segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A LATA

PRECONCEITO

CRUEL DÚVIDA


 

O BAIRRO DE UMA RUA SÓ

PERGUNTAR NÃO OFENDE:

ONDE COMEÇA E ONDE TERMINA O CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR  TOMBADO PELA UNESCO?

UM BOATO, TALVEZ SEM FUNDAMENTO, INSISTE EM AFIRMAR QUE O TOMBAMENTO INICIA NO LARGO DOIS DE JULHO E TERMINA NA LAPINHA.

MAS, NESTES ÚLTIMOS ANOS, PARECE COMEÇAR NA PRAÇA CASTRO ALVES E TERMINAR NA LADEIRA DO BALUARTE.

O BAIRRO DE SANTO ANTÔNIO NÃO É CONSIDERADO NO SEU CONJUNTO.

OS PODERES PÚBLICOS SE PREOCUPAM UNICAMENTE COM A RUA DIREITA.

O RESTO PARECE NÃO EXISTIR, CADA UM FAZENDO O QUE BEM LHE APETECE.

E AS OUTRAS RUAS? 
NINGUÉM SABE E NINGUÉM SE PREOCUPA:
NEM O IPHAN
NEM O IPAC
NEM O CREA
NEM A PREFEITURA.

O RESULTADO DE TANTA OMISSÃO CRIMINOSA É...

  A FAVELA SANTO ANTÔNIO!




RUA DOS ADOBES



RUA DOS ADOBES



RUA DOS ADOBES



TRAVESSA BAHIA



TRAVESSA BAHIA




LARGO DA QUINTANDINHA DO CAPIM



LARGO DA QUINTANDINHA DO CAPIM




LARGO DA QUINTANDINHA DO CAPIM




LARGO DA QUINTANDINHA DO CAPIM




E A LADEIRA DO AQUIDABÃ

ONDE A IGREJA DO REINO D DEUS ESTÁ CONSTRUINDO

ALGO PARA ARRECADAR O DÍZIMO

O FIM DE PUTIN?

 


Pode ser o começo do fim de Putin



Batizado de primeiro conflito armado da era das redes sociais, a guerra da Ucrânia pode começar a acabar de acordo com esse figurino: rápido, se houver mesmo um acordo de cessar fogo na reunião desta segunda-feira. O encontro entre as delegações russas e ucranianas, em Gomel, na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia, começa no fim da madrugada (horário de Brasília). Na segunda guerra mundial, "a hora antes do amanhecer" era um momento icônico para os pilotos britânicos da RAF: eles sabiam que muitos poderiam não voltar, o que só aumentava a tensão.

Não é o que se espera dessa reunião, afinal, a guerra já causou grandes estragos e uma escalada de sanções contra a Rússia em primeiro lugar e para a União Europeia em segundo, pois são esses países os principais parceiros de negócios com os russos. Os problemas de pagamentos, via sistema financeiro Swift, vão trazer prejuízos a ambos os lados. Acima de tudo isso, há as perdas de vidas, ainda não contabilizadas e fora de qualquer sistema de compensação.

O comissário europeu para Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Janez Lenarcic, afirmou que a Europa está diante da maior crise humanitária em muitos anos. "As necessidades crescem enquanto falamos", lamentou. A preocupação se junta as de organizações humanitárias e ONGs de todo o calibre, para as quais, o importante agora, é não deixar passar a oportunidade de tocar nos empedernidos (e mesquinhos) corações europeus em relação a refugiados.

Quase 400 mil ucranianos passaram as fronteiras até o domingo. A metade pela Polônia, e outros pela República Tcheca, Hungria, Romênia e Moldávia. Especialistas e correspondentes falam em 5 milhões de refugiados ao fim de tudo isso. Outros aumentam a cifra para 7 milhões, que, somados aos existentes, árabes e africanos, transformaria a essa na questão mais explosiva para a Europa depois da própria guerra. Nesse momento, no entanto, o conflito em si é o verdadeiro X do problema e a resolução dele é a prioridade maior. Até a reunião os dois lados vão continuar a apontar as armas e dar tiros uns nos outros. Com inúmeras dúvidas. O assessor de Putin Vladimir Medinski disse que a Rússia está tão a fim que convocou a reunião. O ministro ucraniano de Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, afirmou que vai para ouvir e saber das propostas russas. O presidente Zelensky, que sente-se poderoso com apoio mundial de mídia, dinheiro e armas europeias que começam a chegar, diz que não acredita em acordo, mas não quer passar para a história como aquele que não quer negociar. Esse apoio faz o mundo esquecer que ele é simpático ao neonazismo, o que não o impede de surfar na onda contra um antidemocrático famoso de nome Putin.

