sexta-feira, 23 de junho de 2017

A FALTA QUE ME FAZ UM SOFÁ BRANCO

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Já li o jornal inteirinho. Só negligenciei o caderno dos anúncios. Não pretendo comprar apartamento, cão, mesa de escritório nem geladeira de segunda mão e as negras silhuetas de moças super-avantajadas a preço de brechó tão pouco me seduzirão.

Resta o suplemento “Decoração” onde jovens arquitetos de cavanhaque e senhoras com ar de quem sabe de tudo propõem renovar o visual de meu living, da garagem e do quarto do filho que não tenho. 

Como também não tenho, nem nunca tive, sofá branco com almofadas idem. É nestas páginas que meço o abismo que me separa dos sortudos da vida. Não sou o feliz proprietário de um home-theater. Aliás, ultimamente, deixei de encontrar a mínima referência a esta sala tão essencial aos colunistas dos anos 90. Acho que está fora de moda. 
“Out”. 

Hoje, o que as propagandas de loft “Pronto para morar” em condomínios verticais evidenciam é o varandão gourmet. Isso sim é o must da atualidade. Como nunca fui convidado a curtir estes sofisticados almoços – não sou soçaite -  fico a imaginar que iguarias jamais encontradas nas Perinis, nem aquelas dos tempos áureos, antes de caírem em mãos chilenas, o maestro ou a fada servirá aos “happy-few”. 

Curiosidades assaltam minha careca. Que tipo de música acompanharia tão nababescas regalias? Uma Nina Simone? Um Frank Sinatra? Sim porque pagode e Ângela Maria só servem para churrasco de gato em fundo de quintal.


Ouço relatos a respeito das chiquérrimas feiras que reúnem projetos de decoradores bem atualizados. Nestes tempos bicudos de economia agonizante, tem que haver televisão plasma em cada quarto, cada sala. Talvez até em cada parede para evitar o torcicolo ao virar a cabeça quando aparece Ana-Maria Brega. 

O cúmulo do requinte é colocar em espaço ocioso, um metro ou até dois de livros ricamente encadernados. Livros são sempre bem-vindos, pois contribuem a compor qualquer tipo de decoração. Ah! Ia esquecer o orixá de lata no sofá-table...

Um comentário:

  1. Ou seja, o novo (brega) rico, inculto e idiota, cultua inutilidades que, na maioria das vezes, nem sabe para que é que serve. Prefiro minha sala de almoço ao ar livre embaixo de uma frondosa masaranduba da praia às, cheias de frescuras e inutilidades, varandas gourmet deles.

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