O TRECHO MAIS COMOVENTE...
... DA ÚLTIMA ENTREVISTA DE
CASTRO ALVES
O Senhor está começando a ser chamado “O poeta dos escravos”. Como se sente?
Eu me orgulho do epíteto. Estou, inclusive, na fase final de negociações para a impressão de meu livro Os escravos, que até o final do ano será publicado. A escravidão é uma das mazelas, talvez a mais horrenda, que devemos combater em prol da liberdade. É certo que, desde 1850, instituíram-se pesadas penas para o tráfico negreiro, já abolido pela legislatura de 31, mas ainda vigente. Há dois anos foi proibida a venda de seres humanos em pregão público e até o fim deste ano - não sei se o Senhor sabe - será votada a Lei do Ventre Livre. Mas é pouco. Muito pouco.
Sempre fui devotado às causas sociais. Fundei, com Rui Barbosa - meu antigo colega do Ginásio Baiano - e outros alunos da Faculdade de Direito, a Sociedade Abolicionista do Recife. Esse pendor abolicionista vem do berço. Lembro de papai a reclamar, sempre, do tratamento cruel que era dado ao negro. O amor que eu tive e tenho pela minha bá, que já se foi, a negra Leopoldina, minha ama de leite, minha segunda mãe, a me contar as histórias de senzalas, mucamas e amores proibidos... O meu tio, o alferes João José, herói da Guerra do Paraguai, brincando comigo de cavalinho, montado em seus joelhos, dizendo-me: “A liberdade, filho, é o maior bem do mundo”. Ah! Como essas coisas ainda me comovem...
Ser chamado de “poeta dos escravos” é uma honra. Acho, porém, que não diz tudo; sempre quis ser “O poeta da Liberdade”. E para mim, Abolição e República são palavras quase irmãs: uma puxa a outra, naturalmente. Tanto que, em paralelo à minha luta pela libertação dos escravos, participei também de alguns comícios republicanos. Lembro-me bem de um deles, dissolvido pela polícia, quando criei de improviso os versos de “O povo ao poder” (nesse momento o poeta abre um sorriso e levanta-se, com esforço, da cadeira de balanço austríaca). A segunda estrofe desse poema começa com dois versos que agitaram a multidão, aos gritos e assobios (o poeta de pé, com a voz já rouca e entrecortada por um pigarro renitente):
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu...
(um acesso de tosse interrompe a fala; ele se senta novamente, e com dificuldade termina a estrofe)
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.
ACABO DE RECEBER E-MAIL DE CONSUELO PONDÉ DE SENA, PRESIDENTE DO INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA SOBRE A SUPOSTA MULATICE DO POETA DOS ESCRAVOS:
"Embora ainda adoentada , sem muita disposição para sentar ao computador e manter longas conversas , quero agradecer-lhe o texto sobre Castro Alves , de excelente qualidade , salvo que no que se refere à, suposta , mulatice do poeta . Não sei quem começou a veicular essa informaçãoequivocada , que vem sendo espalhada por uns e por outros.
Como o IGHB mantém , como relíquia , uma mecha do cabelo de Cecèu , retirado da sua linda cabeça , logo após ter expirado, por sua irmã Adelaide ( Sinhá) , posso sustentar que a informação contida no seu texto não procede.
Ele era neto materno , sim, de Ana Viegas ( cigana) , conforme Anfrisía santiago recolheu nos livros de batismo da Igreja de Santo Antõnio Além do Carmo.
Sua mãe , D Clélia Brasília , ( do poeta ) era filha do Major Silva Castro ( O Periquitão ) com essa senhora ( era filha bastarda) .
De Castro Alves entendo , porque meu nome foi dado por conta do seu lindo poema Consuelo e , desde menina,por influência de meu pai e de minha Mestra Anfrísia Santiago , estudo a sua ( dele) vida .
Desculpe ter-me intrometido , mas esta é a versão real . Meu pai conheceu e visitou , várias vezes , D.Addelaide , viúva do grande jornalista Augusto Álvares Guimarães , o maior amigo de Castro Alves.
Grande abraço de Consuelo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário