sexta-feira, 30 de julho de 2021

KORA E VIOLONCELO

QUANDO A UNESCO AMEAÇA

Depois da UNESCO retirar o tombamento do porto de Liverpool, Stonehenge treme!

Unesco : après le déclassement de Liverpool, Stonehenge tremble





L’emblématique et mystérieux site préhistorique est surveillé de près par l’organisme onusien dans le sillage de l’approbation de la construction d’un tunnel en tranchée couverte à proximité des mégalithes.

Une bonne nouvelle au cœur d’un mois de juillet difficile pour les sites historiques britanniques”comme l’écrit The Spectator. Les paysages d’ardoise du nord-ouest du pays de Galles sont devenus mercredi 28 juillet le trente-deuxième site du Royaume-Uni inscrit au patrimoine de l’Unesco. L’extraction de cette roche et l’industrie associée “ont fortement influencé l’architecture mondialerappelle The Guardian. En 1830, la moitié des bâtiments new-yorkais étaient surmontés d’un toit en ardoise galloise.”

La décision de l’organisme onusien chargé de la culture, aboutissement d’une candidature déposée voilà quinze ans par les autorités locales, intervient une semaine après le déclassement du port marchand de Liverpool. Un coup dur pour la ville du nord-ouest de l’Angleterre, regrette The Spectator, motivé par la construction de nouveaux bâtiments dans le secteur des “Docks”, dont les édifices datent de l’époque victorienne.

Surtout, la presse britannique s’inquiète désormais pour l’avenir de Stonehenge, site préhistorique emblématique du Royaume-Uni visité par plus d’1,5 million de personnes chaque année. Le sanctuaire mégalithique “est à deux doigts de perdre son classement au patrimoine mondial de l’Unesco : l’organisme a mis en garde le gouvernement britannique en raison d’un projet de tunnel routier à proximité du site, dont le coût s’élève à 1,7 milliard de livres [près de deux milliards d’euros]”, alerte The Spectator.

Londres écarte l’idée d’un tunnel plus long

Approuvé par le ministre des Transports en novembre, ce projet de tunnel en tranchée couverte d’une longueur de 3,3 kilomètres risquerait d’endommager une zone “d’une valeur universelle inestimable, où sont encore menées des fouilles archéologiques.

L’association Save Stonehenge World Heritage Site a formé un recours en justice : les audiences ont eu lieu en juin, et la décision devrait être rendue en août. Si ce recours est rejeté, Stonehenge fera probablement son entrée sur la ‘liste du patrimoine mondial en péril’ d’ici un an.”

Tant que le projet routier n’est pas amendé, l’Unesco refuse de discuter avec Londres. Le gouvernement britannique, quant à lui, a écarté l’idée d’un tunnel plus long, permettant d’assurer l’intégrité du paysage. “Préserver un lieu ne consiste pas à le figer pour toujours, mais plutôt à maîtriser soigneusement les évolutions”, souligne l’hebdomadaire britannique. Il est encore temps pour l’Unesco et les pouvoirs publics de s’entendre sur une solution viable, veut croire le magazine. Et ainsi éviter de voir Stonehenge “suivre la voie de Liverpool”

AVISO DE INCÊNDIO



Carlos Zacarias de Sena Júnior*

                A semana que começou com Bolsonaro posando para foto com a deputada da AfD (Alternativa para a Alemanha), principal partido da extrema direita alemã, que teve a SECOM estimulando a violência no dia do agricultor, termina com a prisão do ativista Paulo Gallo e sua esposa Géssica por envolvimento no incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato.

            O conhecido entregador antifascista assumiu seu envolvimento no incêndio. Géssica, entretanto, foi detida não se sabe por qual motivo. Quer dizer, considerando não existir também motivo algum para a detenção de Gallo, a justificativa para as prisões só pode ser o aviso de incêndio, como metáfora do risco do fascismo.

            Impressiona que o Brasil, que conheceu a democracia depois de mais de 21 anos de Ditadura, tenha mantido de pé uma homenagem a um bandeirante a quem se atribui inúmeros crimes. Do mesmo modo se admitiu que os símbolos da Ditadura permanecessem intactos depois de 1988. Por conta disso não é incomum trafegarmos por vias que têm o nome de generais, sentarmos em praças que homenageiam ditadores ou ter nossos jovens frequentando escolas de quem trabalhou para a destruição da educação. Há quem diga que essa onda de iconoclastia, se virasse moda, poderia pôr abaixo as pirâmides do Egito. Bobagem! Ninguém que tenha se insurgido contra estátuas de facínoras ignora a diferença entre civilização e barbárie.

            Foi por isso que Revolução dos Cravos erradicou as homenagens a todos que serviram à ditadura salazarista. Do mesmo modo, não há referência a personagens do nazi-fascismo nas ruas da Itália ou da Alemanha, mas isso não quer dizer que o passado foi apagado, muito ao contrário. Pelo fato de que travamos no presente muitas das batalhas que não puderam ser vencidas no tempo pretérito, toda forma de monumentalização da história é o modo de afirmar princípios e expectativas sobre o que somos e desejamos ser.

Estátuas não são celebração do passado, mas o modo como cada presente representa a história. Num tempo em que o presidente do país comete crimes a 3x4, e ainda posa para foto com uma deputada neonazista, o que espanta é que haja gente como Paulo Gallo com coragem para tacar fogo num símbolo da opressão.

O fato é que Paulo Gallo cumpriu seu objetivo, que é o de provocar a discussão sobre o significado da homenagem a alguém como Borba Gato. O exemplo poderia ser seguido em outros terrenos, mas por ora quero prestar aqui minha solidariedade ao entregador antifascista, reafirmando que, como historiador, trabalharei para que o presente e seus personagens não sejam esquecidos. E se for preciso homenagear alguém com estátua, que se faça isso em nome das vítimas do atual genocídio e, sobretudo, dos que lutaram contra o morticínio e contra o fascismo.



