de um escovão, na época em que não existia enceradeira elétrica. Vi o sótão construído por meu pai, o meu quarto, o único banheiro, o estreito jardim de inverno... Na pequena cozinha tive a ilusão de ver minha mãe fazendo meus bifes amanteigados e bem passados, como era do gosto do menino que não gostava de comer.
O meu pensamento voava e, silenciosamente, eu identificava os espaços…
- Ali ficava a radiola, ali a cristaleira, o sofá... Na copa duas cadeiras de vime, naquele cantinho do chão eu sentava para ler os meus gibis e os livros policiais do meu pai. Detetive Shell Scott!
Lembrei do quintal que era cimentado e lá ainda estavam os três buraquinhos alinhados, onde eu jogava gude.
Na saída, acariciei as paredes. E, sentindo o pulsar da memória, lembrei das palavras sempre repetidas por minha mãe:
- Na casa da Avenida Cristinópolis, em Itabuna-BA, passei os melhores anos da minha vida!
Eu sempre questionei a minha decisão de partir tão jovem e por muito tempo não tive coragem de rever o que deixei para trás: A minha singela casa, meus amigos, o banho no rio que cortava a cidade, os cinemas que me fascinavam, a pracinha da primeira paquera, o colégio, o clube com piscina... Eu não voltava porque tinha medo da dor da saudade!
Mas, enfim, chegou o dia em que tomei coragem, voltei e revi a minha casa. Parada no tempo, meio século depois ela ainda tem as marcas deixadas por minha família. Como os três buraquinhos do jogo de gude do menino feliz no quintal de cimento.

GABINETE DO ÓDIO


BotSentinel, do Twitter, encontra 38 mil perfis-robôs bolsonaristas criados em 48h

Checador fez análise nos dados das contas e comprovou que máquina de fakes e mentiras do presidente brasileiro segue a todo vapor, com 62% de seguidores fictícios

Paulo Guedes, general Heleno, Carlos e Jair Bolsonaro.Créditos: Redes sociais/Reprodução
Escrito 

O BotSentinel, um perfil que opera no Twitter rastreando e desmascarando a criação em massa de perfis-robô, normalmente utilizados para propagar mentiras e inflar personalidades políticas com seguidores forjados, divulgou nesta terça-feira (26) que, em dois dias25 e 26 de abril, das 61.299 contas que passaram a seguir o presidente Jair Bolsonaro, 37.922 eram fictícias.

Trocando em miúdos, de todas as adesões ao líder extremista brasileiro ocorridas em 48 horas, aproximadamente 62% eram de robôs que têm como únicas finalidades disseminar desinformação do seu chamado Gabinete de Ódio e dar impressão de que o apoio ao radical aumenta nas redes.

Os dados iniciais davam conta de que a análise tinha sido feita em 65 mil contas e que 58% eram perfis falsos. Com a correção dos números absolutos pelo BotSentinel, o percentual subiu.

O que é o Gabinete do Ódio?

Para os investigadores da Polícia Federal, o "gabinete do ódio" trata-se de um “grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) – os 'espantalhos' escolhidos – previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação”.

A investigação mapeou o modus operandi da suposta organização criminosa para atacar, além de adversários políticos, ministros do STF e integrantes do governo, “tudo com o objetivo de pavimentar o caminho para alcance dos objetivos traçados (ganhos ideológicos, político-partidários e financeiros)”.

Segundo a apuração, o grupo age buscando disseminar “alto volume” de informações em diversos canais, levando à “variedade e grande quantidade de fontes”, “de maneira rápida, contínua e repetitiva, focada na formação de uma primeira impressão duradoura no receptor, a qual gera familiaridade com a informação e, consequentemente, sua aceitação”.

O relatório produzido pela PF aponta ainda que os conteúdos não têm “compromisso com a verdade” ou com “a consistência do discurso ao longo do tempo (uma nova difusão pode contrariar absolutamente a anterior sem que isso gere perda de credibilidade do emissor)”.