De acordo com o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo, mais de 760 mil norte-americanos vieram ao país em 2019 e 2020, ficando atrás apenas da Argentina, principal emissor com mais de 2,7 milhões de turistas no mesmo período. As informações são do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Sílvio Nascimento.

Segundo ele, “a Embratur reconhece que a atração de turistas estrangeiros passa diretamente pelo reaquecimento do setor de aviação e, por isso, a Agência tem estabelecido um contato permanente com empresas aéreas de diversos países para articular a criação de novas rotas ou a retomada de voos”, esclarece o presidente da Embratur.

“Só para citar algumas ações recentes – prossegue o presidente da Embratur – durante reunião da OCDE, na Espanha, discutimos com o Ministério do Turismo da Grécia a conectividade entre os países – atualmente, não existe voo direto entre Brasil-Grécia”. Sílvio Nascimento dá outro exemplo: “Em Nova York, conversamos com o diretor para o Brasil e Uruguai da American Airlines, Alexandre Cavalcanti, sobre a possibilidade de ampliar a conectividade entre Brasil e Estados Unidos, com uma maior frequência de voos diários e semanais, inclusive com a abertura de rotas diretas para o nordeste brasileiro”.

Outra novidade: “No Panamá, participamos de uma reunião com a Copa Airlines e, após o encontro, a companhia aérea confirmou o aumento do número de voos, com novas rotas para Porto Alegre, Manaus, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo até o fim de 2022”. Veja a entrevista completa que o presidente da Embratur concedeu com exclusividade ao Diplomacia Business.

Estima-se em 6 milhões o número de turistas estrangeiros por ano, no Brasil, número pequeno, se comparado com os visitantes de países como Portugal, Espanha ou França. O que atravanca o turismo no Brasil?


Presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Sílvio Nascimento – O Brasil recebia mais de 6 milhões de turistas estrangeiros antes da pandemia de Covid-19. Buscamos recuperar este patamar e ultrapassá-lo o quanto antes e, para potencializar a comercialização dos destinos brasileiros no exterior, temos trabalhado sistematicamente para ampliar o nosso orçamento e nossas ações. Neste ano, a Agência aumentou em 74% os recursos para ações de promoção, quando comparado ao valor direcionado em 2020.

Ainda assim, os cerca de US$ 20 milhões para investimento em promoção pela Embratur em 2022 são insuficientes quando comparados ao de outros países, como o México, Argentina e a Colômbia, que investem cerca de US$ 100, US$ 120 e US$ 70 milhões, respectivamente. Nosso desafio é otimizar esse orçamento e usar os recursos com efetividade para ampliar a capilaridade das nossas ações.

Nesse contexto, os desafios e oportunidades são imensos. Ainda assim, quando falamos o nome do Brasil mundo afora, cada um tem uma imagem ou uma referência na cabeça ligada ao nosso país e, muitas das vezes, sem nunca ter estado aqui. É aí que o trabalho da Embratur surge para mostrar a vocação do Brasil de receber visitantes estrangeiros, seja a lazer ou a negócios. Afinal, o Brasil é múltiplo e, ao mesmo tempo, único.

Temos inúmeras belezas naturais, como, por exemplo, as praias espalhadas ao longo de quase 8 mil quilômetros de costa, sendo muitas delas banhadas por águas mornas o ano inteiro. O último ranking do TripAdvisor sobre melhores praias do mundo, por exemplo, aponta o país como único do mundo a ter três no top 10: Morro de São Paulo (BA), em quarto; Baía do Sancho (PE), em sétimo; e Baía dos Golfinhos (RN), em nono lugar. Neste ano, a praia de Grumari, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, também entrou na lista das melhores do mundo, no ranking elaborado pelo site de viagens Big 7 Travel.

Soma-se, ainda, a modernidade das grandes cidades e dos grandes centros – como é o caso de São Paulo –, com uma infraestrutura de qualidade e capacidade para abrigar grandes eventos de negócios, com centros de convenções de excelência. A cidade foi eleita pela revista Time, uma das mais prestigiadas publicações do mundo, entre os melhores lugares do mundo para visitar em 2022.

São Paulo conquistou seu espaço da seleção dos 50 melhores destinos por sua contribuição para o retorno do turismo após a pandemia que atingiu fortemente o Brasil. Segundo a revista, a metrópole teria sido responsável pela recuperação econômica do país, ao investir em sustentabilidade.