* Doutor em História. Professor da UFBA.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

A GAROTA DA BICICLETA

VER E VIVER A CIDADE


O PAULISTA ANDRÉ PEREIRA, CRIADOR DE OFICINA DO DEDECO,  É UMA DAS FIGURAS MAIS INTERESSANTES DESTE BRASIL HOJE TÃO AMEAÇADO.
É GRAÇAS A HOMENS E MULHERES COM ELE QUE O PAÍS AINDA NÃO É UM GIGANTESCO TITANIC


A REVOLTA!

 EX-PASTORES E BISPOS ORGANIZAM REVOLTA CONTRA IGREJA UNIVERSAL NA ÁFRICA DO SUL – PARA ONDE BOLSONARO QUER NOMEAR CRIVELLA

Racismo e imposição de vasectomia estão entre as denúncias encaminhadas ao governo sul-africano contra a igreja de Edir Macedo.




O REINO DE EDIR MACEDO começa a ruir. Ao menos na África. Depois de enfrentar um terremoto em Angola – com a perda do controle de sua igreja, pastores brasileiros expulsos, Record TV local suspensa e dirigentes acusados de lavagem de dinheiro e associação criminosa –, o bispo brasileiro, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, se depara agora com problemas semelhantes na África do Sul.

É justamente para lá que o governo Bolsonaro indicou o bispo e ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, para o cargo de embaixador.

Bispos e pastores locais começaram a se rebelar contra a direção brasileira da igreja no início deste ano, e a revolta ganhou corpo nas últimas semanas. Além de organizarem um protesto, dissidentes acusam a ala brasileira de supostos crimes como lavagem de dinheiro, racismo e imposição de vasectomia aos pastores – um roteiro parecido com o de Angola.

“Os atuais pastores e suas esposas estão se revoltando contra o racismo, as injustiças, a lavagem de dinheiro e os privilégios na igreja”, me disse o ex-pastor sul-africano Luthando Jumba, um dos líderes do movimento. Ele tem se posicionado nas redes sociais contra a liderança brasileira da Universal.

As denúncias na África do Sul estão sendo encaminhadas à Comissão para a Promoção e Proteção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e Linguísticas, órgão do governo local. Em fevereiro e março, o órgão recebeu queixas e colheu depoimentos de religiosos e familiares de pastores. Houve relatos de esterilizações forçadas, humilhações, maus-tratos e até supostos rituais satânicos, segundo noticiou a imprensa sul-africana.

Para defender os interesses de religiosos e ex-membros da Universal na África do Sul, os dissidentes se organizaram e criaram a Vision Trust Foundation. “Temos bispos, pastores, esposas de pastores e auxiliares. Os pastores estão falando conosco, mas não podem fazer isso publicamente ainda”, diz Jumba. Essa cautela se deve ao receio de represálias.

Em 16 de junho, quarta-feira, um grupo de pastores e ex-pastores, obreiros e fiéis realizaram uma manifestação em frente à sede da Universal, em Joanesburgo. Os manifestantes pediram autorização oficial ao Departamento de Polícia Metropolitana para o ato, mas, na véspera, o evento acabou sendo proibido. Ainda assim, foi realizado.

Participaram cerca de 100 pessoas, segundo Jumba. O ato não reuniu mais religiosos, de acordo com o ex-pastor, em virtude de o país estar em lockdown parcial por causa da pandemia do coronavírus. Os manifestantes distribuíram um manifesto pedindo liberdade de expressão na igreja, o fim das campanhas de arrecadação, o fim do racismo e a saída do país de bispos racistas, não à vasectomia, fim do controle sobre as redes sociais dos pastores e construção de escolas e clínicas pela igreja.

Manifestantes protestam em frente à sede da Universal, em Joanesburgo, África do Sul.

  

‘A África acordou’

Jumba contou ter entrado na Universal em 1997 e exercido a função de pastor por 12 anos e meio, chegando a ser o segundo responsável na sede central, em Joanesburgo. Afirmou ter saído da igreja por vontade própria, “por causa do racismo e das injustiças” que teriam sido praticadas, de acordo com ele, por Marcelo Pires, bispo responsável pela Universal na África do Sul e nos países africanos de língua inglesa.

São acusações semelhantes às que a igreja sofreu em Angola. No final de 2019, um grupo de 330 bispos e pastores angolanos da Universal divulgou um manifesto com críticas e acusações ao comando da igreja. Em junho do ano passado, eles assumiram o controle da instituição no país.

A Reforma, como foi chamado o rompimento entre ex-bispos e ex-pastores e Edir Macedo, foi apoiada pelo governo. As denúncias de lavagem de dinheiro passaram a ser investigadas pelas autoridades e, em dezembro do ano passado, o governo angolano reconheceu os dissidentes como os novos líderes da Igreja Universal local.

Na África do Sul, Jumba me disse que “evidências” de lavagem de dinheiro estão sendo colhidas e serão encaminhadas às autoridades para possíveis investigações. “É hora de a África do Sul ser liderada pelos sul-africanos”, afirmou.

É um discurso semelhante ao do ex-pastor angolano Tavares Armando, que tem conclamado os seguidores da igreja em países como Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Madagascar a repetirem a experiência da revolta angolana.

“A África acordou. É o momento de dar um basta. O continente tem de ser respeitado. Os irmãos de língua inglesa da África do Sul já estão aderindo”, comemorou Armando em um vídeo.

