Ruy Castro
É de se perguntar quantos dedos ou orelhas não teria a dita senhora ou quantos anos levaria para desfrutar aquilo tudo, à média de uma peça por dia. Um recém-chegado de Júpiter, desinformado sobre nossos políticos, talvez enxergasse uma grande paixão nesse tesouro de Ali Babá que Cabral despejou sobre madame.
Nos anos 60, falou-se isso do ator Richard Burton, que cumulava de joias Elizabeth Taylor, a ponto de os fotógrafos já dispensarem os flashes para fotografá-la, tantos os pingentes, colares e tiaras brilhando em sua cabeça. As elites europeias viam naquilo uma grande cafonice, mas Burton presenteava sua mulher com seu dinheiro.
Sérgio Cabral exercia sua cafonice com nosso dinheiro. Idas quinzenais a Londres ou Paris, lautos rega-bofes com os sócios, conta-corrente em alfaiates da nobreza e, na volta ao Rio, sempre vergado ao peso de tantas malas —tudo isso traía o jeca, o deslumbrado, incapaz de habituar-se ao dinheiro que passou a entrar-lhe às fábulas, subtraído dos investimentos contratados pelo Estado.
Das joias compradas por Cabral para Ancelmo, só 40 foram localizadas até agora. Onde estão as outras? Em segredo? Mas não há segredo. Estão em todos os contratos feitos com renúncia fiscal, no dinheiro que deixou de entrar em troca da propina e nas benesses para amigos à custa dos cariocas e fluminenses que confiaram nele. O valor total é o da quebradeira do Rio. As joias não passam de uma reles lavanderia de 18 quilates.
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