Também cabe lembrar que quatro restaurantes brasileiros figuram entre os 100 melhores do mundo, segundo a lista “The World’s 50 Best Restaurants”, da revista britânica “Restaurant”. O mais bem colocado entre os listados do país é o restaurante D.O.M., de São Paulo. A publicação trouxe também o restaurante paulista Evvai. O Lasai, no Rio de Janeiro, foi o terceiro brasileiro a constar na relação. A lista ainda traz o restaurante Maní, de São Paulo (SP).

Todo esse potencial é explorado nas ações de promoção realizadas pela Embratur. Nosso objetivo é apresentar a beleza do país e reforçar que o Brasil é seguro e está preparado para receber visitantes do mundo inteiro.

A Embratur reconhece os países árabes com grande potencial para enviar mais turistas daquela região ao Brasil. O que a Embratur tem feito para aumentar o crescimento de turistas árabes no solo brasileiro?

Sílvio Nascimento – Sem dúvida. Esse mercado é muito importante para o Brasil. Para se ter uma ideia, somente os gastos dos turistas da Liga Árabe com viagens internacionais em 2019 alcançaram a casa dos US$ 50,7 bilhões. Portanto, a Agência tem realizado diversas ações para ampliar a relação do Brasil com os países árabes e, com isso, atrair mais turistas para o país.

Participamos, em 2021, da ExpoDubai 2020, em que registramos um Retorno Sobre Investimento (ROI) da ordem de R$ 1 milhão. Nesse mesmo sentido, recentemente, a Embratur esteve nos Emirados Árabes para alinhar diversas ações conjuntas com órgãos locais para potencializar a marca Brasil na região, com a instalação do escritório da Agência em Dubai, por exemplo. A Agência também trouxe jornalistas e influenciadores digitais árabes para conhecer parte da beleza do Brasil, com opções de destinos de luxo no Amazonas e no Rio de Janeiro.

Também participamos, neste ano, da missão brasileira que percorreu 11 países e resultou no aumento da nossa conectividade com os países árabes, com a sinalização das operadoras Royal Air Maroc (RAM) e Egypt de ofertarem voos a partir do Marrocos e do Egito ainda em 2022.

A campanha da Embratur “Visit Brazil. A Wow Experience” é voltada para os norte-americanos conhecerem o Brasil. Como a campanha está sendo desenvolvida e quais resultados esperados?

Sílvio Nascimento – A Embratur tem trabalhado com grande afinco para fortalecer a divulgação dos destinos brasileiros em diversos mercados estratégicos no exterior e alcançar novamente o patamar pré-pandemia, quando o Brasil recebia mais de 6 milhões de estrangeiros por ano. Dentro dessa estratégia, atuamos para consolidar mercados em que já temos uma boa atuação, como é o caso dos Estados Unidos.

Os EUA foram o segundo maior emissor de visitantes estrangeiros para o Brasil nos últimos anos. De acordo com o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo, mais de 760 mil norte-americanos vieram ao país em 2019 e 2020, ficando atrás apenas da Argentina, principal emissor com mais de 2,7 milhões de turistas no mesmo período.

Assim, a campanha “Visit Brazil. A wow experience” buscou justamente ampliar o conhecimento dos americanos em relação aos destinos incríveis do Brasil, aumentando também os impactos positivos em relação ao interesse e a busca pelo Brasil.

Apostamos em inserções nos intervalos das programações dos principais canais abertos e fechados do país, como CNN Estados Unidos e internacional, Fox News, ISTV, CBS, ABC e ESPN, além da instalação de painéis estratégicos espalhados por cinco cidades americanas, a exemplo da icônica Times Square em Nova York, Los Angeles, Dallas, Houston e Washington. Também veiculamos peças em redes sociais, publicamos banners em sites especializados em turismo, utilizamos branded content em portais, mídia em aeroportos e imprensa em geral.

Sem dúvida vamos registrar retornos importantes para o nosso turismo. Segundo levantamento realizado pela Embratur junto à Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), ainda em junho, cerca de 72 mil passagens foram compradas dos EUA para desembarcar em cidades brasileiras entre os meses de junho e julho de 2022.

Também cabe lembrar o retorno da campanha “Brazil is visa-free. Come visit!”, veiculada nos Estados Unidos entre novembro de 2021 e abril deste ano, que gerou mais de U$ 5,7 milhões em vendas para o Brasil, somente pelo Expedia. São dados animadores que demonstram que estamos no caminho certo.