“São as mesmas denúncias que os irmãos angolanos fizeram. Será que os irmãos angolanos combinaram? É claro que não há combinação. São acontecimentos em cadeia. Por que os mesmos crimes apontados em Angola – a ponto de Edir Macedo ser punido e expulso de Angola – podem ser verificados e investigados, que vai se ver que são os mesmos, telegraficamente e minuciosamente, cometidos em outros países”, completou.

O bispo angolano Felner Batalha, porta-voz da Reforma, afirma que o movimento de contestação à ala brasileira da igreja, iniciado em Angola, deve se repetir em muitos outros países.

“A Reforma vai ocorrer em todos os países. E é irreversível. Onde existe a Igreja Universal existem os mesmos problemas, como discriminação e a opressão”, ele me disse na semana passada. “Há uma necessidade de se voltar à essência do Evangelho e do Cristianismo, e essa é a finalidade da Reforma. Houve um desvio daquilo que são os princípios basilares do Cristianismo e do próprio Evangelho de Jesus Cristo”.

Crivella para acalmar os ânimos

Felner Batalha afirmou acreditar que a Universal pediu ao presidente Jair Bolsonaro a nomeação do bispo Marcelo Crivella na África do Sul justamente “por recear que a Reforma ecloda no país”.

O objetivo seria evitar um novo racha na Universal e também que novas rupturas na igreja se espalhem por países africanos. A indicação de Crivella ainda não foi oficializada. Caso se efetive, o ex-prefeito do Rio de Janeiro seria uma espécie de embaixador da Universal na África do Sul – e não, de fato, um embaixador do Brasil.

O sobrinho de Edir Macedo, no momento, não pode sequer sair do Brasil. Ele foi preso em dezembro do ano passado acusado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. Em fevereiro, sua prisão foi revogada – mas seu passaporte, apreendido. Por isso, foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal de deixar o país.

Sua nomeação para o cargo de embaixador dependeria de o STF rever essa decisão e também da aceitação de seu nome pelo governo da África do Sul e de uma aprovação após sabatina no Senado brasileiro.

Diplomatas ouvidos pelo Intercept consideraram a indicação “lamentável e um absurdo”. “Não é por ser judeu, católico, evangélico ou por não ter religião. É que o estado brasileiro é laico e, não me consta que, até hoje, bispo católico tenha sido indicado para ser embaixador”, me disse Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula.

Outro diplomata, embaixador, que preferiu falar reservadamente, disse não ver chances de êxito na nomeação de Marcelo Crivella para a embaixada na África do Sul. O governo sul-africano pode nem aceitar, e o Senado também deve barrar, em sua avaliação.

Com o apoio de Bolsonaro, Crivella e a Universal se esforçam para tentar viabilizar a indicação. Em 8 de junho, o bispo e também cantor gospel – que fala inglês e zulu, uma das línguas dos povos originários do sul da África e morou na África do Sul nos anos 1990 –, postou nas redes sociais uma de suas canções, “África”.

No clipe, imagens do continente africano e uma inscrição em zulu, “Ngi Buyela”, que quer dizer: “Estou voltando para casa”.

Atualização: 17 de junho de 2021, 18h

O texto foi atualizado para o acréscimo do nome completo e cargo do pastor Marcelo Pires, bispo responsável pela Universal na África do Sul e nos países africanos de língua inglesa. Apenas seu sobrenome aparecia em versão anterior do texto. Também foi retirada a menção a “ministro” do diplomata ouvido – ele é embaixador.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

AQUILO QUE O IPHAN...

... PROIBE NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR: ÁRVORES!


 

MEU NOME É ISABEL

"Meu nome é Isabel, joguei vôlei na seleção brasileira, representei o Brasil por muitos anos. Resolvi escrever essa carta aberta, não para falar de esporte, mas para falar da cultura, porque acredito que só pude ser a jogadora que fui e a pessoa que sou graças aos filmes que vi, aos livros que li, às músicas que ouvi, às histórias que minha avó me contava. Minha mãe era professora e escritora, amava os livros, adorava música, e foi ela quem me apresentou a Chico Buarque, Caetano, Cartola, Luiz Melodia, entre tantos grandes compositores brasileiros. Lembro, quando chegava do treino muito cansada, que me deitava no sofá e ela me falava dos poetas que amava: Bandeira, Joao Cabral, Cecília Meirelles, Drummond…. Hoje tenho certeza que aquela atmosfera foi muito importante na minha formação.

Quantas vezes, ouvindo e dançando as músicas de Gilberto Gil com Jacqueline, a grande campeã Olímpica, comemoramos vitórias e tentamos esquecer a dor de algumas derrotas. Lembro também do impacto que senti, aos 18 anos, quando assisti ao filme “Tudo Bem”, de Arnaldo Jabor, com a incrível Fernanda Montenegro e um elenco de craques. Aos 17, assisti “Trate-me Leão”, peça que inspirou toda uma geração. Quantas vezes, os livros me transportaram para outros universos e me permitiram aliviar as tensões das quadras.
Pois é, depois de um ano de governo Bolsonaro, preciso expressar meu horror com o que tem acontecido com a cultura. É muito duro ouvir os insultos que foram proferidos contra Fernanda Montenegro; ver Chico Buarque ganhar o prêmio Camões, maior prêmio da língua portuguesa, sem que o presidente cumprimente ou comemore o feito; testemunhar a morte de João Gilberto, um dos maiores compositores brasileiros sem que nenhuma homenagem tenha sido feita pelo governo. É estarrecedor saber que nosso cinema é premiado lá fora e atacado aqui dentro; ver o ataque brutal à casa de Rui Barbosa, com as exonerações dos pesquisadores que eram a alma e o coração daquela instituição. E como se não bastassem esses exemplos de barbaridade, assistimos ainda o constante flerte do governo com a censura.
Essa carta é só pra dizer que eu me sinto muito ofendida, senhor Bolsonaro. Não sou uma intelectual, sou uma cidadã brasileira que acredita que a cultura é essencial para qualquer pessoa. Ela só existe ser for plural, em todas as formas de expressão. Por meio dela, formamos a nossa identidade. Se esse governo não gosta do nosso cinema, da nossa música, dos nossos escritores, eu quero dizer que eu e uma enorme parte dos brasileiros gostamos. Não aguento mais assistir a tantos absurdos calada. Vocês estão ofendendo uma grande parcela do povo brasileiro.
Aprendi no esporte que é fundamental respeitar as diferenças e saber que elas são enriquecedoras em todos os aspectos. Aprendi que é fundamental respeitar os adversários , e não tratá-los como inimigos. Compreendi, vivendo no esporte, o quanto é importante ser democrático. Inspire-se no esporte, senhor presidente! O senhor foi eleito democraticamente. Governe democraticamente, e não apenas para quem pensa como o senhor. Hoje eu pensei muito nos rumos da cultura, porque lembrei da minha querida avó, que me levava, quando menina, para passear nos jardins da casa de Rui Barbosa…"
- Isabel do Voleí Salgado -