Assim, o quadro pode não ser perfeito, mas há gestos e sinais positivos. E há, também, um conjunto de quebra de paradigmas. "É a primeira vez que isso acontece na Europa depois da Segunda Guerra", passou a ser uma expressão corriqueira. É a primeira vez que Putin admite que seu exército perde soldados, jovens filhos dos novos russos pós-soviéticos que, depois do Afeganistão, não querem ver seus meninos morrendo de novo. Na Rússia, as avós criam os netos, o que só endurece o jogo contra o presidente. Deter manifestantes não resulta, não vira apoio. Ajuda a criar músculos para o próximo verão.

A União Europeia, que abandonou a Ucrânia no início, criou coragem, finalmente, e garante que ainda existe e tem força. Vai suprir as necessidades de armamento da Ucrânia. E cresce a lista de "primeiras vezes". A presidente da UE, Ursula von der Leyen, garante que todos os 27 países-membros do bloco e mais alguns achegados fecharão seus espaços aéreos, isolando a Rússia pelos ares. O alemão Olaf Scholz inaugura seu mandato quebrando um paradigma sempre preocupante, aquele do que pode fazer um alemão armado. Avisou que vai fornecer misseis sting e lança-misseis aos ucranianos. Mil de um e quinhentos de outro, para começar. A Alemanha tem quase 70% do gás que consome fornecido pela Rússia. Ainda não houve cortes, mas não se sabe como isso será pago, depois das sanções Swift e a suspensão de sete grandes bancos russos.

Menos um ponto para Putin no front interno. Quem opera o sistema financeiro de lá são jovens empresários pitinistas e com ética especial, muitas vezes duvidosa. A ponto de terem mais de um terço dessa grana estocada em offshores mundo afora. Se começar a faltar dinheiro, a turma vai gritar e, talvez, reclamar das consequências das ações do líder. O exército russo é comandado por oficiais jovens. Com carreiras pela frente e ambições por todos os lados. Aí moram perigos.

Na linha da primeira vez, uma fora da Europa: o velho aliado Cazaquistão, de maioria étnica russa, não declarou apoio nem mandou um cartucho. Sobrou a vizinha Bielorrússia e seu dinossauro presidente Lukashenko. Está tão fechado com Putin que corre o risco de ver anexado o país dele. É tudo o que gostaria, mas muito pouco para Putin, um líder que dormiu sonhando ser Napoleão e está acordando na condição de maior pária russo dos tempos modernos. Essa pode ser outra "primeira vez". Nem os czares opressores, nem Lenin, nem o duro Stálin. Só Putin. Outro ponto a menos.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O HERDEIRO


 

PARA LEER EN FORMA INTERROGATIVA

CLOSE YOUR EYES

QUE ÓTIMO...

 PARA NOSSAS INDÚSTRIAS DE ARMAMENTO!



O BAIRRO DA FELICIDADE

 O REVOLUCIONÁRIO BAIRRO DA FELICIDADE

Numa cidade da Ucrania, o eterno desafio da requalificação urbana não foi apenas vencido, mas também brilhantemente vencido com um projeto que transformou uma antiga zona abandonada num “bairro da felicidade”.
O protagonista desta aventura é, inesperadamente para estas latitudes, um dos bairros de Kiev , um dos mais marcados pela rígida e funcional filosofia ex-soviética dos microraions (ou microdistritos), completamente revertido por um simples ingrediente: a cor .


Archimatika , o estúdio envolvido na reconstrução com sede na Rússia, Noruega e em Kiev, encontrou no microsaion a base perfeita em preto e branco para jogos de colorir infantis .
Mas se parece para você que colorir esses prédios foi um jogo, vamos dar um passeio pelas ruas de Comfort Town , para entender os segredos do sucesso: o bairro da felicidade em Kiev é de fato um dos lugares mais visitados de todo o mundo da Ucrânia e vive como um influenciador, cujo sucesso se dá pelas hashtags do Instagram.