De um modo geral, o que a Embratur tem feito para atrair turistas estrangeiros para o Brasil?

Sílvio Nascimento – A missão da Embratur está voltada para potencializar a “marca Brasil” mundo afora. Dentro desse escopo, o trabalho é realizado de diversas formas, como por meio de campanhas publicitárias, participação nas principais feiras internacionais de turismo, roadshows em mercados prioritários, realização de press trips no Brasil com comunicadores de países estratégicos, famtours, por exemplo.

Além da ExpoDubai 2020, realizada em 2021, a Agência esteve presente, por exemplo, em eventos como a Fitur Madrid, BTL Lisboa, FIT Argentina, Anato Colômbia, BIT Milão, na IMEX Frankfurt, na Alemanha, e a Fiexpo 2022/Panamá, que registram um Retorno Sobre Investimento (ROI) superior a R$ 5 milhões.

E ainda neste ano, a Agência já confirmou presença em outros cinco grandes eventos internacionais: FIT América Latina/Argentina (01 a 04 de outubro); FITPAR/Paraguai (07 a 09 de outubro); IMEX América/EUA (11 a 13 de outubro); WTM/Inglaterra (07 a 09 de novembro) e IBTM World/Espanha (29 de novembro a 1º de dezembro).

Também foram realizados no primeiro semestre deste ano, sete roadshows, ações que promovem a aproximação do trade nacional com operadores internacionais e, com isso, fomenta a comercialização dos destinos brasileiros.

Foram contemplados nessa etapa mercados das Américas do Sul e do Norte. A Embratur passou por Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai), Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile) e Bogotá (Colômbia), Toronto (Canadá), além de Chicago, Nova York, Miami e Los Angeles, nos Estados Unidos.

Podemos constatar que essas rodadas de negócios foram muito bem aproveitadas. Mais de 1,1 mil profissionais do setor turístico internacional participaram dos nossos eventos, onde foram registradas duas mil rodadas de negócios e cerca de 17 mil contatos comerciais foram realizados.

Neste segundo semestre, os roadshows seguem entre as estratégias da Embratur para fortalecer o turismo internacional no Brasil. Desta vez, os eventos serão realizados na Europa, com atividades em Lisboa (Portugal), Madri (Espanha), Londres (Inglaterra), Paris (França) e Frankfur (Alemanha).

Também foram realizadas, nos primeiros seis meses de 2022, cinco press trips com jornalistas e influenciadores da Espanha, Chile, Paraguai, Dubai, Portugal e Estados Unidos. Esses profissionais puderam conhecer destinos e atrativos singulares do nosso país, como a Rota das Emoções, Vale do São Francisco, Porto de Galinhas/PE, Manaus, Rio de Janeiro, Trancoso/BA, Pantanal e Bonito/MS.

Todas essas medidas ajudam a posicionar o Brasil no cenário internacional como destino tendência para o turismo. O nosso objetivo é superar a marca de 4 milhões de visitantes internacionais até o fim de 2022 e recuperar o índice de 6,5 milhões de turistas estrangeiros no Brasil até 2024. Para isso, não mediremos esforços para alcançar essa meta.

Recentemente, a Embratur, o Ministério do Turismo e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional firmaram acordo de cooperação técnica para promover e difundir internacionalmente os Patrimônios Históricos do Brasil. Quais ações estão previstas nesse acordo? Como e por quem elas serão desenvolvidas?

Sílvio Nascimento – Na prática, a parceria envolve ações de promoção dos 16 sítios culturais do Patrimônio Mundial no Brasil – localizados em nove estados e no Distrito Federal –, assim como dos 52 bens culturais registrados como Patrimônio Cultural do Brasil, com destaque para os seis incluídos na lista da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Estão previstas ações como a criação da identidade visual do roteiro do Turismo Cultural dos Sítios Patrimônios Mundiais brasileiros, disponibilização de banco de imagens sobre os sítios culturais, realização de iniciativas voltadas à promoção e apoio à comercialização dos destinos, projetos de acessibilidade física com orientação técnica e fomento para implantação nos sítios, entre outras.

A Embratur iniciou – junto com o Sebrae – um trabalho de captação de imagens (fotos e vídeos) de 200 destinos brasileiros. Qual o objetivo desye trabalho e como está sendo feito?