AUXÍLIO MORADIA

 


A PROVA DO BOLSONARO

BLOG DO NOBLAT


 Eis a prova de Bolsonaro


Na busca de fraude eleitoral, bolsonarismo encontrou um acusado de estelionato




Na segunda-feira, Jair Bolsonaro prometeu apresentar em três dias provas das fraudes que ele afirma terem ocorrido nas eleições presidenciais. “Na quinta-feira, 19 horas, a minha live vai ser talvez lá no Ministério da Justiça. A gente vai expor todas as questões que levam a gente a ter uma eleição democrática ano que vem. São três momentos inacreditáveis que a gente vai mostrar com fotografias de dados fornecidos pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se bem que faltam mais dados que não entregaram para a gente. Logo a gente conclui isso aí, porque o trabalho não é fácil”, disse.

A nova promessa de Jair Bolsonaro é a admissão de ter mentido no ano passado, quando anunciou, numa viagem aos Estados Unidos, que tinha provas de que a eleição de 2018 teria sido fraudada já no primeiro turno. “Nós temos não apenas palavra. Nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse há mais de um ano.

Agora, Jair Bolsonaro revela que ainda não tem as tais provas (“faltam mais dados”) e admite que cumprir o que prometeu não está nada fácil. Até a direção da Polícia Federal tentou ajudar o presidente Bolsonaro na empreitada de encontrar indícios das supostas fraudes nas urnas eletrônicas.

Em junho deste ano, a Corregedoria da Polícia Federal encaminhou ofício a todas as superintendências estaduais solicitando que encaminhassem todas as denúncias de fraudes recebidas ou apuradas desde 1996, quando se adotou o sistema de votação eletrônica.

Segundo apurou o Estado, a Polícia Federal não recebeu até o momento nenhum indício de fraude envolvendo a urna eletrônica. Apenas um único inquérito sobre o tema foi encontrado. Realizada em 2012, esta investigação da Polícia Federal concluiu que não houve fraude eleitoral, e sim tentativa de estelionato.

Na busca de alguma prova da suposta fraude eleitoral, o bolsonarismo também não encontrou indícios de manipulação do resultado das urnas eletrônicas. Encontrou apenas e tão somente um acusado de estelionato. A coincidência com o trabalho da Polícia Federal seria cômica, se não fosse trágica, mostrando a falta de limites – e de qualquer bom senso – da turma de Jair Bolsonaro.

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REINO EM QUEDA

Denúncias contra a Universal na África do Sul são travas para nomeação de Crivella embaixador

Indicação de Bolsonaro já não era bem vista devido às denúncias contra o sobrinho de Edir Macedo. A tentativa de ter um representante no país para conter movimentos contrários à seita também fica em xeque


São Paulo – Poucos meses após perder o comando dos templos da Igreja Universal em Angola, o fundador e líder da organização neopentecostal, Edir Macedo, já enfrenta um novo movimento contrário à direção brasileira da seita na África do Sul. Ex-pastores e bispos locais encaminharam à Justiça do país acusações de racismo, lavagem de dinheiro e esterilizações forçadas contra a ala de comando da Universal. Nas últimas semanas, a revolta dos dissidentes, que teve início neste ano, vem ganhado força nas ruas com a organização de protestos em frente aos templos pelo país. 

De acordo com informações do jornalista Gilberto Nascimento, em reportagem para o The Intercept Brasil, as denúncias já são apuradas pelas Comissão para a Promoção e Proteção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e Linguísticas, órgão do governo. Entre fevereiro e março, religiosos e familiares de pastores prestaram depoimento confirmando as acusações. 

A queda em Angola

Ao jornalista, o bispo angolano Felner Batalha, porta-voz da Reforma, – como é chamado o movimento contra a ala brasileira – afirmou que essa onda de denúncias deve se repetir em muitos outros países. A possibilidade é que o mesmo roteiro angolano seja remontado na África do Sul. No final de 2019, um grupo de 330 bispos e pastores de Angola decidiu romper com a direção de Edir Macedo. À época, denúncias semelhantes às do grupo sul-africano também foram apresentadas.

O movimento ganhou força e, em um junho do ano passado, assumiu o comando dos templos da Universal. Pouco depois, o governo angolano reconheceu as lideranças locais como os novos líderes. Os pastores brasileiros acabaram expulsos, a TV Record teve as atividades suspensas e dirigentes foram acusados formalmente pela Justiça de lavagem de dinheiro e associação criminosa. O que se repete agora na África do Sul. 

Os planos de Bolsonaro e Crivella

O país, inclusive, é para onde o presidente Jair Bolsonaro quer indicar o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella para o cargo de embaixador. Candidato derrotado nas eleições municipais em 2020, Crivella é também sobrinho de Edir Macedo e bispo da Universal.

A jornalista Marilu Cabañas conversou na edição desta sexta-feira (18) do Jornal Brasil Atual com Gilberto Nascimento. Para o repórter, está evidente que a escolha de Crivella seria por interesse da organização. A direção da Universal espera ter um representante na África do Sul para conter possíveis movimentos contrários à seita no país. Mas, segundo ele, esse objetivo não será tão fácil. 

Colaborador da Rádio Brasil Atual, Gilberto é também autor do livro O Reino – a história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal(Companhia das Letras, 2019) e afirma ter informações de que “a indicação do bispo Marcelo Crivella como embaixador do governo Bolsonaro deve acirrar ainda mais a discussão no país”. “A imprensa local já tem publicado reportagens também e pode ser que esse movimento acabe ganhando força como ganhou em Angola”, explica. 

Má-fama

Além disso, a intenção do presidente já causava polêmicas internamente aqui no Brasil. “Crivella chegou a ser preso em dezembro, ficou até fevereiro (nessa condição). A prisão foi revogada, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) o impediu de sair do país, o passaporte está apreendido. Conversei com diplomatas que acharam (a indicação) um desrespeito ao Itamaraty. Primeiro, porque não é comum indicar como embaixador pessoas que não são da área da diplomacia. Isso até já ocorreu, mas com personalidades conhecidas, de mérito inquestionável. Agora, indicar alguém processado por corrupção é considerado um desrespeito ao Itamaraty e até ao próprio país”, explica Nascimento. 

Para ser nomeado, Crivella ainda terá de ser aceito pelo governo da África do Sul. O que se torna imprevisível com as denúncias contra a Igreja Universal. Os senadores também precisarão legitimar seu nome em sabatina e o Supremo terá de reverter a decisão que hoje o impossibilita de deixar o país. 

terça-feira, 27 de julho de 2021

SE ALGUÉM QUISER ME EXCLUIR...

 
Se alguém quiser me excluir, vou ajudar:

1. Sou a favor do apoio social;
2. Bandido bom é bandido ressocializado; e lugar de criança é na escola. Escola livre.
3. Criminosos de colarinho branco também são bandidos;
3. Apologia a tortura é crime;
4. Sou pró-família (independente da constituição dessa);
5. Sou contra a erotização de crianças e a favor de uma educação sexual;
6. Sou a favor de acabar com todo e qualquer privilégio da classe política;
7. Cotas devem existir para pessoas de classes sociais menos favorecidas, para negros, índios e pessoas com deficiência;
8. Direitos humanos é direito de todos e se não fosse por eles não seríamos uma sociedade;
9. Policiais, Professores e Profissionais da Saúde deveriam ganhar mais do que deputados e senadores;
10. O Brasil é laico e gente de todas as religiões merece respeito, inclusive o ATEU;
11. O feminismo protege a mulher e quem acha o contrário é no mínimo mal intencionado;
12. Racismo é ABOMINÁVEL.
13. Somos todos iguais, porém é notório o preconceito ainda enraizado na nossa sociedade;
14. Sou a favor de políticas públicas que beneficiem as minorias;
15. Sobre quem tem orientação homo-afetiva (GLTB), só deveria ser tema de debate político quando pensarmos em planos de prevenção da violência contra esse grupo e proteção de seus direitos civis de como qualquer outro cidadão ;
16. Sou contra quem prega violência de qualquer tipo. A solução de problemas sociais não passa pela militarização;
17. Sou contra a liberação do porte de arma. Cidadãos "de bem" armados reunidos, viram bandos de assassinos; não quero um líder que faz e ensina crianças a fazerem arma com as mãos. Sou contra a caça “esportiva”
18. Sou contra educação básica à distância
(exceto nesse momento de pandemia) e defendo a educação integral. Respeito e admiro a contribuição de Paulo Freire para a educação.
Sou contra a censura, especialmente na educação.
Copiei de uma pessoa, que copiou da outra e de outra...
Entre na corrente
Acrescento:
Acredito que é necessário viver imersa na cultura e nas artes, inclusive como forma de saúde;

BURLE MARX E A UNESCO

 Sítio Roberto Burle Marx recebe título de Patrimônio Mundial da Unesco

O laboratório de experimentações botânicas e paisagísticas que sintetiza a obra de Burle Marx é a 23ª obra brasileira a integrar a Lista do Patrimônio Mundial


Legado do paisagista brasileiro que criou o conceito de jardim tropical moderno, o Sítio Roberto Burle Marx (SRBM) foi reconhecido com o título de Patrimônio Mundial nesta segunda-feira, 26 de julho, durante a 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Realizada em Fuzhou, na China, a reunião foi transmitida on-line mundialmente.

Com a nova chancela, o Brasil passa a ter 23 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, registro dos bens considerados como portadores de valor universal excepcional para a cultura da humanidade. O SRBM foi reconhecido na categoria de Paisagem Cultural, na qual se enquadram bens que referenciam a interação entre o ambiente natural e as atividades humanas, resultando em uma paisagem natural modificada.

Localizado na Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), o Sítio tem 405 mil metros quadrados de área e abriga uma coleção botânica com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, cultivada em viveiros e jardins. O sítio é uma unidade especial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.

“O Sítio Roberto Burle Marx é certamente uma obra de arte, onde as paisagens são o elemento de maior destaque, ligando todo o conjunto com poderosa personalidade. Os espaços ajardinados do Sítio materializam tanto os princípios paisagísticos da obra de Burle Marx quanto os processos de análise, cultivo e experimentação que impulsionaram a criação do paisagismo tropical moderno. A vegetação organizada em diálogos de forma, cor e volume que permeiam todos os ambientes, mas também se articulam e interagem com a mata nativa, com a topografia e os acidentes naturais do terreno e com elementos artísticos e arquitetônicos de diferentes épocas e culturas, resultando numa paisagem notável e singular”, ressalta a diretora do SRBM, Claudia Storino.