Se esta experiência perfeitamente bem sucedida, tanto que a rua Reheneratorna foi incluída nas paradas de turismo em Kiev, pode ensinar alguma coisa, é que os resultados ideais também podem ser obtidos usando blocos pré-fabricados fáceis de montar em nível construtivo.


Uma vez que os edifícios estejam prontos, eles podem ser finalizados de várias maneiras, por exemplo, colorindo o exterior das fachadas para embelezar todo o bairro.
Nosso pensamento se volta para os julgamentos que estão despertando muitos dos novos edifícios milaneses , como a Torre Aurora. Certamente deveríamos nos acostumar a fazer menos polêmica em torno das escolhas urbanísticas de nossos administradores, mas também é verdade que todos os novos edifícios estão ligados por um sutil denominador comum: são todos monocromáticos..

sábado, 26 de fevereiro de 2022

A OPINIÃO DA BARBIE

 Presidente do Iphan afirma que há 'supervalorização do patrimônio cultural'

Larissa Peixoto chama conselheiros de 'desrespeitosos' em resposta a pedido de reunião para tratar de crise no órgão

PROIBIDO SER FEIO

 UGLY LAWS: NOS ESTADOS UNIDOS DO SÉCULO XIX JÁ FOI PROIBIDO 'SER FEIO'



Não, não é uma hipérbole ou algum tipo de brincadeira. De fato, houve uma época em que foram criadas leis contra pessoas "feias", talvez um dos passos mais marcantes do século XIX rumo à eugenia de raças.

Em meados de 1881, James Peevey, um vereador de Chicago (Estados Unidos), enxergava os mendigos que viviam pelas ruas da sua cidade como uma “obstrução de vias”, exatamente como se eles fossem um saco de lixo. Então, ele foi o responsável por forçar, por meio do conselho da prefeitura, uma lei que proibiu qualquer pessoa que estivesse “doente, mutilada, deformada, feia ou nojenta” de ser vista em público.

Como indica uma matéria do Chicago Tribune daquele ano comentando o caso, a lei visou criminalizar o traço da feiura, portanto os mendigos poderiam ser cobrados de US$ 1 a US$ 50, dependendo do "quão feio eram", se fossem vistos vagando pela sociedade por algum agente fiscal ou policial. Aqueles que não pudessem pagar a quantia eram encaminhados para asilos.

Indignos: uma ameaça           

(Fonte: NewsLinQ/Reprodução)(Fonte: NewsLinQ/Reprodução)

Em uma época em que a população urbana crescia de maneira acelerada nos Estados Unidos, colocando os norte-americanos em contato com pessoas de todo o mundo, a primeira Lei da Feiura foi implementada em São Francisco, em 1867, como uma extensão de uma lei de proibição mais geral sobre mendigar.

No livro The Ugly Laws: Disability in Public (2009), escrito pela professora de Inglês Susan Schweik, da Universidade da Califórnia, ela disserta que a cidade estava lidando com mineiros destituídos e veteranos de guerra mutilados da Guerra Civil. Segundo os historiadores, as ruas da cidade começaram a ser povoadas por “mendigos, pessoas feias, vagabundos e loucos”.

(Fonte: Web News/Reprodução)(Fonte: Web News/Reprodução)

Com a entrada a Lei da Feiura em São Francisco, outras cidades — como Chicago, Cleveland e Omaha — seguiram o exemplo. Foi a partir disso que surgiu o movimento Cidade Bonita, uma espécie de filosofia de reforma urbana baseada na ideia de que as cidades deveriam ser o mais esteticamente "puras" possível, causando um aumento de ansiedade nas pessoas, promovendo cada vez mais a aprovação de todos os tipos de lei horríveis.

As leis também foram uma forma de segregar e tentar "varrer para baixo do tapete social" o influxo de imigrantes, veteranos e escravos recém-libertados em muitas cidades americanas. Os pobres e rechaçados não poderiam "roubar a cena" daqueles que “realmente” representavam o povo americano, ou seja, quem era branco, saudável, falante de inglês e independente.

A "poeira" social

(Fonte: Chicago Tribune/Reprodução)(Fonte: Chicago Tribune/Reprodução)

Assim como a lei dos pobres da Era Vitoriana na Inglaterra, que fazia distinção entre os pobres “dignos” e “indignos”, a Lei da Feiura também estipulou diferentes tipos de punição a serem aplicadas a esses "criminosos sociais", além de multas.

Como Schweik descreve, os mendigos feios ou "indecentes" seriam tratados com menos leveza do que criminosos e não seriam levados para a prisão, mas para um asilo de pobres, onde seriam encarcerados por tempo indeterminado. Essa medida serviu apenas para marginalizar e criminalizar ainda mais a pobreza e a deficiência, como se essas pessoas tivessem culpa de suas condições.

As mulheres "feias" também significaram uma grande ameaça para o status quo, ainda mais em uma época em que a feminilidade adequada era entendida como avessa à exibição pública. Em Ohio, surgiu um Decreto da Feiura que incluía proibições de “comportamento lascivo”, atos indecentes, imodestos ou imundos; vestimenta imprópria; prostituição, incluindo qualquer "mulher obscena" que pudesse fazer qualquer exibição ousada ou meretrícia de si mesma.

(Fonte: JStor Daily/Reprodução)(Fonte: JStor Daily/Reprodução)

A linguagem das leis sugeria um desgosto particular pelo ato de chamar a atenção para si mesmo, atraindo o olhar de um "transeunte inocente". Isso fez muito parte do discurso do século XX da campanha nova-yorquina para promulgar a Lei da Feiura contra imigrantes e negros.

Ao longo dos anos, muitas das Leis da Feiura foram derrubadas e, até meados do século XX, poucas delas prevaleceram — apesar de nunca terem sido abandonadas do senso coletivo dos americanos. Na verdade, elas apenas perderam o nome e foram substituídas por outras novas mais "politicamente corretas", também destinadas a criminalizar a pobreza e a falta de moradia, como aquelas que proibiam compartilhar ou dar alimentos para pessoas desabrigadas.

BALUM BALUM

LA FÁBRICA


 Em 1973, Ricardo Bofill encontrou uma fábrica de cimento abandonada, um complexo industrial da virada do século composto de mais de 30 silos, galerias subterrâneas e salas de máquinas enormes, e ele decidiu transformá-lo em sede da Taller de Arquitectura. 
O trabalho de remodelação durou dois anos. 
A fábrica, abandonada e parcialmente em ruínas, era um compêndio de elementos surrealistas: escadas que subiam para lugar nenhum, poderosas estruturas de concreto armado que nada sustentavam, pedaços de ferro suspensos no ar, enormes espaços vazios preenchidos, no entanto, com a magia.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

... NÃO SÃO INOCENTES

 NA GUERRA DE PUTIN NA UCRÂNIA, EUA E OTAN NÃO SÃO ESPECTADORES INOCENTES

Os EUA permitiram o expansionismo da Otan, quando a Rússia acreditava que ela seria aliada de Moscou
Thomas L. Friedman / The New York Times 23.02.2022