Sílvio Nascimento – A parceria com o Sebrae tem sido fundamental no trabalho realizado pela Embratur de divulgação do Brasil, garantindo a disponibilidade de imagens de qualidade dos atrativos nacionais. A iniciativa prevê a captação de imagens, tanto em vídeo quanto em foto, que evidenciem as belezas e as experiências vivenciadas pelos turistas em cada destino.

Queremos mostrar ao mundo os diferenciais do Brasil para o turismo, como a cultura, gastronomia, paisagens e, inclusive, a hospitalidade do nosso povo. Temos vários países dentro de um só e vamos aproveitar esse projeto para criar um banco de imagens que seja capaz de traduzir tudo que temos a oferecer nas mais diversas ações de comunicação feitas pela Embratur.

Quais as principais estratégias que a Embratur e as empresas aéreas têm feito para melhorar e ampliar os voos internacionais para o Brasil? Quais as novidades nesse setor?

Sílvio Nascimento – A Embratur reconhece que a atração de turistas estrangeiros passa diretamente pelo reaquecimento do setor de aviação e, por isso, a Agência tem estabelecido um contato permanente com empresas aéreas de diversos países para articular a criação de novas rotas ou a retomada de voos.

Só para citar algumas ações recentes, durante reunião da OCDE, na Espanha, discutimos com o Ministério do Turismo da Grécia a conectividade entre os países – atualmente, não existe voo direto entre Brasil-Grécia. Em Nova York, conversamos com o diretor para o Brasil e Uruguai da American Airlines, Alexandre Cavalcanti, sobre a possibilidade de ampliar a conectividade entre Brasil e Estados Unidos, com uma maior frequência de voos diários e semanais, inclusive com a abertura de rotas diretas para o nordeste brasileiro.

No Panamá, participamos de uma reunião com a Copa Airlines e, após o encontro, a companhia aérea confirmou o aumento do número de voos, com novas rotas para Porto Alegre, Manaus, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo até o fim de 2022.

Já temos indicadores positivos sobre a retomada gradual da malha aérea internacional. De acordo com dados levantados pela Embratur junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a malha aérea internacional brasileira opera atualmente em torno de 76,12% da capacidade que o país tinha em junho de 2019, antes da pandemia. Já comparado com o mês de junho de 2021, houve um acréscimo de 355,38%.

De acordo com a Anac e empresas aéreas, de janeiro a maio, foram criados ou retomados 84 voos, além de 36 frequências adicionais que entraram em operação. Até fevereiro de 2023 estão previstos 122 voos a mais vindos de 17 países e 48 frequências adicionais. Uma clara demonstração de confiança do mercado no fortalecimento do setor no Brasil.

Além disso, o Brasil tem registrado ações consistentes nos últimos anos para instituir um ambiente de negócios mais favorável para o setor. O país promoveu a abertura para 100% de participação do capital estrangeiro na aviação comercial, o que aumenta a competitividade, atraindo novas empresas e low cost, com melhores tarifas para os passageiros. A ação permite ainda o aumento do número de rotas e cidades atendidas pelo transporte aéreo regular, bem como a melhor integração a rotas internacionais.

Também foi aprovado, no ano passado, o uso do querosene de aviação JET-A no Brasil, comercializado no mercado internacional, medida fundamental para reduzir o custo das companhias aéreas no país e, consequentemente, diminuir o preço das passagens aéreas.

De que forma a Embratur apoia as micro e pequenas empresas do setor de turismo no Brasil?

Sílvio Nascimento – A Agência, em parceria com o Sebrae, tem realizado workshops pelo país com operadores, empresários e agentes do trade do turismo em geral. Nosso objetivo é ampliar o entendimento do comportamento do público estrangeiro que vem ao Brasil.

Nos cursos, que têm duração de quatro horas, são explorados temas que contemplam a realidade local de cada destino, destacando, por exemplo, o potencial de oportunidades e, em contrapartida, mitigar possíveis fraquezas e ameaças a serem enfrentadas. Já foram realizadas, até o momento, nove capacitações: Belo Horizonte-MG, São Paulo-SP, Angra dos Reis-RJ, Curitiba-PR, Porto Alegre-RS, Cuiabá-MT, Goiânia-GO, Florianópolis-SC e Bonito-MS. Até 2024, outras 45 cidades com vocação para o turismo serão atendidas.