Para a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, este título é motivo de orgulho para o Brasil, o Iphan e toda a população brasileira.

 A chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade. Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, destaca.

 O processo de construção de candidatura começou com a inscrição na lista indicativa brasileira a Patrimônio Mundial, em 2015. Desenvolvido pelo Iphan com a contribuição de muitos parceiros, o dossiê final do Sítio Burle Marx foi entregue à Unesco em janeiro de 2019. O documento defende o valor da propriedade como laboratório botânico e paisagístico. No segundo semestre de 2019, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) realizou a “missão de avaliação” no Sítio, parte importante do processo de candidatura. A visita se desdobrou no relatório final, que subsidiou a análise pelo Comitê do Patrimônio Mundial.

O título da Unesco cria um compromisso internacional de preservação do local. Um dos próximos passos será a formalização de um plano de gestão para o Sítio e seu entorno, na perspectiva do patrimônio mundial, envolvendo diversas instituições governamentais e atores da sociedade civil e definindo a matriz de responsabilidades de todos os parceiros. O plano mapeará riscos e apontará ações para minimizar possíveis ameaças ao valor universal excepcional do SRBM.

 A chancela representa o reconhecimento sobre a importância do Sítio também para a humanidade, aumentando os compromissos com a sua proteção, conservação e gestão, o que deve atrair ainda mais visitantes para conhecer este, que é um dos mais importantes registros da influência e da obra do artista Roberto Burle Marx”, disse Gilson Machado Neto, ministro do Turismo.

 



É válido informar que todo o conjunto acaba de passar por uma vasta requalificação, que fortaleceu e subsidiou o processo da candidatura ao título de Patrimônio Mundial. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu aproximadamente R$ 5,4 milhões em projetos e intervenções para valorizar espaços de visitação, implementar medidas de acessibilidade, ampliar o acesso público e potencializar ações de pesquisa. Fruto de parceria firmada entre o Iphan e a Associação Intermuseus, associação civil sem fins lucrativos (Oscip), a requalificação iniciou em outubro de 2018 e foi concluída em fevereiro de 2021.

 A história do SRBM

Em 1949, Roberto Burle Marx e seu irmão Guilherme Siegfried compraram o imóvel com a finalidade de abrigar coleção botânica, testar novas associações de plantas e cultivar mudas. A partir de então, a casa foi sucessivamente reformada e ampliada; foram construídos a Loggia, o Salão de Festas (conhecido como Cozinha de Pedra), a Casa de Pedra, o Prédio da Administração e o Ateliê; a Capela de Santo Antônio da Bica, do século XVII, foi restaurada e mantida em uso pela comunidade.

No ano de 1985, Burle Marx doou o Sítio ao governo federal a fim de assegurar sua preservação, a continuidade das pesquisas, a disseminação do conhecimento adquirido e o compartilhamento daquele espaço único com a sociedade. Após a morte do artista em 1994, o sítio passou a ser gerido pelo Iphan e se tornou um centro cultural.

Hoje, jardins, viveiros de plantas, sete edificações e seis lagos integram a propriedade que também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, incluindo um grande repertório da produção artística de Burle Marx, suas coleções de arte moderna, cuzquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, de cristais e de conchas, além do mobiliário e dos objetos de uso cotidiano da casa.

Maior e mais importante registro da obra de Burle Marx, o SRBM recebe cerca de 30 mil visitantes por ano. Conhecido internacionalmente como um dos mais relevantes paisagistas do século XX, Roberto adquiriu o Sítio em 1949 e ali viveu entre 1973 e 1994. Ao longo de 45 anos, reuniu na propriedade plantas de diversas partes do mundo e dos diversos biomas brasileiros, algumas atualmente em risco de extinção. Na articulação entre espaços ajardinados, arquitetura e acervo botânico, o SRBM testemunha de forma única o pensamento de Roberto Burle Marx e sua contribuição para um importante momento da história da humanidade – o período moderno do século XX -, que se materializou na arquitetura, nas artes, no planejamento urbano e, mais especificamente, na criação de paisagens.

Claudia Storino explica que há camadas de conhecimento científico que precedem e permeiam os jardins. “Evidenciando essa dimensão conceitual, Burle Marx referia-se ao Sítio como o seu ‘cadinho’. Essa metáfora não é força de expressão ou referência fortuita. A energia depositada na constituição de sua coleção botânica; sua concentração na construção do conhecimento científico necessário ao cultivo, à reprodução e à utilização das espécies; a dedicação intensa e permanente à realização dos experimentos, juntando os diversos elementos vegetais sob os determinantes naturais de terra, água e luz, em busca dos resultados estéticos que o tempo se encarregaria de amadurecer. Tudo isso traça paralelos com o trabalho dos alquimistas. No caso da produção do jardim tropical moderno, o Sítio foi de fato o cadinho, ou crisol, onde os elementos foram misturados de modo a produzir uma obra nova, com novos princípios e nova expressão plástica”, esclarece a diretora.

