'Lava Jato não muda o país, mas é primeiro passo', diz Deltan em evento com empresários.
por Rebeca Menezes
O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, falou sobre as investigações e sobre a luta contra a corrupção durante palestra na Expert XP 2017, evento da XP Investimentos, que reuniu cerca de 8 mil empresários e investidores do mercado financeiro.
No discurso, feito nesta quinta-feira (22) em São Paulo, o investigador relembrou o início dos processos de descoberta sobre casos de corrupção na Petrobras e sobre os passos que o grupo seguiu para fortalecer a operação tanto interna quanto externamente.
Segundo Dallagnol, ele tinha diversas razões para não integrar a força-tarefa: "A minha vida é muito parecida com a vida do país em um aspecto: a minha vida é de fracassos na luta contra a corrupção". Mesmo assim, decidiu participar das investigações, que tiveram como “motor propulsor” as delações de executivos, operadores e demais envolvidos.
O procurador relembrou que antes da Lava Jato, poucas pessoas foram presas por corrupção no Brasil. Como exemplo, ele lembrou do caso do Banestado, em que participou: foram mais de 600 pessoas por crimes graves, mas apenas pouco mais de 10 foram condenados - os delatores.
Outro caso que chamou a atenção foi o escândalo conhecido como “Marka-FonteCindam”, em que ex-diretores do Banco Central, durante o governo de Fernando Henrique, e o banco FonteCindam teriam sido beneficiados com a venda de dólares por valor mais barato que o preço de mercado, causando prejuízos bilionários aos cofres públicos. "’Marka e FonteCindam’ foi responsável pelo desvio de mais de R$ 1 bilhão dos cofres públicos. Esse escândalo aconteceu antes dos anos 2000, aconteceu lá pela década de 1990. E, nesse escândalo, das várias pessoas envolvidas, só um foi punido, porque fugiu", lembrou, sob risos dos presentes.
Para Deltan, a corrupção vende uma ilusão de república, já que "grande parte da elite política e da elite econômica se uniram para trocar benefícios mútuos". "No mar de candidatos, que na última eleição foram mais de 500 mil, quem ganha é quem desponta mais. Quem desponta mais é quem gasta mais. E quem gasta mais, não raro, é quem rouba mais”, avaliou. Mesmo assim, ele comemora os resultados “nunca vistos” que foram obtidos pela força-tarefa.
Somente em Curitiba foram acusadas criminalmente mais de 280 pessoas por crimes como corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Seis ex-parlamentares condenados e presos, sendo um deles ex-presidente da Câmara dos Deputados. Estão sob investigação, apenas com base na delação dos executivos da Odebrecht, mais de 400 políticos de 26 partidos, incluindo quase um terço dos senadores, quase um terço dos ministros de Estado e quase metade dos governadores. Foram recuperados mais de R$ 10 bilhões aos cofres públicos.
Após apresentar os números, o procurador questionou a plateia: "A Lava Jato e seus números vencem a corrupção? Nós teremos um antes e um depois da Lava Jato? A Lava Jato muda o nosso país?". Depois da maioria responder que mudaria, Deltan reforçou que somente as investigações não são suficientes. "Na minha perspectiva, infelizmente, a Lava Jato não muda o país. A Lava Jato é um primeiro passo. Se nós queremos mudar o país, precisamos dar outros passos. Não basta tirar as maçãs podres do cesto. Se você quer que aquele cesto de maçã fique sadio, você precisa mudar as condições de temperatura, de umidade, de luz, de pressão que fazem aquelas maçãs apodrecerem. Nós temos condições no nosso sistema político e nosso sistema de justiça criminal que fazem não só com que o crime compense, mas que fazem com que o crime seja a melhor opção dentro do sistema político”, concluiu.
Em diversos momentos da palestra, Dallagnol foi aplaudido de pé pelos empresários.
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