Quando eclode um conflito de grandes proporções como o da Ucrânia, os jornalistas sempre se perguntam: “Onde devo me posicionar?” Kiev? Moscou? Munique? Washington? Nesse caso, minha resposta não seria uma dessas cidades. O único lugar em que poderíamos estar para entender essa guerra é dentro da cabeça do presidente russo, Vladimir Putin. Ele é o mais poderoso e irrefreável líder russo desde Stalin, e o momento escolhido para essa guerra é um produto das ambições, estratégias e queixas dele.
Mas, dito tudo isso, os Estados Unidos não são exatamente inocentes defensores da paz.
Como assim? Putin enxerga a ambição da Ucrânia de abandonar sua esfera de influência como uma perda estratégica e uma humilhação pessoal e nacional. No seu discurso de segunda-feira, Putin literalmente disse que a Ucrânia não pode reivindicar independência, sendo em vez disso parte integral da Rússia — seu povo é “ligado ao nosso por laços de sangue e de família”. E é por isso que a investida de Putin contra o governo livremente eleito da Ucrânia dá a impressão de ser o equivalente geopolítico de um assassinato em defesa da honra.
Putin está basicamente dizendo aos ucranianos (que parecem mais interessados em ingressar na União Europeia do que na Otan): “Vocês se apaixonaram pelo sujeito errado. Não sairão dessa com a integração à UE nem à Otan. E se eu tiver que golpear seu governo até a morte e arrastar vocês para casa, farei isso”.
Trata-se de um recado feio e visceral. Ainda assim, temos aqui um contexto que é relevante. O apego de Putin à Ucrânia não é apenas uma questão de nacionalismo místico.
Na minha opinião, esse incêndio é estimulado por duas grandes brasas. A primeira foi a decisão impensada dos EUA nos anos 90 de expandir a Otan após (ou mesmo apesar) do colapso da União Soviética.
E a segunda brasa, muito maior, é o uso cínico por parte de Putin dessa expansão da Otan para mais perto das fronteiras russas, estimulando assim a união dos russos em torno dele para ocultar o grande fracasso da sua liderança. Putin falhou completamente em transformar a Rússia em um modelo econômico capaz de realmente atrair seus vizinhos em vez de afastá-los, ou de inspirar seus maiores talentos a permanecerem no país em vez de entrar na fila para obter um visto para o Ocidente.
Precisamos olhar para ambas as brasas. A maioria dos americanos prestou pouca atenção na expansão da Otan no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, chegando a países da Europa Central e Oriental como Polônia, Hungria, República Checa, Letônia, Estônia e Lituânia, todos ex-integrantes da antiga União Soviética ou de sua esfera de influência. Não é mistério o motivo que levou tais países a desejarem uma aliança obrigando os EUA a virem em seu socorro no caso de um ataque por parte da Rússia, sucessora da União Soviética.
O mistério era por que os EUA, que durante a Guerra Fria sonharam com a possibilidade de um dia a Rússia passar por uma revolução democrática e com um líder que, dentro de suas hesitações, tentasse transformar a Rússia em uma democracia e se juntar ao Ocidente, optaram por empurrar rapidamente a Otan até as fronteiras russas quando este país enfraqueceu.
Um pequeno grupo de funcionários do governo e estudiosos da política externa da época, entre os quais me incluo, fez essa mesma pergunta, mas nossa voz foi abafada.
A voz mais importante, e também a única, no alto escalão do governo Clinton que fazia essa pergunta era ninguém menos do que o então secretário da Defesa, Bill Perry. Ao recordar esse momento anos mais tarde, Perry disse, em 2016, ao público de uma conferência do jornal The Guardian:
“Nos anos mais recentes, a maior parte da culpa pode ser atribuída às medidas adotadas por Putin. Mas, nos primeiros anos, devo dizer que os EUA merecem boa parte da culpa. Nossa primeira reação que deu início a esse rumo desastroso foi o início da expansão da Otan, incluindo países da Europa Oriental, alguns dos quais fazem fronteira com a Rússia.
“Na época, trabalhávamos em proximidade com a Rússia e eles começavam a se acostumar com a ideia de que a Otan poderia ser uma aliada, e não uma inimiga … mas ficaram muito abalados com a presença da Otan bem nas suas fronteiras, e fizeram um forte apelo para que não levássemos adiante esses planos.”
No dia 2 de maio de 1998, imediatamente após o senado americano ratificar a expansão da Otan, telefonei para George Kennan, o arquiteto da bem-sucedida política americana de contenção da União Soviética. Ingressando no departamento de Estado em 1926 e servindo como embaixador dos Estados Unidos em Moscou em 1952, Kennan era claramente o maior especialista americano em questões russas. Mesmo aos 94 anos, com a voz já fraca, ele revelou uma mente ainda aguçada quando perguntei sua opinião a respeito da expansão da Otan.
Vou compartilhar a resposta completa de Kennan: “Acredito que seja o início de uma nova guerra fria. Acho que os russos vão, gradualmente, reagir de maneira bastante adversa, o que será refletido nas políticas deles. Me parece um erro trágico. Não havia nenhuma razão para isso. Ninguém está ameaçando ninguém. Tal expansão faria os pais fundadores dos EUA revirarem nas suas tumbas."
“Assinamos um acordo para proteger uma série de países, mesmo sem ter os recursos ou a intenção de fazê-lo com um mínimo de seriedade. (A expansão da Otan) foi simplesmente uma decisão leviana de um Senado sem nenhum interesse real nas questões internacionais. O que me incomoda é a superficialidade e falta de informação vistas ao longo desse debate no Senado. Fiquei particularmente incomodado com as referências à Rússia como se se tratasse de um país louco para atacar a Europa Ocidental."
“Será que as pessoas não entendem? Na Guerra Fria, nossas diferenças eram com o regime comunista soviético. E agora estamos virando as costas justamente para o povo que realizou a maior revolução pacífica da história para derrubar esse regime soviético. E a democracia russa é, no mínimo, tão avançada quanto a desses países que acabamos de prometer que defenderemos da Rússia. É claro que a Rússia vai reagir mal, e então (os responsáveis pela expansão da Otan) dirão que eles sempre alertaram para essa personalidade russa — mas isso é simplesmente um erro.”
Foi EXATAMENTE isso que ocorreu.
É verdade que a evolução da Rússia no pós-Guerra Fria para um sistema liberal — como ocorreu com a Alemanha e o Japão após a 2.ª Guerra — era bastante incerta. De fato, levando em consideração a falta de experiência da Rússia com a democracia, tratava-se de uma aposta difícil. Mas, na época, alguns de nós acreditavam que tal aposta valia a pena, porque até uma Rússia pouco democrática — se tivesse sido incluída em um novo ordenamento de segurança europeu, e não excluído dele — poderia ter muito menos interesse ou incentivo para ameaçar seus vizinhos.
É claro que nada disso justifica o desmembramento da Ucrânia por parte de Putin. Durante seus dois primeiros mandatos na presidência (de 2000 a 2008), Putin fez ocasionais queixas a respeito da expansão da Otan, mas não foi além disso. Na época, o preço do petróleo estava em alta, como a popularidade doméstica de Putin, pois ele presidia um grande crescimento das rendas individuais dos russos após uma década de um doloroso empobrecimento e reestruturação na esteira do colapso do comunismo.
Mas, ao longo da década passada, com a gradual estagnação da economia russa, Putin teria de apostar em reformas econômicas mais profundas, o que poderia enfraquecer seu controle, ou dobrar a aposta na cleptocracia do capitalismo de compadrio. Ele optou pela segunda alternativa, explicou Leon Aron, do American Enterprise Institute, especialista em Rússia e autor de Yeltsin: A Revolutionary Life, que atualmente escreve um livro a respeito do futuro da Rússia de Putin. E para camuflar suas intenções e desviar as atenções dessa escolha, Putin mudou a base de sua popularidade, deixando de "ser o distribuidor da recém-descoberta riqueza russa e reformista econômico para assumir o papel de defensor da pátria", disse Aron.
E justamente quando Putin optou por razões políticas domésticas para se tornar um vingador nacionalista e um permanente “presidente de período de guerra”, como descreve Aron, o que estava à sua espera era a ameaça mais emocional para unir atrás dele o povo russo: “O alvo fácil da expansão da Otan”.
E ele tem se refestelado nesse prato desde então, mesmo sabendo que a Otan não tem planos de expansão para incluir a Ucrânia.
Os países e os líderes costumam reagir à humilhação de duas maneiras diferentes: agressão ou introspecção. Depois que a China sofreu aquilo que descreve como “um século de humilhações” nas mãos do Ocidente, a resposta veio com Deng Xiaoping, dizendo essencialmente: “Vamos mostrar a vocês. Vamos superá-los no seu próprio jogo”.
Quando Putin se sentiu humilhado pelo Ocidente após o colapso da União Soviética e a expansão da Otan, ele respondeu: “Vou mostrar a vocês. Vou descontar na Ucrânia”.
Sim, a situação é mais complicada do que isso, mas o que quero dizer é: essa guerra é de Putin. Ele é um líder ruim para a Rússia e para os seus vizinhos. Mas os EUA e a Otan não são espectadores inocentes nesta evolução.
Tradução de Augusto Calil