Parte do acervo museológico do Sítio está disponibilizada em um banco de dados específico para registro, gestão, pesquisa e acesso público, disponível para consulta. Mais detalhes no folheto do SRBM e no vídeo da candidatura abaixo:

 


O legado de Burle Marx

Nascido em 1909, em São Paulo, Burle Marx foi criado no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1994. Com milhares de projetos espalhados pelo mundo, concebeu paisagens de grande destaque no país, como os jardins do Complexo da Pampulha, em 1942; o jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954; o paisagismo do Aterro do Flamengo, em 1961; os jardins da sede da Unesco, em Paris, e o famoso traçado do “calçadão” de Copacabana, em 1970. Além de paisagista, Burle Marx foi também artista plástico, pintor, escultor, designer de joias, figurinista, cenógrafo, ceramista e tapeceiro. Todas as facetas da sua obra podem ser apreciadas no SRBM, um grande laboratório de experimentações botânicas e artísticas.

Burle Marx foi pioneiro na luta pela conservação da natureza e ferrenho defensor do ambiente. Compreendendo desde cedo o potencial estético e a importância científica da flora tropical, introduziu o uso de espécies nativas em seus projetos paisagísticos, criando o conceito de jardim tropical moderno, alinhado ao movimento moderno na arquitetura e nas artes, que produziu grande impacto no campo mundial do paisagismo.

Na propriedade do SRBM também se encontram exemplares das 34 espécies que possuem relação direta com Burle Marx: duas delas descritas diretamente pelo paisagista, 16 nomeadas em homenagem a ele e outras 16 cujas descrições utilizaram materiais coletados nas expedições promovidas por Roberto.

CRENTE DE ESQUERDA

Crente e de esquerda, sim! Sem crise… – Por pastor Zé Barbosa Jr

Sou de esquerda porque encontro nesse espectro político os ideais que defendo como cristão. Sou de esquerda e cristão porque é o espaço onde exerço de forma plena tudo que aprendi com o revolucionário de Nazaré: Jesus, o pobre


  


Bastou o anúncio da criação do Núcleo de Evangélicas e Evangélicos do PT aqui na Paraíba, Estado onde moro há 4 meses, para os conservadores e aqueles que se julgam donos e representantes de Deus na Terra vociferarem aos quatro cantos que “é impossível ser crente e de esquerda”. A postagem de uma faixa que usamos no ato do último dia 24, pela Coalizão Evangélica contra Bolsonaro, despertou a fúria de milhares de pessoas num blog famoso aqui da região.

De onde vem tanta fúria? Será que sabem o que dizem? Por que tanto ódio por aqueles que se afirmam “do outro lado” no espectro político e por que tanta violência e virulência nos comentários e ações? Uma vereadora de João Pessoa chegou a gravar um vídeo, também comentado por centenas de pessoas e visto por milhares, onde tripudiava sobre aqueles que se dizem cristãos e de esquerda, segundo ela, “apoiadores do aborto, ‘ideologia de gênero’, e projetos que atacam as escrituras. Nós, cristãos, não queremos ex-presidiários no poder.” Em poucas palavras, a tal vereadora comete uma enxurrada de erros e acusações do senso que a direita quer parecer fazer comum a todos.

É interessante essa manipulação e deturpação do discurso da esquerda por parte dessas pessoas que, incrivelmente, se apresentam como cristãs, mas não medem esforços para disseminação de mentiras, acusações levianas e ainda mais apoiam um governo totalmente distante da lógica evangélica do amor ao próximo e da justiça social, características que deveriam ser marcantes nos seguidores do Cristo.

Sim! Sou cristão e de esquerda, com muito orgulho! Aliás, não consigo imaginar outra posição política exatamente por parte do meu compromisso com o Evangelho. Não consigo imaginar um cristão que não queira uma sociedade mais justa, um Estado verdadeiramente laico (pauta defendida historicamente pelos protestantes), menos violência, direitos plenos a quaisquer cidadãos independente de sua classe, raça, gênero ou orientação sexual.

Não existe e jamais existirá a possibilidade de alguém que se diga cristão apoiar governos genocidas, excludentes, amantes da violência e totalitários. Um cristão que apoia Bolsonaro, por exemplo, ou não entende nada da política do “mito” ou não entende nada da mensagem do Evangelho, porque a junção dos dois é impossível, incabível e uma violência contra a mensagem maior da fé cristã, que é o amor ao próximo!

Sou de esquerda porque encontro nesse espectro político os ideais que defendo como cristão. Sou de esquerda e cristão porque é o espaço político onde exerço de forma mais plena tudo que aprendi com o revolucionário de Nazaré, Jesus, o pobre, o amigo dos excluídos, o “terror de César”, o espinho no pé da proposta desumana e perversa de um império que, por sentir-se assim, mandou crucificá-lo! Sim, Jesus foi um preso político, um “bandido” para os “cidadãos de bem” da época. Fosse em nossos dias, certamente seria chamado de “comunista”, de “petralha”, “defensor de bandidos” e coisas assim… Em nada, repito, em nada, há incoerência entre os ensinos de Jesus e as pautas igualitárias e humanitárias defendidas pela “esquerda” (ou por quaisquer que sejam, pelo menos, humanos).

Quem tem ouvidos, ouça! O amor prevalecerá!

I FOOD E MILÍCIA

 BANDITISMO E GESTÃO DA FORÇA DE TRABALHO

A inovadora parceria entre o iFood e as milícias

por Leo Vinicius Liberato


Considerável parte dos entregadores do iFood, principalmente em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, trabalha sob um sistema jagunço, em que banditismo e gestão da força de trabalho se cruzam 


Talvez você, leitor, tenha conhecimento de parte da realidade de trabalho dos entregadores de aplicativo. É uma categoria de relativa visibilidade. Mas o que será exposto aqui, pela primeira vez, é uma realidade de ameaças a que os entregadores do iFood estão submetidos.

O sempre pertinente Marcio Pochmann, economista e professor da Unicamp, tem batido ultimamente numa tecla. No quadro brasileiro de desindustrialização, características da Velha República retornam, assim como a contribuição da indústria ao PIB nacional retornou ao patamar de 1910. Uma “massa sobrante” cada vez maior depende economicamente das rendas das famílias ricas, quando consegue algo. Segundo Pochmann, em 2019 as três maiores ocupações no Brasil foram o trabalho doméstico, atividades ligadas à segurança privada e entregador. Massa sobrante gerida pelo fanatismo religioso e pelo banditismo, também como na Velha República. Nas suas palavras, vivemos uma guerra civil pelo emprego: “uma guerra civil, de certa maneira, cada vez mais coordenada pelo que denominamos sistema jagunço no Brasil”.1

Não sei até que ponto Marcio Pochmann conhecia ou levou em conta a realidade dos entregadores de aplicativos nesse diagnóstico. O fato é que uma considerável parte dos entregadores do iFood, principalmente em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, trabalha sob um sistema jagunço, em que banditismo e gestão da força de trabalho se cruzam. Ameaças físicas e de morte começariam a se repetir por parte da gestão da força de trabalho do iFood, contra os entregadores grevistas e de maior visibilidade nas mobilizações da categoria. Com funciona esse sistema jagunço?

O iFood possui duas categorias de entregadores, os OL (de Operador Logístico) e os Nuvem. Os Nuvem são aqueles que, a princípio, podem trabalhar quando quiserem e sem chefe. Sistema semelhante ao da concorrência em geral. Já os entregadores OL possuem chefe, de um CNPJ parceiro do iFood, que leva o nome de Operador Logístico. Além de estarem submetidos a um chefe humano, os entregadores OL têm que cumprir jornadas de trabalho diárias, nas quais é comum não conseguirem fazer pausas sequer para se alimentar e urinar, sem nenhum direito trabalhista e previdenciário e sem sequer salário fixo, recebendo apenas o valor das entregas como os Nuvem. Com os entregadores OL, o iFood garante uma determinada força de trabalho faça chuva ou faça sol, sábado ou domingo. É através dos chefes Operadores Logísticos que o iFood montaria seu sistema jagunço, se aproveitando da permissividade que tomou conta do país em matéria de relações trabalhistas. Quando nas relações de trabalho impera o vale-tudo, a gestão pelo gangsterismo floresce.

Como os Operadores Logísticos são ao mesmo tempo pequenos gerentes a serviço do iFood e pequenos patrões que lucram com o trabalho dos entregadores através do repasse que o iFood lhes dá, as greves e mobilizações dos entregadores também atrapalham os ganhos dos Operadores Logísticos. Ainda mais quando os entregadores colocam em pauta a própria existência do sistema OL. E assim o iFood faria uso, mesmo que tacitamente, de um sistema jagunço que pode ameaçar até de morte os entregadores que “incomodam”.

Em 2020, um entregador bastante ativo nas mobilizações em São Paulo sofreu ameaças que o intimidaram a ponto dele se afastar totalmente das tentativas de mobilização e organização da categoria. Ele era Nuvem e havia começado a se posicionar contra o sistema OL. Generalizações sempre erram nas particularidades, mas é possível ouvir de motoboys que os chefes Operadores Logísticos do iFood em São Paulo seriam frequentemente irmãos do conhecido crime organizado que domina as periferias da cidade.


Em 16 de abril de 2021 foi realizada uma paralisação dos entregadores de aplicativo de São Paulo, com grande adesão. Em pauta, melhores taxas e fim dos bloqueios indevidos. Um artista da periferia, alguns dias antes da data marcada, gravou vídeos apoiando a paralisação e a luta dos entregadores. No dia seguinte à paralisação, em um vídeo em que aparece ao lado de quatro pessoas não identificadas, ele realiza uma espécie de “autocrítica”, por ter apoiado a paralisação, digna do Partido Comunista Chinês (PCC). Por falar no PCC, o entregador chinês Mengzhu e quatro companheiros seus foram “desaparecidos” desde que a polícia invadiu suas casas em 25 de fevereiro (e oficialmente presos em abril). Mengzhu é uma destacada liderança entre os entregadores de aplicativo na China e pode ser condenado a cinco anos de prisão.

No Rio de Janeiro os chefes OL do iFood têm ameaçado entregadores que se mobilizam, supostamente com uso da milícia para impedir protestos e piquetes. Neste mês de julho os entregadores do iFood têm se mobilizado no Rio de Janeiro reivindicando principalmente igualdade no recebimento de pedidos entre os entregadores Nuvem e OL. O iFood teria dado preferência à modalidade que é supostamente gerida com participação do crime organizado. Em um áudio vazado, alguém que parece ser um administrador do iFood dá diretivas a um provável Operador Logístico para que constranja os entregadores a não participar da greve marcada para o dia 18 de julho no Rio de Janeiro, e tome as medidas necessárias para impedir ações como piquetes em frente a shoppings centers e restaurantes.

Se as empresas de aplicativo se aproveitam da “viração” como modo de sobrevivência econômica de uma massa da população, o iFood inovou com um sistema de gestão dessa força de trabalho que se aproveitaria do banditismo que se espalha pelas cidades. Enquanto os diretores do iFood abrem sorrisos descolados para falar de inovação, nova economia e “tecnologia”, por trás dessa fantasia a realidade é a do lucro baseado no uso de um sistema de jagunços.

Impedir que se crie mártires é uma questão crucial para todos os trabalhadores, para todos que querem manter o direto de se expressar, reivindicar, brecar. Embora tenhamos que gritar alto para que o mundo todo ouça, não esperemos a sensibilização dos fundos de investimento estrangeiros quando souberem que apoiam uma empresa que faria uso do banditismo para “disciplinar” os trabalhadores.

Cuidar da vida daqueles e daquelas que lutam é cuidar das nossas próprias vidas. É preciso dar um basta no sistema jagunço de Operadores Logísticos. E a luta já começou.